segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Peru optando pelos piores

Antes que ficasse oficializado o desastre eleitoral no Peru, com Ollanta Humala e Keiko Fujimori no segundo turno das eleições para presidente, o escritor Mario Vargas Llosa dizia que escolher entre os dois numa eleição equivaleria a optar entre a AIDS e o câncer.

A imagem pode parecer forte, mas depois de uma avaliação do que representam as duas opções que o eleitor peruano tem para colocar na cadeira de presidente, pode-se até chegar à conclusão de que o Prêmio Nobel de Literatura não está fazendo nenhuma comparação fantástica. É puro realismo.

Não é raro que o segundo turno acabe exigindo do eleitor o exercício do chamado voto útil, mas os peruanos vão ter dificuldade para encontrar algo de útil nesse confronto.

Ollanta Humala é um político da velha tradição caudilhesca da América Latina. Não à toa, seu ídolo máximo tem sido o presidente venezuelano Hugo Chávez. Nesta eleição, para fugir da alta rejeição que Chávez tem no Peru e se aproximar da imagem de Lula, que é mais bem avaliado entre os peruanos, Humala tem afirmado que na presidência seguirá o modelo lulista.

Para evitar perder o eleitorado conservador o candidato também passou a campanha gritando em comícios que é contra o aborto. Ou seja, é outro que faz qualquer coisa para ganhar uma eleição. E não estou fazendo crítica indireta para este ou aquele candidato brasileiro, até porque no Brasil tanto José Serra quanto Dilma Rousseff fizeram este papelão.

Já Keiko Fujimori é uma candidata que se conhece bem pelo sobrenome. Sua história política tem muito de patético. Keiko passou a ser conhecida depois que foi escolhida pelo pai, Alberto Fujimori, para ser a primeira-dama quando ele foi eleito presidente do Peru. Fujimori estava separado da mãe de Keiko.

Atualmente Fujimori está preso por corrupção e crimes contra a humanidade. E a história de filha só não é engraçada porque também é cercada de corrupção e crimes. Ela deve em boa parte a ida para o segundo turno à herança política do pai criminoso, um modelo que ela pretende reeditar se for eleita. Até os estudos de Keiko em Boston, nos Estados Unidos, teriam sido pagos com dinheiro público.

Vi uma entrevista sua a um canal de televisão peruano. Quando o apresentador pergunta sobre sua experiência prática na política, ela cita projetos assistencialistas do tempo em que foi primeira-dama do próprio pai. E a gente ainda reclama do nosso poste, não é mesmo?

De um lado, um caudilho parceiro do venezuelano Chávez e inimigo da liberdade de expressão. Do outro, uma herdeira literal do fujimorismo, cuja vitória, segundo Vargas Llosa, significaria abrir as cadeias para todos os ladrões, assassinos e torturadores, começando por seu pai, Alberto Fujimori.

O caminho escolhido pelos peruanos é ainda mais pesaroso pelo fato de só agora o país estar se recuperando de outra má-escolha histórica feita em 1990, quando Alberto Fujimori foi eleito presidente. E na época, o eleitor peruano tinha Vargas Llosa como opção para presidente. Bem, está aí mais um país que não aprende com os próprios erros.

Ainda falando sobre o resultado eleitoral de hoje, na mesma entrevista em que expressava o temor de que os peruanos acabassem tendo que optar entre a AIDS e o câncer Vargas Llosa falou também sobre o qual pode ser o desfecho de uma situação dessas.

Fazendo menção a uma frase de Conversa na Catedral, um romance seu muito conhecido, o escritor disse o que pode acontecer com seu país. Vai em espanhol mesmo, pois dá para entender muito bem: “Hay la posibilidad de que ahora se joda bien”.
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POR José Pires

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