E finalmente Marina Silva saiu do Partido Verde, o PV brasileiro, que nessas plagas tupiniquins é da mesma fisiologia que qualquer partideco de aluguel que o governo petista ou qualquer outro governo compra com emendas orçamentárias ou um mensalão. Digo finalmente em razão da enrolação do processo de saída e deixando pra lá a rapidez de sua estada no partido, que é um recorde ao contrário: ficou menos de dois anos no PV.
Mas Marina está ficando esperta. Desta vez demorou bem menos tempo do que teve no PT para perceber que estava em um partido inadequado para qualquer atividade que implique em decência. No PT foi preciso mais de duas décadas para que a agora sem partido sentisse nas narinas o odor que empesteava todo o país desde que Lula se elegeu presidente e ela foi trabalhar com ele.
Sei bem que nos dois casos a saída de Marina não teve outro motivo senão a ambição pessoal. Mensalão, propinas e até destruição ambiental movida por um presidente megalomaníaco e ignorante sobre qualquer processo moderno em política ou administração, nada disso contou para a saída do PT para o PV. Se Lula indicasse o dedo em sua direção na decisão da candidatura presidencial petista a história seria outra.
Mas a enrolação continua. Marina ainda não sabe onde vai, ou melhor, aonde vai, pois sua impermanência dela não parece ser apenas uma questão de destino físico.
Deve ser duro gravitar em torno de um líder desse tipo. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, também é um desses que acredita que partido bom é aquele no qual seu interesse é privilegiado, mas pelo menos saiu do DEM já com destino certo, seu partido 171 que permite ao político ser tudo, oposição ou situação, e até mesmo sair do partido na hora que o freguês quiser.
Mas é intrigante o que passava pela cabeça de Marina quando ela embicou para o PV, um partido de notória falta de vergonha, sigla que se vende por carguinhos pelo Brasil e mesmo no governo em que Marina foi ministra do Meio Ambiente por quase dois mandatos inteiros.
Se Marina imaginava que ao chegar num ambiente desses todos os caciques se levantariam para ela ocupar o lugar, então graças a Deus (em homenagem à Marina uma ecologista evangélica) que ela não foi eleita presidente. Com esta postura, digamos assim e digamos aspado, “ingênua”, se ganhasse a eleição Marina estaria governando da mesma forma que Dilma Rousseff, tendo que comportar partido com cargos e emendas orçamentárias. Pelo que se vê, para governar Marina teria que comprar até o seu PV.
Outra questão são os verdes hoje indignados, entre eles Fernando Gabeira, que ao menos em tese estão com ela na revolta com os métodos dos caciques do PV. Que diacho de lideranças políticas são essas que querem consertar o mundo, mas têm dificuldades em fazer política interna para dar a um partido um rumo decente?
Marina está saindo do PV com apenas um deputado federal, Alfredo Sirkis, do Rio de Janeiro, que estava no partido desde que ele foi fundado. Fernando Gabeira fica no PV, apesar de ter buscado belas palavras para companheira que sai. Sirkis é aquele deputado que na votação do Código Florestal na Câmara gritava “traidor” para Aldo Rebelo, o que mostra que não é só o PV que ele não compreendia por dentro. Se Sirkis se decepcionou com Rebelo, ele nada sabe também do PCdoB ou de qualquer outro partido brasileiro.
Mas Marina segue praticamente só e imaginando que os mais de 20 milhões de votos que recebeu na última eleição são um patrimônio pessoal intransferível. Se estiver com isso na cachola, vai sofrer ainda mais do que com a decepção que teve com os caciques verdes.
Esta imagem da solidão acompanhada pelo deputado Sirkis dá uma coceira que traz à cabeça uma metáfora vagabunda que vou dispensar. O grande Quixote não merece isso. Ele não entrava em qualquer moinho. E um Quixote precisa de companheiros senão mais gordos, mas pelo menos mais honestos. Porém, Marina podia aproveitar este interregno na sua carreira até a presidência para conversar com o companheiro Sirkis sobre questões de governabilidade, a dignidade do Congresso, essas coisas.
Sei que é difícil para quem faz política temática perceber a amplidão de eventos que desembocam também na política ecológica. Em meses de crise nuclear em Fukushima, a própria Marina não produziu sequer um artigo de jornal sobre a questão. E quando ela foi ministra o governo do PT decidiu implantar mais quatro usinas nucleares por aqui. Mas enquanto Fukushima explodia, ela andava metida nas questões internas do PV. A candidata de sempre só foi acordar na votação do Código Florestal.
Porém, repito que seria bom ela conversar bastante com seu único deputado sobre questões da governabilidade.
Para adiantar o papo, já vou informando que o deputado Sirkis votou favorável ao Regime Diferenciado de Contratações, o RDC de Dilma que passa feito por um trator por cima da Lei de Licitações e instala uma farra de políticos e empreiteiros nas obras da Copa e das Olimpíadas. É um trator preparado inclusive para passar por cima de florestas.
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POR José Pires
Mas Marina está ficando esperta. Desta vez demorou bem menos tempo do que teve no PT para perceber que estava em um partido inadequado para qualquer atividade que implique em decência. No PT foi preciso mais de duas décadas para que a agora sem partido sentisse nas narinas o odor que empesteava todo o país desde que Lula se elegeu presidente e ela foi trabalhar com ele.
Sei bem que nos dois casos a saída de Marina não teve outro motivo senão a ambição pessoal. Mensalão, propinas e até destruição ambiental movida por um presidente megalomaníaco e ignorante sobre qualquer processo moderno em política ou administração, nada disso contou para a saída do PT para o PV. Se Lula indicasse o dedo em sua direção na decisão da candidatura presidencial petista a história seria outra.
Mas a enrolação continua. Marina ainda não sabe onde vai, ou melhor, aonde vai, pois sua impermanência dela não parece ser apenas uma questão de destino físico.
Deve ser duro gravitar em torno de um líder desse tipo. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, também é um desses que acredita que partido bom é aquele no qual seu interesse é privilegiado, mas pelo menos saiu do DEM já com destino certo, seu partido 171 que permite ao político ser tudo, oposição ou situação, e até mesmo sair do partido na hora que o freguês quiser.
Mas é intrigante o que passava pela cabeça de Marina quando ela embicou para o PV, um partido de notória falta de vergonha, sigla que se vende por carguinhos pelo Brasil e mesmo no governo em que Marina foi ministra do Meio Ambiente por quase dois mandatos inteiros.
Se Marina imaginava que ao chegar num ambiente desses todos os caciques se levantariam para ela ocupar o lugar, então graças a Deus (em homenagem à Marina uma ecologista evangélica) que ela não foi eleita presidente. Com esta postura, digamos assim e digamos aspado, “ingênua”, se ganhasse a eleição Marina estaria governando da mesma forma que Dilma Rousseff, tendo que comportar partido com cargos e emendas orçamentárias. Pelo que se vê, para governar Marina teria que comprar até o seu PV.
Outra questão são os verdes hoje indignados, entre eles Fernando Gabeira, que ao menos em tese estão com ela na revolta com os métodos dos caciques do PV. Que diacho de lideranças políticas são essas que querem consertar o mundo, mas têm dificuldades em fazer política interna para dar a um partido um rumo decente?
Marina está saindo do PV com apenas um deputado federal, Alfredo Sirkis, do Rio de Janeiro, que estava no partido desde que ele foi fundado. Fernando Gabeira fica no PV, apesar de ter buscado belas palavras para companheira que sai. Sirkis é aquele deputado que na votação do Código Florestal na Câmara gritava “traidor” para Aldo Rebelo, o que mostra que não é só o PV que ele não compreendia por dentro. Se Sirkis se decepcionou com Rebelo, ele nada sabe também do PCdoB ou de qualquer outro partido brasileiro.
Mas Marina segue praticamente só e imaginando que os mais de 20 milhões de votos que recebeu na última eleição são um patrimônio pessoal intransferível. Se estiver com isso na cachola, vai sofrer ainda mais do que com a decepção que teve com os caciques verdes.
Esta imagem da solidão acompanhada pelo deputado Sirkis dá uma coceira que traz à cabeça uma metáfora vagabunda que vou dispensar. O grande Quixote não merece isso. Ele não entrava em qualquer moinho. E um Quixote precisa de companheiros senão mais gordos, mas pelo menos mais honestos. Porém, Marina podia aproveitar este interregno na sua carreira até a presidência para conversar com o companheiro Sirkis sobre questões de governabilidade, a dignidade do Congresso, essas coisas.
Sei que é difícil para quem faz política temática perceber a amplidão de eventos que desembocam também na política ecológica. Em meses de crise nuclear em Fukushima, a própria Marina não produziu sequer um artigo de jornal sobre a questão. E quando ela foi ministra o governo do PT decidiu implantar mais quatro usinas nucleares por aqui. Mas enquanto Fukushima explodia, ela andava metida nas questões internas do PV. A candidata de sempre só foi acordar na votação do Código Florestal.
Porém, repito que seria bom ela conversar bastante com seu único deputado sobre questões da governabilidade.
Para adiantar o papo, já vou informando que o deputado Sirkis votou favorável ao Regime Diferenciado de Contratações, o RDC de Dilma que passa feito por um trator por cima da Lei de Licitações e instala uma farra de políticos e empreiteiros nas obras da Copa e das Olimpíadas. É um trator preparado inclusive para passar por cima de florestas.
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POR José Pires
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