Kadhafi foi morto e seus filhos capturados. O ex-ditador terminou daquele jeito que pudemos ver em imagens na internet. Percebo em alguns blogs uma estranha indignação com as cenas, alguns falam até em "linchamento", mas sinceramente não é o que aquelas imagens mostram. Podemos até saber mais para diante que fizeram barbaridades, mas nas cenas que foram divulgadas não dá para perceber linchamento algum. O que se vê é Kadhafi muito ferido sendo levado em meio à turba que, cá pra nós, até se comporta com certa ordem, levando em conta que aquilo é uma guerra civil.
Num caso assim é besteira colocar ideologia no primeiro plano. Até se for o caso de agir por ideologia, essa é uma circunstância que exige atenção mais aos fatos. E o que se vê nas imagens é um Kadhafi que parece muito ferido, mas que está sendo conduzido sem violência aparente para algum lugar.
Menos hipocrisia, meus senhores. Em muitos bairros brasileiros, inclusive de grandes cidades, Kadhafi seria morto à pauladas apenas pela suspeita do roubo de um par de tênis. E também é praticamente impossível que seja feito com o ex-ditador algo pior do que ele fez com vários opositores de seu governo.
É claro que não estou propondo que relação alguma seja no olho por olho e dente por dente. Mas é tolice ou má-fé esperar que no meio de uma guerra civil seja obedecida qualquer outra regra que não seja a de eliminar o inimigo. E não se pode esquecer que foi o próprio Kadhafi quem criou durante 40 anos as condições desumanas da sua própria morte. É uma situação que provavelmente seria vista com pragmatismo até pelo espírito elevado como o de um John Doone, que escreveu aquele maravilhoso poema em que diz que "a morte de qualquer homem me diminui"
É sempre bom desconfiar de qualquer analista político que venha com sentimentalismo na análise de fatos como os que ocorrem na Líbia ou evoque códigos internacionais de relação entre Estados ou respeito aos direitos humanos onde os comportamentos são tribais.
Isso tem sido feito bastante em certos blogs e alguns sites, à esquerda e à direita. É interessante ver como um caso como este acaba juntando lados políticos que no Brasil se pegam ferozmente em outras questões. E o alvo não é outro que não Barack Obama, que fez o prodígio de juntar direita e esquerda no Brasil.
À direita a desventura de Kadhafi é usada para atacar Obama e buscar favorecer o partido Republicano, pois o Brasil tem até malucos, alguns malucos até muito bem capacitados, que torcem pelo partido de Bush, Reagan e Nixon. E à esquerda Kadhafi serve também para requentar conceitos de Guerra Fria, mesmo que hoje em dia falte o lado comunista para dar base a este estranho pensamento.
A queda de Kadhafi criou uma incoerência (mais uma, eu sei) no pensamento de esquerda no Brasil. As insurreições populares lá por aqueles lados são sempre vistas como um avanço no mínimo democrático, mudanças que alguns até reputam como um rumo revolucionário para o mundo. Foi assim no Egito, onde teve gente que viu até um avanço para os direitos das mulheres. Isso até aquela jornalista americana ser estuprada pela multidão de "revolucionários".
Tem gente que vê nesses acontecimentos até uma derrocada do capitalismo, o que é um monumental exagero. Para derrubar o capitalismo em muitos países do Oriente Médio e África primeiro seria preciso implantá-lo.
Mas sobre a Líbia a visão é outra e ela não permite ver em suas brigas internas que acabaram por derrubar o regime nada que não seja só do interesse de grandes potências. É um olhar estranho: na Líbia só se vê trevas, já nos países vizinhos qualquer bando armado é um sinal de luz.
Mas, voltando ao final do regime de Kadhafi, uma olhada no mapa da Líbia que mostra por onde ele passou e onde finalmente teve seu fim, é espantoso perceber que ele não tinha para onde correr. A Argélia tem uma imensa fronteira com a Líbia, mas o ex-ditador não seria de forma alguma acolhido por lá. No vizinho Egito, então, nem pensar. É bem difícil encontrar quem acolha um homem que tem a França e (pior) os Estados Unidos como inimigos. Sempre fica na lembrança que Obama mandou pegar Bin Laden dentro de seu refúgio no Paquistão.
Nem países como o Brasil, cujo presidente dizia que Kadhafi era seu "irmão, amigo e líder". Lula disse isso na própria Líbia durante reunião da Cúpula da União Africana em julho de 2009. Pouco mais de dois anos depois Kadhafi foi morto do jeito que todos vimos.
E ninguém vai perguntar para Lula e até para Dilma Rousseff porque o governo petista não ofereceu asilo para Kadhafi, até mandando buscar de aerolula o ex-ditador caído em desgraça? Não que eu quisesse Kadhafi pegando um sol em alguma praia brasileira como faz o terrorista Battisti, mas uma pergunta dessas é o mínimo que se pede para aferir a qualidade da revolucionária diplomacia petista que tinha o ex-ditador líbio como "amigo, irmão e líder".
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POR José Pires
Num caso assim é besteira colocar ideologia no primeiro plano. Até se for o caso de agir por ideologia, essa é uma circunstância que exige atenção mais aos fatos. E o que se vê nas imagens é um Kadhafi que parece muito ferido, mas que está sendo conduzido sem violência aparente para algum lugar.
Menos hipocrisia, meus senhores. Em muitos bairros brasileiros, inclusive de grandes cidades, Kadhafi seria morto à pauladas apenas pela suspeita do roubo de um par de tênis. E também é praticamente impossível que seja feito com o ex-ditador algo pior do que ele fez com vários opositores de seu governo.
É claro que não estou propondo que relação alguma seja no olho por olho e dente por dente. Mas é tolice ou má-fé esperar que no meio de uma guerra civil seja obedecida qualquer outra regra que não seja a de eliminar o inimigo. E não se pode esquecer que foi o próprio Kadhafi quem criou durante 40 anos as condições desumanas da sua própria morte. É uma situação que provavelmente seria vista com pragmatismo até pelo espírito elevado como o de um John Doone, que escreveu aquele maravilhoso poema em que diz que "a morte de qualquer homem me diminui"
É sempre bom desconfiar de qualquer analista político que venha com sentimentalismo na análise de fatos como os que ocorrem na Líbia ou evoque códigos internacionais de relação entre Estados ou respeito aos direitos humanos onde os comportamentos são tribais.
Isso tem sido feito bastante em certos blogs e alguns sites, à esquerda e à direita. É interessante ver como um caso como este acaba juntando lados políticos que no Brasil se pegam ferozmente em outras questões. E o alvo não é outro que não Barack Obama, que fez o prodígio de juntar direita e esquerda no Brasil.
À direita a desventura de Kadhafi é usada para atacar Obama e buscar favorecer o partido Republicano, pois o Brasil tem até malucos, alguns malucos até muito bem capacitados, que torcem pelo partido de Bush, Reagan e Nixon. E à esquerda Kadhafi serve também para requentar conceitos de Guerra Fria, mesmo que hoje em dia falte o lado comunista para dar base a este estranho pensamento.
A queda de Kadhafi criou uma incoerência (mais uma, eu sei) no pensamento de esquerda no Brasil. As insurreições populares lá por aqueles lados são sempre vistas como um avanço no mínimo democrático, mudanças que alguns até reputam como um rumo revolucionário para o mundo. Foi assim no Egito, onde teve gente que viu até um avanço para os direitos das mulheres. Isso até aquela jornalista americana ser estuprada pela multidão de "revolucionários".
Tem gente que vê nesses acontecimentos até uma derrocada do capitalismo, o que é um monumental exagero. Para derrubar o capitalismo em muitos países do Oriente Médio e África primeiro seria preciso implantá-lo.
Mas sobre a Líbia a visão é outra e ela não permite ver em suas brigas internas que acabaram por derrubar o regime nada que não seja só do interesse de grandes potências. É um olhar estranho: na Líbia só se vê trevas, já nos países vizinhos qualquer bando armado é um sinal de luz.
Mas, voltando ao final do regime de Kadhafi, uma olhada no mapa da Líbia que mostra por onde ele passou e onde finalmente teve seu fim, é espantoso perceber que ele não tinha para onde correr. A Argélia tem uma imensa fronteira com a Líbia, mas o ex-ditador não seria de forma alguma acolhido por lá. No vizinho Egito, então, nem pensar. É bem difícil encontrar quem acolha um homem que tem a França e (pior) os Estados Unidos como inimigos. Sempre fica na lembrança que Obama mandou pegar Bin Laden dentro de seu refúgio no Paquistão.
Nem países como o Brasil, cujo presidente dizia que Kadhafi era seu "irmão, amigo e líder". Lula disse isso na própria Líbia durante reunião da Cúpula da União Africana em julho de 2009. Pouco mais de dois anos depois Kadhafi foi morto do jeito que todos vimos.
E ninguém vai perguntar para Lula e até para Dilma Rousseff porque o governo petista não ofereceu asilo para Kadhafi, até mandando buscar de aerolula o ex-ditador caído em desgraça? Não que eu quisesse Kadhafi pegando um sol em alguma praia brasileira como faz o terrorista Battisti, mas uma pergunta dessas é o mínimo que se pede para aferir a qualidade da revolucionária diplomacia petista que tinha o ex-ditador líbio como "amigo, irmão e líder".
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POR José Pires
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