As conversas entre Sérgio Machado, Romero Jucá, José Sarney e Renan Calheiros são exatamente o que parece. É conversa de bandidos, no mesmo estilo dos áudios liberados pela Justiça em que o ex-presidente Lula fala no tom de chefe de quadrilha. Falando nisso, em delação premiada o ex-deputado Pedro Corrêa afirma que era mesmo Lula o chefe do esquema de roubos na Petrobras. Segundo ele, o chefão petista cuidava pessoalmente do esquema. A revista Veja desta semana publica matéria feita a partir do acesso aos 72 anexos da delação do ex-deputado. Num dos trechos, Corrêa fala da reação de Lula quando políticos do PP reclamaram contra o avanço do PMDB nos contratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada por Paulo Roberto Costa, onde se tirava muito dinheiro.
De acordo com o depoimento de Corrêa, Lula passou uma descompostura nos deputados que foram ao Palácio do Planalto reclamar. O então presidente da República disse que eles "estavam com as burras cheias de dinheiro" e que a diretoria era "muito grande" e tinha de "atender os outros aliados, pois o orçamento" era "muito grande" e a diretoria era "capaz de atender todo mundo". Lula também garantiu aos caciques pepistas que "a maior parte das comissões seria do PP, dono da indicação do Paulinho". Como eu disse, é conversa de bandido. Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney tocam suas carreiras há muitos anos do jeito que agora podemos ouvir nas gravações. Fazem isso desde o tempo em que Lula, na oposição, xingava todos de ladrões. Depois, no poder, Lula deixou pra lá as criticas que fazia à velha forma de fazer política e ainda chamou para o lado dele os velhos caciques.
Porém, eles não contavam com a reação de uma parte considerável de brasileiros mais conscientes, além do surgimento de um juiz decente como Sérgio Moro pegar um caso que parecia menor e descobrir a partir disso a maior rede de corrupção que já existiu na história deste país. Em todas as gravações destaca-se o medo que os corruptos têm da Operação Lava Jato. Foi em razão desse apavoramento que, numa das conversas vazadas, Sarney disse uma frase típica de corrupto acuado: "A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas". De ditadura, o ex-presidente entende bastante e até gostou muito da última que tivemos no país, mas no caso de agora é uma confusão dele. E claro que o problema é de ponto de vista. Se ele não estivesse situado no lado oposto da ética, veria que isso é só a Justiça funcionando. Ocorre que houve uma transformação que pegou de surpresa tipos como ele, inviabilizando métodos antigos de oligarquias manterem a impunidade. Uma frase do próprio Sarney nos áudios sintetiza bem essa diferença. Comentando sobre políticos que teriam pedido seus conselhos para se safar da encrenca, ele falou o seguinte: "Eu ontem disse a um deles que veio aqui. Eu disse: 'Olhe, esqueçam qualquer solução convencional. Esqueçam!'". O velho cacique tem toda a razão, mas para a sorte nossa ele demorou para notar a defasagem.
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POR José Pires
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