Durante muitos anos o PT fez da intimidação uma das ferramentas essenciais de seu crescimento político. Ainda como partido pequeno, no tempo em que abusavam do papel de paladinos da ética, era com espantosa ferocidade que iam na goela dos adversários, com denúncias graves e propostas de incontáveis investigações e CPIs. A mídia aceitava de forma passiva essa estratégia do partido do Lula, repercutindo assuntos levantados de forma leviana pelos petistas, servindo-se inclusive da influência sindicalista no funcionalismo público, que permitia a sindicatos aparelhados o acesso a informações privilegiadas. Os petistas sempre contaram com esta infiltração no serviço público, mesmo de profissionais concursados, prontos a obedecer ordens.
Essa prática suja chegou ser usada até contra uma primeira-dama, a antropóloga e professora Ruth Cardoso, no dossiê criminoso que saiu do Palácio do Planalto durante o governo Lula, em 2008. Na época, Dilma Rousseff era a chefe da Casa Civil de deu padrinho político. Só para constar, a professora faleceu em 24 de junho de 2008, cerca de dois meses depois do vazamento de dados sigilosos. Nunca se ouviu mimimi de tucanos nem de ninguém.
Essa imagem agressiva do PT servia como escudo contra reações dos outros. O partido tocava o terror, buscando intimidar com a ameaça de contra-ataques, nos quais teria especial destaque sua combativa militância, capaz segundo a cúpula partidária de botar o Brasil de cabeça pra baixo. Neste mito, o PT teria uma eficiente malha de ativistas partidários cobrindo o país de norte a sul, uma multidão pronta para entrar em ação a partir de um sinal da liderança. Quem conhece política sempre soube que a ideia dessa diferença do PT em relação aos outros partidos foi sempre uma fraude. O que houve de diferente no PT durou pouco tempo. A partir de um determinado ponto, que vem bem antes do primeiro mandato de Lula, o PT entrou de cabeça no jogo político dos partidos tradicionais, usando muito dinheiro e servindo-se de esquemas ligados a oligarquias políticas, com o uso de caixa 2 e tudo mais de desonesto que pode servir para ganhar eleição.
Mesmo assim, para se safar de suas implicações com a corrupção, Lula sempre soube usar bem o mito de partido orgânico, com militância aguerrida e numericamente superior a de qualquer outra sigla, capaz de temíveis articulações e manifestações populares. Para ele, isso funcionou bem no escândalo do mensalão, quando a perspectiva de despertar o furor da militância vermelha serviu para evitar que seu nome fosse parar na lista de condenados.
Surpreendentemente, o blefe vinha tendo efeito também no escândalo do petrolão. Este artifício vinha funcionando até há pouco tempo, com Lula inclusive reforçando o clima de intimidação, com alusões ao “exército de Stédile” e outras ameaças de represálias, caso ele fosse atingido pela onda ética desenvolvida pela Operação Lava Jato. O problema é que neste ponto o PT já havia incorrido em um erro sério. O próprio partido encarregou-se de romper na prática a ilusão de força e mobilização que causava tanto medo.
Sabe-se que Lula não é dado a leituras, mas em torno dele sempre houve muita gente estudada, o que torna espantoso o erro. Na política o poder se estabelece mais pela condição psicológica da força do que pelo seu uso. De várias formas, esta lição vem de vários pensadores, especialmente de um dos maiores, o grande Maquiavel. Quando o partido de Lula resolveu mostrar do que era capaz em mobilização popular, deixou muito claro aquilo que algumas pessoas já sabiam: neste aspecto eles não eram de nada.
Os petistas já deviam ter tomado consciência da inconveniência dessa demonstração de força desde junho de 2013, quando a esquerda foi para as ruas, com jovens tomados de um esquerdismo já diagnosticado por nada mais nada menos que Lênin, como “doença infantil do comunismo”. A estupidez deu uma boa pista à oposição, que resultou nas impressionantes manifestações verde-amarelas, aí sim com a massa tomando conta das ruas de todo o país.
Um pouco antes de sua prisão, as últimas bravatas de Lula e de companheiros que sobraram a seu lado, como Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e outros líderes revolucionários de fachada, foram a consumação do desmonte da farsa da militância como um sólido bloco de resistência. A caravana pelo Nordeste e depois no Sul, já foi um plano tremendamente equivocado. A imagem definitiva é a do chefão do PT no circo montado por ele no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, nos braços de militantes profissionais, sendo passado de mão em mão antes de se entregar bêbado para a polícia. O fracassado líder de massa já está no xilindró há 15 dias, com sua prisão devidamente encaixada em um clima que nada tem a ver com a imagem do país em chamas prometido pelo PT.
O vaticínio fraudulento teve até apoio de ministro do STF, o impagável Marco Aurélio Mello nomeado ao cargo pelo primo Fernando Collor, na sua advertência de que haveria um levante no país se Lula fosse preso. Era mais uma desculpa para atar melhor o acordão do qual Marco Aurélio faz parte, mas não é que ele estava certo? Não era bem o que o ministro queria dizer e desejava de coração. Mas houve mesmo um levante. Levantou-se o moral dos brasileiros, com o espírito ético do país ainda mais forte depois da prisão do chefão do maior esquema de corrupção que já existiu neste país.
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POR José Pires
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