quarta-feira, 4 de abril de 2018

Os generais e os atuais idos de abril

Tem gente chamando este 4 de abril de “Dia D”. Apesar da alusão a uma data grandiosa demais para a condição de baixeza moral que envolve este julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula, vá lá, aceitemos a definição. Mas só no sentido da decisão quanto ao destino imediato deste político salafrário que é o chefão do PT. O maioria dos brasileiros torce para que o bom senso se sobreponha aos inconfessáveis interesses de boa parte dos ministros. Que Lula possa, enfim, ser levado para o xilindró. No entanto, ainda que isso ocorra, mesmo assim este STF não estará à altura da sua responsabilidade neste momento atual do Brasil.

De todo jeito, Lula não tem escapatória. Mesmo se for salvo agora com este habeas corpus, ele terá que prestar contas por seus crimes, primeiro desses 12 anos e um mês que tem para cumprir de cadeia, que pode ser resolvido pelo STJ mais adiante se o STF se render ao acordo fechado entre corruptos graúdos. Depois, nos outros processos, alguns mais graves que este do triplex.

Apenas pelo habeas corpus de Lula, hoje até pode ser o “Dia D”, mas as manifestações públicas de generais da ativa, tendo à frente o comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Boas, lembra mais uma expressão que tem a ver com a história recente do Brasil, os “Idos de Março”, muito citada em razão do golpe militar de 1964, que se deu no final de março. A expressão permite ponderar sobre a prudência e a fatalidade. Tem origem na antiga Roma, nos momentos anteriores ao assassinato de Júlio César, que poderia talvez ter escapado dos punhais de seus matadores se ouvisse um alerta. O adivinho havia dito: cuidado com os idos de março! Como se sabe, Cesar ignorou o aviso e foi para o Senado, confiante na sua força.

O golpe militar trouxe a expressão para a história brasileira. Falou-se muito disso, sobre o 31 de março, na conspiração contra o governo de João Goulart. Mas como eu já disse aqui, golpe eficiente é o que não pode ser previsto. Muitos anos depois, uma figura importante nesse episódio, Darcy Ribeiro, disse que as pessoas próximas ao presidente esperavam o golpe para o dia 1º de maio. Veio um mês antes. Por sinal, foi com o nome de “Idos de Março” que logo depois do golpe saiu um livro importante, feito por jornalistas como Alberto Dines, Carlos Heitor Cony e Antonio Callado. É o primeiro livro sobre o movimento militar de 1964.

Com as manifestações públicas agora de importantes generais da ativa, pode-se falar em “Idos de Abril”. Tem faltado prudência a muitos, especialmente à esquerda, que vem cutucando os militares muito antes dessa bagunça política atual. Atiçaram confrontos de forma militante e bravateira, revirando fatos e fazendo exigências que jamais poderiam ser sustentadas politicamente, além de quebrar compromissos formais e tácitos entre os militares e a sociedade civil, em acordos que encerraram sem grandes conflitos o ciclo militar. Mas com as encrencas trazidas pela esquerda, os militares foram voltando gradativamente ao noticiário político. E com a mídia toda  desmantelada, não foi possível conhecer antecipadamente o nível de incômodo que havia na caserna. Agora já se sabe.

As mensagens disparadas por generais pela internet soam como um aviso das contrariedades internas. Seja como for, os militares se lançaram em uma situação que compromete a condução política do país e a condição das Forças Armadas. Caso aconteça a rejeição do habeas corpus de Lula, a decisão terá a marca da interferência militar, agora se impondo ao debate dos problemas nacionais. E caso haja a liberação de Lula pelo STF, poderá parecer um sinal da baixa influência dos militares, especialmente do Exército Brasileiro. E isso evidentemente não é verdade, senão seus comandantes não estariam opinando sobre assuntos que numa democracia não são da alçada militar.
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POR José Pires

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