Vejo muita gente falando do desinteresse do brasileiro pela Copa do Mundo de 2018. De fato, a chamada torcida brasileira não está animada com o campeonato mundial que começa nesta quinta-feira, na Rússia. Mas tem outra falta de interesse mais importante e de piores consequências que deveria preocupar muito mais. É o desinteresse do eleitor brasileiro pelas eleições de 2018. A questão central evidentemente é a eleição do presidente da República, mas o desinteresse é geral. O eleitor comparece mais por obrigação do que pelo poder de transformação do voto.
O problema já havia ocorrido na última eleição municipal, quando, por exemplo, cidades como Rio de Janeiro e São Paulo tiveram prefeitos eleitos com votação menor do que os votos em branco, nulos e as abstenções. Mesmo eleito no primeiro turno com 3.096.304 votos, João Doria (PSDB) teve mais de 11 mil votos a menos. No Rio, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) também perderam para os votos em branco, nulos e as abstenções. Juntos, tiveram 470 mil votos a menos. Os dados são do TSE.
Em 2014, o número de votos não válidos foi alto no país inteiro, com um aumento em relação à eleição anterior. O alarme devia disparar ainda mais pelo fato do discurso de antipolítico ter feito sucesso na eleição municipal. João Doria foi um dos que ganharam com este mote. E apesar do ex-prefeito paulistano ser o político mais famoso nacionalmente como político que não é político, muitos candidatos faturaram com essa conversa, o que pode significar que foi a contrariedade com a política que motivou uma parcela dos eleitores a votar. Se não houvesse a força deste apelo, provavelmente muito mais eleitores deixariam de votar.
Na prática, o eleitor vem instituindo gradativamente o voto facultativo. Forçado pela desonestidade e incompetência dos políticos, isso pode fazer explodir este ano o desinteresse em votar. Pode-se procurar variantes como causa dessa falta de interesse em decidir quem vai nos governar, mas todo mundo sabe que a causa determinante é a má qualidade dos partidos, causa da falência da política e por extensão do Brasil. Tem cada vez mais gente que não acredita que existam lideranças com capacidade para tirar o país desse buraco. E o pior é que existem razões de sobra para esta desesperança.
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POR José Pires
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