Havia uma boataria de que coincidindo com o depoimento de Sérgio Moro nesta quarta-feira no Senado o site The Intercept publicaria novos e impactantes trechos das mensagens trocadas entre o ministro da Justiça e procuradores. No entanto, o que o site de Glenn Greenwald trouxe na quarta-feira foi ainda mais fraco como denúncia do que o material anteriormente publicado. Greenwald vem exagerando no suspense desde que começou a revelar trechos de conversas de integrantes da Lava Jato. Com ar de intimidação, o jornalista afirma que tem mais mensagens guardadas, insinuando que ainda não mostrou o material mais comprometedor.
Parece-me estranho que alguém tão alinhado a Lula — como é o caso de Greenwald — estabeleça uma estratégia começando o ataque à imagem do ex-juiz da Lava Jato com o conteúdo muito fraco que vimos até agora. Conversas mais comprometedoras poderiam criar desconfiança na população sobre o caráter de Moro, talvez obrigando Bolsonaro a tomar uma atitude contra seu ministro. É claro que a desestabilização do governo Bolsonaro é parte do pacote desses vazamentos, o que é de uma burrice sem tamanho. Alinhar Bolsonaro e Lava Jato como alvos comuns coloca Bolsonaro em uma companhia que fragiliza a oposição.
Tenho a impressão também que da forma que o processo se desenrolou a partir das publicações feitas sem rigor jornalístico, vai ficando cada vez mais difícil colocar a opinião pública contra Moro, se é que existiu alguma vez essa oportunidade. O ataque frontal demonstrou que é maior do que parecia a relação simbólica entre Moro e a Lava Jato, com todo seu referencial de fim da impunidade, da Justiça deixando de prender apenas criminoso pobre para enfim pegar os poderosos, do maior rigor contra o crime em todas suas instâncias.
No imaginário popular e no respeito da classe política, Moro e Lava Jato se tornaram indivisíveis, o que foi também fortalecido em razão do objetivo evidente do que vem fazendo o site de Greenwald, que é soltar Lula e reposicionar o PT e seus puxadinhos como forças eleitorais. O dono do The Intercept nem sequer procura disfarçar seu ativismo. Em uma das entrevistas que deu no exterior sobre os vazamentos, entre tantas mentiras que vem espalhando sobre nossa realidade política, ele diz que Lula é “um gigante” e que como governante o petista “tirou milhões da pobreza”. A conversa é de ativista, nunca de jornalista, mas ele sempre foi assim.
Durante o processo do impeachment de Dilma Rousseff, o dono do The Intercept foi um dos ativistas que mais espalhou no exterior falsas informações sobre o processo no Congresso Nacional que resultou na cassação da petista. É o que vem fazendo agora, com este material que chegou às suas mãos sabe-se lá de que jeito.
O efeito é que não foi o esperado. Em vez de derrubar o prestígio de Moro, os ataques reforçaram a ligação de sua imagem com a da Lava Jato, que na atualidade tem um prestígio inatacável junto aos brasileiros, até pela esperança popular de que o rigor aplaudido contra os corruptos se volte também contra o crime comum, que atormenta todo o país. O que se nota é que Moro encarna essa esperança, enquanto os beneficiários das matérias do The Intercept significam um retrocesso à impunidade e a continuidade da insegurança.
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POR José Pires
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Imagem- Foto de Marcelo Camargo, Agência Brasil
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