quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O 171 que virou refugiado político

O caso do italiano Cesare Battisti, o criminoso italiano que recebeu a condição de refugiado político das mãos do próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, chega a ser engraçado. Claro que sempre dentro daquela lógica de que temos que abstrair o fato de vivermos dentro da piada, mas não tem como não rir desta burrada do governo Lula, nem a primeira, muito menos a última, mas um dos desconcertos petistas que está dando até problema internacional.

Este é o problema de um governo que joga para várias platéias ao mesmo tempo. Tem que contemplar o grande capital e para isso seguiu na risca o receituário anterior do governo de Fernando Henrique Cardoso, com especial atenção aos ganhos por fora na jogatina dos juros, mas precisa dar atenção também aos setores, digamos assim, mais à esquerda da sociedade e, de forma preferencial, aos do partido. Não que seja difícil segurar esses tipos. Eles se contentam com algumas boquinhas, uns ministérios e secretárias sem poder algum, mas, de vez em quando, exigem um reforço na ideologia. Ao menos para parecer que ainda estão ativos na luta contra o sistema.

O imbróglio em torno de Battisti evidentemente vem disso. E tenho a impressão de que neste caso Lula foi enrolado por Tarso Genro e o próprio ministro acabou sendo surpreendido pela conseqüência do que fez. Não esperava a reação italiana, o que não comprova de imediato nenhum despreparo, mas apenas a distração de que foi vítima. Na verdade, visava apena uma platéia, a da esquerda de seu partido, onde trava uma luta intestina para ser candidato à presidente.

Lula é ladino, sem dúvida, mas não é o tipo de governante que centraliza toda a estratégia política. Se fosse assim, José Dirceu não daria nem mais um telefonema para o Palácio do Planalto. Muito menos Luiz Eduardo Greenhalgh, claro. Não adianta, a barriguinha é igual a do Getúlio Vargas, mas as semelhanças acabam aí.

O presidente da República é alimentado pelo famoso sopro no ouvido. Ele mesmo confessou que nem lê jornais e, digo eu, evidentente não faz análise própria. Imagino o Lula na internet: quantas tardes será que ele precisa para ler, por exemplo, o "Estadão"? Não dá. Quem sopra as notícias pra ele são os assessores.

Colocou o caso Battisti na sua agenda política embalado pela lábia de Tarso Genro. É claro que o peixe que comprou não é este que aí está, de fedor até internacional, mas agora é tarde. E, repito, o que aconteceu depois surpreendeu o próprio ministro. Ele decerto não esperava a reação italiana, pois aí, então seria caso de hospício.

Isso não comprova de imediato nenhum despreparo, mas apenas a distração que pode ocorrer com qualquer um que se concentra demais em um ponto e perde a noção do conjunto. É quando acontece a trombada. Genro visava apenas uma platéia, a da esquerda de seu partido, onde trava uma luta intestina para ser candidato à presidente. Mas não deu pra desviar da árvore, ou melhor, dos italianos.

Já observaram bem a “faccia” de Cesare Battisti? É de fazer babar de contentamento seu conterrâneo Cesare Lombroso, aliás, também um xará seu e com uma "faccia" nada confiável. Veja lá em cima a cara de criminoso do colarinho branco que ele, Lombroso, ostenta com orgulho. E o outro Cesare, o Battisti... bem, tenho um cachorro rotweiller que, coitadinho, jamais daria para o italiano levar pra passear.

A teoria de Lombroso já nasceu ultrapassada. Ele afirmava que o criminoso pode ser identificado por suas características faciais, o que é uma bobagem. Mas tem tipo que não engana. E a verdade sobre Battisti não está só na cara. Sua história pessoal é a de um delinqüente comum, um espertalhão oportunista que viu uma boa chance de aplicar um estelionato ideológico. Na Itália não se enganaram. Aqui no Brasil deu certo. Sempre dá.

E por que Tarso Genro foi se misturar com um tipo como esse, arrumando um problema internacional para O Brasil? Bem, para uma melhor explicação ajuda bem lembrar a atuação do ministro da Justiça na questão da revogação da Lei da Anistia. Esta é outra causa inoportuna que ele abraçou recentemente, com metodologia e objetivos muito parecidos com os de agora. Para ficar bem com a esquerda de seu partido é preciso fazer essas coisas, estranhas para nós aqui de fora, extraordinariamente bizarras até, mas normais e até muito bem-vindas pelos seus correligionários. E para ser candidato à presidente da República pelo PT, Genro só conta com esse pessoal à esquerda.
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POR José Pires

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