quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Símbolos de um lado e de outro

A frase “o uso do cachimbo deixa a boca torta” devia ser brasileira, tantos são os desvios de atitude ou de pensamento que tornam-se norma por aqui. Com a esquerda, talvez devêssemos mudar só o objeto, colocando nas bocas tortas um charuto. Cubano talvez, alguém aí pensou? Está certo.

A crise financeira que explodiu nos Estados Unidos criou um ar de felicidade danada em nossa esquerda, com muitos analistas até vendo no acontecimento o final do capitalismo. Uma tirada até fora dos propósitos do guru maior, Marx, que disse que o capitalismo não acaba, mas se supera. É o cachimbo aí. De tanta fixação na derrocada do capitalismo, a esquerda vê óbito onde existem apenas sintomas, graves, sem dúvidas, mas apenas sintomas de uma doença muito perigosa.

Bem, se é para falar dos sinais, temos que ir às fontes. E a primordial da esquerda no aspecto prático é a revolução russa. Sem ela, aliás, charuto na boca nem seria símbolo revolucionário pois o mundo jamais teria ouvido falar de Fidel Castro.

Pois o que temos nestes dias é a renovação óbvia do capitalismo — numa provável superação, como disse Marx — com a eleição de Barack Obama e um retrato do que sobrou do comunismo soviético com o assassinato de Serguei Markelov, advogado da família de uma jovem morta por um ex-coronel do exército russo. O advogado foi morto na segunda-feira, no centro de Moscou e seu assassinato é um dos elos de uma corrente de atrocidades em um país que saiu do comunismo com males gerados pelo totalitarismo e a falta de liberdade.

O pistoleiro matou também a jornalista Anastasia Baburova, da publicação quinzenal Novaya Gazeta, que acompanhava o advogado. Para a morte de Baburova existem duas versões, a de homicídio premeditado ou que ela teria tentado deter o criminoso.

O advogado Markelov concedera entrevista exatamente sobre a retomada das acusações contra o ex-coronel Budanov antes de ser morto pelo pistoleiro. Quando ainda estava na ativa no exército russo, o ex-coronel Budanov seqüestrou a jovem chechena Elsa Kungáyeva e depois a matou por estrangulamento durante um interrogatório em março de 2000. Condenado há dez anos de prisão, Budanov foi solto pelo tribunal de Dimitrovgad em função de um benefício que podem obter os presos que cumprem mais da metade da pena (parece um outro país que conhecemos bem).

A Novaya Gazeta, publicação onde trabalhava Anastasia Baburova, teve outra jornalista assassinada, a repórter Anna Politkovskaya, que fazia um trabalho bastante crítico em relação à política da Rússia na Chechênia e que desagradava os maiorais do Kremlin. Ela foi morta também à tiros na porta de sua casa em Moscou em outubro de 2006. Em sua morte estão implicados membros do ministério do Interior russo e da FSB, a antiga KGB do comunismo.

Em 2008 cinco jornalista foram assassinados na Rússia, que também tem outros profissionais da imprensa desaparecidos. A cifra de mortos é contínua — em 2007 foram oito jornalistas assassinados e nove em 2006.
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POR José Pires

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