No
início deste mês escrevi sobre a descambada que a política tem
dado no Brasil em direção ao clientelismo eleitoral, de tal forma que
certas ações políticas que antes causariam escândalo hoje em dia são feitas
inclusive com propaganda. Falei então sobre a anúncio de que no Rio de
Janeiro os imóveis do "Minha Casa, Minha Vida" serão entregues
mobiliados e com eletrodomésticos da linha branca. Como todo mundo sabe, o
estado é governado por Sérgio Cabral (PMDB) e a cidade tem como
prefeito Eduardo Paes (PMDB), ambos aliados do governo federal e muito
ligados ao ex-presidente Lula. O Rio é também o estado onde secretários de governo fazem festas em lugares caros de
Paris acompanhados por empreiteiros. E com o governador Cabral junto.
Foi Eduardo Paes quem anunciou a novidade do "Minha Casa, Minha Vida" com tudo dentro das casas. Não é de hoje que o prefeito vem sendo o símbolo perfeito desta era
clientelista que aí está instalada. Ele foi deputado do PSDB e no início do
governo Lula era um dos críticos mais firmes do PT, o que fazia como líder da bancada tucana. Atacou Lula até
quando parecia que isso resultaria em poder para seu partido. Mas logo
que percebeu que a batalha era mais dura do que parecia abandonou os
colegas tucanos e aliou-se a Lula na maior cara de pau. Dos dois, é claro.
Para ressaltar o que vejo como
falta de atenção ao prioritário , lembrei que enquanto fazem propaganda
de entrega de casas com móveis e eletrodomésticos, no Rio não se tem
acesso aos direitos básicos da população que paga direitinho seus
impostos. Como exemplo, falei que a cidade é uma das mais caras para se
viver no mundo e lá se paga o salário de R$ 1.874 para médico com 20
anos de trabalho no estado.
Pois
ontem saiu a notícia do recorte abaixo, publicada no jornal O Globo. Uma criança de dez anos
atingida na cabeça por uma bala perdida morreu depois de esperar mais de
oito horas por cirurgia. No hospital não havia neurocirurgião, que
faltou ao trabalho. Há um mês o médico já não vinha fazendo os plantões,
com a alegação de que não concordava com a escala feita pelo hospital. A
informação foi dada pelo médico em depoimento à polícia depois da morte
da criança. Ele era o único escalado naquele período quando, segundo o
que disse, é uma determinação do Conselho Regional de Medicina que haja
dois neurocirurgiões por plantão.
A
menina foi vítima de dois grandes problemas brasileiros, ainda mais
graves no Rio: segurança e a saúde. No primeiro caso, além do tiroteio
cotidiano o Rio sofre hoje com o domínio de milícias paramilitares sobre
grande parcela da população. Mas em parceria com o governo federal o
governador Cabral vem ocultando o drama com uma política em que o efeito
propagandístico da ocupação de favela desvia a atenção dos reais
efeitos da violência. Não cabe especular sobre as chances cirúrgicas num
caso deste, mas é um fato que atendimento de saúde desse jeito não
permite uma boa recuperação de ninguém em situação alguma. A criança foi vítima da bala perdida e
do sistema de saúde.
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POR José Pires
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