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depois da morte do Oscar Niemeyer tenho visto interpretações sobre o
que ele foi que dão a impressão de que em vida o arquiteto era um grande
filósofo, capaz de dissertar com genialidade sobre a arte em que se
destacou e até sobre a existência humana. Pois Niemeyer não foi nada
disso.
Durante
anos li textos dele e acompanhei reportagens e suas entrevistas. Do
Niemeyer sempre lembro uma frase repetida em várias entrevistas naquela
sua dicção que exigia legendas na tela. Era uma banalidade que para meu
espanto foi destacada várias vezes por jornalistas: “A vida é mais
importante que a arquitetura”. Vai acabar sendo marcado por esta
trivialidade e ele merece. Inegavelmente ele foi um grande arquiteto,
mas era banal intelectualmente e em política tinha uma fixação autoritária.
Até
o final da vida Niemeyer lamentava a queda do Muro de Berlim material e
simbolicamente. Seu pensamento político está baseado naquela triste
divisão criada pela oposição entre comunismo e capitalismo. Fechado numa
guerra fria mental, ele não teve inteligência política para perceber
nenhum dos grandes avanços políticos da segunda metade do século vinte. É
tão tosco que nem sequer permitiu-se à compreensão de seu proprio
partido (o PCB) sobre a necessidade de reformar a visão política a
partir das mudanças da conjuntura política mundial.
As
frases suas que vejo correr na internet querem fazer crer que o
arquiteto foi um grande humanista, mas se contradizem com o que ele de
fato foi em política. Até o final da vida Niemeyer defendeu o
stalinismo, modelo político que matou milhões de pessoas na extinta
União Soviética e espalhou pelo mundo um terror que só tinha algo
comparável no nazismo de Hitler.
Ele
adorava a figura de Joseph Stálin. Politicamente era cego às denúncias
dos crimes do ditador feitas pelo próprio governo comunista da União
Soviética ainda na década de 50. Adorava Stálin de tal forma que em 2009
escreveu um artigo exaltando o ditador e neste texto muito ruim usava
como base um livro que dizia exatamente o contrário do que ele pensava.
Imerso em sua obscura idolatria ele viu no livro apenas o que
interessava para seu culto.
Em
política esse era o Niemeyer e não o homem sensível de frases
supostamente humanísticas. E eu só não digo que esse era o Niemeyer
político “na prática” porque felizmente variadas situações no mundo todo
não permitiram que de suas idéias autoritárias brotasse de forma
prática um governo no Brasil.
Niemeyer
não foi um grande teórico nem sobre sua atividade profissional. Não
existem textos seus e nem entrevistas que tragam um pensamento original
sobre arquitetura ou qualquer outra arte. É até incomum na sua área esta
falta de habilidade para discorrer sobre o próprio trabalho. Arquitetos
costumam ser grandes faladores, de tal forma que quando estão sendo
entrevistados ou escrevendo alguns parecem bem maiores do que realmente
são na sua atividade.
Não
é o caso de Niemeyer. Criou obras revolucionárias e algumas muito
bonitas, mas era uma droga para escrever ou falar sobre elas. Mas a
precariedade intelectual de Niemeyer não importa na sua arquitetura. Não
é pela capacidade de teorizar que identificamos o grande artista,
apesar de que sempre é muito bom apreciar alguém que sabe falar bem
sobre sua arte. Mas existem vários excelentes artistas que são parecidos
com o arquiteto brasileiro nessa dificuldade de expressar teoricamente o
que fazem com habilidade quando estão com um lápis, um pincel, uma
régua, um computador, ou qualquer outro instrumento com o qual um ser
humano pode tornar a vida mais bela.
Niemeyer
não é menor por causa disso. Mas para uma melhor compreensão do que foi
esta marcante personalidade brasileira é melhor que não se procure nele
um grande pensador capaz de trazer grandes ensinamentos sobre a vida ou
sobre sua arte. E muito menos sobre política. No seu caso o ponto a ser
refletido é sua arquitetura e a interferência política de seu mito em
várias situações importantes da nossa história e também na arquitetura
até no aspecto profissional. Na sua profissão, vários bons arquitetos
são da opinião de que seu mito sustentava um lobby que acabou sendo uma
influência negativa de várias décadas para a arquitetura brasileira.
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POR José Pires
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