Não
se pode perder a atenção ao detalhe. Veja ao lado um corrimão do Kimbell Museu,
belíssimo conjunto de prédios feitos pelo arquiteto Louis Kahn. O museu
de arte fica no Texas e tem como base o acervo deixado pelo industrial
Kay Kimbell, que durante anos juntou uma admirável coleção. Aqui o
corrimão pode ser visto em dois planos. A peça foi prensada numa chapa
inteiriça. O fino desenho moldou no metal a forma antiga de um corrimão.
A
militância azucrinadora saiu tacando pedras em quem escreveu do jeito
certo sobre a diferença entre as curvas modernas que sairam da prancheta
do falecido arquiteto Oscar Niemeyer e a brutal ideologia que esteve
sempre na sua cabeça, mas será que os companheiros da intimidação já
ouviram falar de Louis Kahn? Duvido muito. E digo isso porque além das
grosserias políticas e até pessoais, alguns se aventuraram no terreno
dos elogios à obra arquitetônica do mestre stalinista. É improvável que a
maioria desses malas governistas da internet saiba algo sobre os
assuntos em que se metem com suas grosserias, agindo como paus-mandados
no ataque a qualquer um que não esteja de acordo com as ordens que
recebem de cima..
É
o que dá passar a vida seguindo uma doutrina onde o conhecimento é o de
menos. Quando o que importa é a conquista do poder a pessoa deixa de
prestar atenção ao que o outro escreve ou fala. Sua mente sustenta-se
apenas em slogans fáceis e frases colhidas apenas com o sentido de
firmar uma posição política.
Na
quinta-feira o Estadão publicou um bom texto do Demétrio Magnoli sobre
Niemeyer. É devastador no aspecto político e adentra também na concepção
da obra do arquiteto. Magnoli o situa como um “arquiteto da
destruição”, numa linha que, sempre segundo ele, viria de Le Corbusier.
Discordo em parte do texto. Gosto de Corbusier, que é um antecipador de
Niemeyer e também de Kahn. Mas no artigo de Magnoli tudo é muito bem
fundamentado, como é de costume no que ele faz.
O
que não tem fundamento algum é a idolatria que apareceu agora com a
morte de Niemeyer. É claro que o artigo de Magnoli vem sendo alvo do
mesmo tipo de ataque que foi recebido por quem fez considerações
críticas logo que Niemeyer morreu. E em caso algum os fãs póst-mortem do
arquiteto trazem qualquer argumentação que tenha base ao menos na
sensatez. Não trazem informação alguma, conhecimento menos ainda. É só
grosseria política.
Sinceramente,
eu não sabia que era uma questão programática a blindagem total de
Niemeyer. Já era do nosso conhecimento que o ex-presidente Lula eles
querem inimputável, mesmo que o Supremo Apedeuta se comporte como um
coronel que até nomeia amante para cargo público. Foi uma grande
novidade a entrada de Niemeyer no rol de ídolos que devem ser vistos
como totens ideológicos. Só é permitido prostrar-se à sua frente e babar
de admiração?
Mas
felizmente tem muita gente que não segue ordens de cima e por isso
ainda alcançamos alguma qualidade técnica no debate. É a atenção ao
detalhe e a busca da informação e do conhecimento, essenciais para que
haja discussão inteligente e não bate-boca. Até num velho stalinista
como o arquiteto Niemeyer é preciso prestar atenção no peso da sua
interferência enquanto esteve vivo. Mas isso tem sido feito apenas pelos
que o criticam. Neste assunto repete-se o que ocorre sempre nas
polêmicas em que aparecem os bandos de vozes comandadas para a difamação
e o ataque político e pessoal. Mesmo quem gosta muito de Niemeyer só
vai encontrar boa informação sobre o arquiteto no texto de quem faz com
franqueza a crítica à sua detestável admiração por Stálin e o
totalitarismo.
É
o que vem acontecendo em muita coisa desde a ascenção do PT ao poder
federal e sua contaminação negativa na nossa cultura. No futuro, quando
alguém precisar de conteúdo de qualidade sobre o que aconteceu nesta
época em que vivemos, só vai encontrá-lo nos textos de quem hoje está no
lado oposto ao deste governo e seus lamentáveis seguidores.
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POR José Pires
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