quarta-feira, 30 de março de 2016

Lula sem linha

A situação patética do ex-presidente Lula na semana passada, com dificuldade de ser atendido até pelo vice-presidente Michel Temer, me fez lembrar do dia em que ele se negou a conversar com José Dirceu ao telefone. Isso foi no início do ano passado. Dirceu ligou para o Instituto Lula e pediu uma conversa com Lula, que em vez de recebê-lo mandou Paulo Okamoto retornar o telefonema. "Do que você está precisando, Zé?", perguntou o notório escudeiro de Lula. Foi então que Dirceu deu uma resposta que depois ele questão de repassar para a imprensa: "Você acha que vou ligar para pedir alguma coisa? Vocês me abandonaram há tempos". E a conversa acabou nisso.
A intenção de Dirceu ao telefonar para Lula era acertar em conjunto uma estratégia de defesa. Ele já devia saber das encrencas que iriam surgir para o lado dele com o desenvolvimento das investigações da Operação Lava Jato e pelo jeito também sabia que desta vez o Ministério Público chegaria até Lula. Porém, este parecia julgar-se protegido pela aura mística criada em torno da sua figura e escudava-se também no respeito institucional a um ex-presidente. Lula também tem o hábito de largar para trás companheiros caídos em desgraça. E como José Dirceu sempre foi o único político em nível parecido ao dele nas decisões do PT, parece que Lula viu na desgraça do companheiro uma possibilidade de ampliação de seu poder político.
Na situação atual de Lula é provável que ele se arrependa de não ter escutado o que José Dirceu tinha para lhe dizer. Na semana passada, com o vice Michel Temer, o tratamento que recebeu foi parecido ao que deu ao companheiro de partido. Temer se negou a atender dois telefonemas seus. Depois Lula foi avisado pelo vice que não havia mais como segurar o PMDB no governo, saída que afinal foi decidida em reunião nesta terça-feira do diretório nacional que durou menos de cinco minutos e se deu com gritos de "Fora, PT!". É óbvio, mas muito óbvio mesmo que Lula pode apagar da agenda o número do telefone de Temer. Não sei se ele está com o número de José Dirceu — talvez seu assistente Okamoto saiba de cor —, mas agora não importa. Para qualquer telefone que ele discar, agora não ouvirá de forma alguma um clique abrindo um diálogo na outra ponta. O chefão do PT não tem mais com quem conversar, até porque nada mais tem a oferecer.
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POR José Pires

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