terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Diplomacia do crioulo doido

Se alguém ainda tem alguma dúvida de que a política externa do Brasil é pirada, o chanceler Celso Amorim sempre aparece na mídia para tirar a dúvida confirmar que o samba do crioulo doido é o ritmo diplomático brasileiro. Agora parece que ele entrou para o governo de Hugo Chávez.

O presidente venezuelano Hugo Chávez venceu o plebiscito que concede (a ele, claro) a reeleição indefinida a presidente da República. Chávez é hoje um líder político isolado. Suas reuniões públicas com Evo Morales, Rafael Correa e Lula são o retrato deste isolamento. Quem mais poderíamos colocar ao lado dele? Bem, tem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, o que aumenta o isolamento do venezuelano. Ah, sim, de vez em quando, ele se reúne no pé da cama com o moribundo Fidel Castro.

A verdade é que o governo venezuelano não é bem visto internacionalmente. E é bobagem achar que isso é coisa de governantes como Bush. Até Barack Obama quer ver Chávez de longe, bem distante. E com razão. Nem vamos falar do controle da informação que seu governo impõe sobre os venezuelanos ou das mílicias chavista que controlam amplas áreas da capital e do interior. Pois ele venceu o plebiscito e quem saiu em sua defesa, numa fala que evidentemente deve ecoar internacionalmente? Foi o chanceler brasileiro Celso Amorim.

Então estamos desse jeito no plano internacional: litígio com a Itália por causa de um criminoso que o governo brasileiro quer dar status de refugiado comum, problemas com a Suiça por causa do modo precipitado que o governo brasileiro agiu em um caso que até o momento é difícil de entender, e agora com um chanceler que age como porta-voz do governo de Hugo Chávez.

Amorim é aquele que acusa de nazistas interlocutores que são descendentes de vítimas do holocausto. Bem, para uma loja de cristais é melhor levar um elefante.

E logo com quem eles querem ver o Brasil abraçado... Com alguém que não quer de modo algum sair do poder. A luta pela reeleição indefinida já mostra bem o caráter de Chávez. É óbvio que ele quer se perpetuar no poder, algo bem ruim em qualquer parte do mundo e sempre bem mais na América Latina, continente com uma longa cadeia de autocracias e ditaduras. Chávez tenta vender seu bolivarianismo como uma iedologia libertária e anti-imperialista, mas tenho a impressão que nem Bolívar iria gostar do discípulo que a história lhe concedeu.

O referendo em si é cercado de suspeitas. A própria pergunta feita ao eleitor é capciosa, ou melhor, enganadora mesmo. É a seguinte, com o destaque feito por mim no trecho ardiloso:

"Você aprova a emenda dos artigos 160, 162, 174, 192 e 230 da Constituição da República, tramitada pela Assembléia Nacional, que amplia os direitos políticos do povo, com o fim de permitir que qualquer cidadão ou cidadã em exercício de um cargo de eleição popular possa ser sujeito à postulação como candidato ou candidata para o mesmo cargo pelo tempo estabelecido constitucionalmente, dependendo sua possível eleição exclusivamente do voto popular?"

Quem pode ser contrário à "ampliação dos direitos do povo"? O povo é que não. E aprovou a reeleição. Todo o conteúdo da pergunta é bem pouco claro, mas a tentativa de enganar o eleitor fica comprovada pelo trecho em destaque.

O ex-prefeito Cesar Maia, do Rio de Janeiro, que volta agora em março com o seu Ex-Blog, aponta uma questão muito importante no plebiscito venezuelano. "Sempre é bom lembrar", escreve ele no correio eletrônico distribuído pela internet, "que nos plebiscitos normalmente se exige maioria absoluta sobre o total de eleitores inscritos".

Maia costuma trazer bons esclarecimentos sobre variados assuntos, tomando como base, muitas vezes, os números. E em muitos casos, principalmente quando não envolve estatística, não há como discordar de números.

No plebiscito na Venezuela, ele diz, a abstenção foi de 32,9% e 1,3% de nulos sobre o total de eleitores inscritos, num total de 34,2%. Ou seja, os 54% a favor da reeleição ilimitada corresponderam a 35,5% dos eleitores inscritos.

Mas atentem para o número de abstenção e de nulos. É a prova de que Chávez, ao contrário inclusive do que alguns esquerdistas afirmam com alegria, não tem um controle tão firme da Venezuela.

As coisas não vão bem para Chávez no plano econômico. Nenhum país está livre da crise, a Venezuela muito menos porque depende das vendas de seu petróleo, produto que desde julho teve queda de preço de 72%. A grana do petróleo, aliás, é o que garante parte do prestígio do presidente venezuelano, que usa os rendimentos públicos para seduzir aliados. A inflação venezuelana também está alta: foi de 32% ano passado, a maior do continente. E o país já tem muito desabastecimento, até de gêneros de primeira necessidade, e sofre os efeitos da falta de investimento em infra-estrutura nestes dez anos de governo chavista.

Em uma eleição para presidente, a oposição teria grandes chances de vitória agindo com sensatez e tendo um bom candidato. Bem, mas existe no mundo alguma oposição pior que a Venezuelana? Talvez só a brasileira.
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POR José Pires

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