terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Irã dá um chega-pra-lá em Lula

Quando Lula fez a proposta de conceder asilo à Sakineh Mohammadi Ashtiani, a mulher condenada à morte no Irã, ele acabou entrando numa daquelas questões em que não importa se a resposta é negativa ou positiva. Qualquer uma delas é problemática.

O Irã deu hoje uma resposta que parece mostrar que por lá já se cansaram das lorotas do presidente brasileiro. Para o governo iraniano, Lula é "emotivo" e desconhece o assunto. Uau, na bucha! Imagino o espanto de Lula, acostumado com um povo que o aguenta com paciência há pelo menos duas décadas.

Dizem que o sucesso de Lula se deve ao fato dele ser muito bom em política. Não penso assim. O que ele tem de bom, além de um suporte fantástico e descarado da máquina pública, em sindicatos, Ongs e outras instituições ditas populares, é sua oposição. Para ele, é claro, pois com uma oposição de fato não teria nem sido reeleito. O mais provável é que fosse apeado do poder já no primeiro mandato. Fazer sua sucessora, como pode acontecer, isso nem pensar.

Está é a minha opinião. Porém, sou dos que não se enganam com o Lula muito antes de ele ser eleito, mas creio que sua performance no plano internacional demonstra que este não é um juízo de valor movido apenas pela minha ojeriza ao sapo barbudo. Em menos de dois anos, neste último período de governo em que resolveu ser espaçoso também no plano internacional, quase tudo deu errado para Lula. Claro, o debate internacional é substantivo. Até pode haver o lero-lero de que ele tanto gosta, mas por detrás das palavras tem de haver substância. Isso quando o que tem que ter mesmo são tropas.

Mas falemos da questão da iraniana, que Lula puxou para si em um palanque eleitoral.
Vamos primeiro falar da resposta positiva. Teoricamente até poderia ser vista como o melhor resultado, isso se não fosse um paradoxo. A negativa que veio do governo iraniano seria até, isso se não fosse o chega-pra-lá que veio com a resposta.

Ele passaria como um presidente humano, isso no plano interno, principalmente no aspecto eleitoral, pois onde importa mesmo internacionalmente sua proposta com certeza foi vista como ridícula. E tão tola, que nem os iranianos, que até aqui pareciam parceiros de LUla, puderam evitar de colocar o assunto dessa forma.

A oferta de Lula foi de uma comicidade trágica. Há muito tempo que ele vem exercitando este humor negro em suas intervenções públicas. E digo pela oferta de asilo em si, sem falar nas piadinhas que ele soltou quando tocou no assunto.

No Irã, o apedrejamento até a morte não é uma exceção bárbara como é visto com razão no Ocidente. O absurdo, que lá é uma normalidade penal, vem da leitura do Corão. Para atender apenas esse pedido de Lula, os aiatolás teriam de fazer uma revisão em muita coisa do que pensam.

Vamos fazer um raciocínio simples, expondo o problema de forma contrária. O que será que pensaríamos se o governo iraniano propusesse que começássemos a apedrejar as mulheres que cometem adultério? Calma, estou falando em hipótese e pensando em brasileiros de bom senso e não no Lula.

O Brasil não consegue resolver nem os problemas internos de violência contra as mulheres e isso para ficarmos só neste tipo de violência. A bem da verdade, o governo brasileiro não consegue conter violência alguma. A própria imagem que o presidente da República usou para se referir ao caso, tratando a iraniana como um “incômodo” para o governo iraniano e também fazendo piada com o adultério masculino mostra, aliás, que este tipo de violência é um problema cultural bem arraigado e ainda vai longe.

Mas se o Irã concedesse o direito da condenada asilar-se no Brasil, nosso país abriria um precedente que poderia conduzir à uma imensidão de casos similares em todo o mundo. Sabemos que o ponto essencial da questão, da qual Lula foge, é a violência do Estado iraniano sobre as mulheres.

É sobre isso que seu governo deveria tentar influir, mas aí toca-se na questão dos direitos humanos, algo que Lula não que discutir, nem no Irã, em Cuba, na Venezuela e tantos outros países, afinal sua política externa parece ter uma queda por regimes onde prevalece a injustiça.

E como não pode ir a fundo na discussão dos direitos humanos, malandramente ele buscou particularizar nesta condenação da iraniana uma suposta preocupação com o ser humano. É como ele faz no plano interno. Com o país destruído pela violência, com comunidades inteiras dominadas por quadrilhas armadas e mortes de uma violência aterrorizante acontecendo todos os dias, ele trabalha uma imagem humanística distribuindo afagos pessoais em solenidades oficiais e nos palanques.

Foi o que ele tentou fazer com o Irã e se deu mal. Podia pelo menos ter consultado Ahmadinejad, apesar de que seria difícil que o governo iraniano topasse o jogo. Lá no Irã, como em tantos países onde Lula vai e se comporta de forma leviana, eles estão envolvidos internamente em embates políticos cruciais. E lá essas coisas não são resolvidas em acertos por cargos. Não é acabem que terminem em morte.
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POR José Pires

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