Nesta eleição o candidato José Serra pode acabar dando o nome a um efeito eleitoral que geralmente acomete políticos sem rumo definido e que numa campanha seguem sem nenhum senso crítico as determinações de marqueteiros. Não é coisa nova, mas com o rumo que a sua candidatura vem tomando desde que o marketing tomou de vez a frente da política, este efeito pode passar a ser chamado de Síndrome do Zé.
Até começar de fato a campanha, Serra vinha se colocando no noticiário com a coerência de sempre. Poupava-se do confronto direto com Lula, porém sem perder a imagem de oposicionista. E, sem dúvida, era o que sustentava os altos índices que tinha desde que começaram as pesquisas.
É impossível ter a certeza da exata motivação que fazia tanta gente cravar seu nome em todas as pesquisas que apareciam, mas não dá para acreditar que alguém pensaria em votar em Serra por uma suposta proximidade com Lula ou pela continuidade do governo que aí está, sem críticas ou rupturas importantes com o modelo lulo-petista.
Com certeza não era isso que há meses vinha levantando o prestígio de Serra, até porque o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, explorava este papel de variadas maneiras, sem que isso refletisse alguma vantagem para sua posição em qualquer pesquisa. Aécio deixou de ser o neto de Tancredo para ser Lula desde criancinha. Mas amargou uma rabeira de fila nas pesquisas. Era o lanterna em qualquer situação e perdia no segundo turno para qualquer um.
Penso que o que sustentava Serra acima de todos os outros nomes da oposição, vencendo inclusive a candidata de Lula ou o oficioso Ciro Gomes, era o desejo de mudança de uma parcela importante do eleitorado, uma porção de gente que gradativamente foi se frustrando com a dificuldade do tucano em assumir com vigor este papel.
Na minha visão, o marketing desastroso dos tucanos, apresentando de forma populista um político que sempre foi visto como o contrário disso, para isso até trocando seu nome para Zé, veio só fortalecer a queda de prestígio que vinha se desenvolvendo de forma lenta em razão de erros políticos sucessivos, sendo o pior desses erros o abandono do discurso crítico que sempre foi a marca de Serra.
O marqueteiro dos tucanos é um gênio. Em poucos dias conseguiu fazer de um dos políticos brasileiros de identidade mais firme uma figura indefinida, que num momento ataca de frente a candidata Dilma e logo após afaga até com carinho o criador desta adversária, o presidente Lula.
Serra é vítima de um dos maiores males de marqueteiros. Pode ser chamado de Síndrome do Zé, assim como poderia ter o nome de Síndrome do Geraldo. Mas Síndrome do Zé é bem melhor, pois Alckmin nunca teve personalidade mais firme antes de tentar virar Geraldo. Ou pelo menos nunca soubemos disso.
A Síndrome do Zé acomete aquele político que segue de forma obediente as determinações de seu marqueteiro. Político experiente e de personalidade não faz isso, o que torna ainda mais interessante o fato de Serra atender de modo obediente seu marqueteiro, passando a fazer coisas que nada tem a ver com o que construiu até agora e muito menos com o que as pessoas sempre esperaram dele como líder político.
Não é nova esta técnica de fazer uma mudança abrupta e sem base na personalidade do político. Já teve até marqueteiro que quis raspar o bigode de candidato que por anos nunca teve a cara lisa. O mesmo marqueteiro que convenceu Serra com esta proposta equivocada em que até a figura de Lula é tratada como grande estadista, já fez coisa pareceida com Alckmin, ou o Geraldo, na campanha histórica para a presidência da República em que o candidato tucano teve menos voto no segundo turno do que no primeiro.
O marqueteiro do Serra está fazendo também a campanha tucana em São Paulo para o governo estadual. E por lá ele ainda persegue esta idéia de fazer o povo chamar o Alckmin de Geraldo. É bem curiosa esta mania de trocar nome de candidato. Será uma doença profissional, algo como uma LER que dá em marqueteiro? O fato é que em caminhadas de rua sempre vem alguém da campanha na frente da turma de Alckmin avisando o povo: "Olha o Geraldo aí". Parece piada, mas isso acontece de verdade.
Não sei se fazem isso também com o Serra. Olha o Zé aí, gente! Bem, mas ele que se cuide, pois não é improvável que com esta linha possam até levar a disputa com Dilma para o segundo turno para então quebrar o ineditismo de Alckmin, ou Geraldo. Isso, o Zé pode ter menos votos no segundo turno que o Serra no primeiro. Ou vice versa.
Mas ainda dá para reverter a imagem do candidato para o que havia antes da Síndrome do Zé? É bem difícil, já que os efeitos desta síndrome se dão com uma rapidez danada e muitos desses danos não permitem soluções no curto prazo de uma campanha eleitoral.
E um dos piores efeitos desta síndrome já parece ter se instalado na candidatura tucana. É o que faz o eleitorado não aceitar a nova imagem que o marketing tenta impor e também não ter mais confiança na capacidade do candidato encarnar aquilo que aquilo que até então sua carreira política representava.
Isso parece já estar ocorrendo com a candidatura de Serra. E ele que se cuide, pois se isso estiver de fato acontecendo a derrota é certa. E o pior não é só isso: é o que vem depois. Com a descaracterização, é muito rara a sobrevida de políticos atacados por esta síndrome.
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POR José Pires
Até começar de fato a campanha, Serra vinha se colocando no noticiário com a coerência de sempre. Poupava-se do confronto direto com Lula, porém sem perder a imagem de oposicionista. E, sem dúvida, era o que sustentava os altos índices que tinha desde que começaram as pesquisas.
É impossível ter a certeza da exata motivação que fazia tanta gente cravar seu nome em todas as pesquisas que apareciam, mas não dá para acreditar que alguém pensaria em votar em Serra por uma suposta proximidade com Lula ou pela continuidade do governo que aí está, sem críticas ou rupturas importantes com o modelo lulo-petista.
Com certeza não era isso que há meses vinha levantando o prestígio de Serra, até porque o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, explorava este papel de variadas maneiras, sem que isso refletisse alguma vantagem para sua posição em qualquer pesquisa. Aécio deixou de ser o neto de Tancredo para ser Lula desde criancinha. Mas amargou uma rabeira de fila nas pesquisas. Era o lanterna em qualquer situação e perdia no segundo turno para qualquer um.
Penso que o que sustentava Serra acima de todos os outros nomes da oposição, vencendo inclusive a candidata de Lula ou o oficioso Ciro Gomes, era o desejo de mudança de uma parcela importante do eleitorado, uma porção de gente que gradativamente foi se frustrando com a dificuldade do tucano em assumir com vigor este papel.
Na minha visão, o marketing desastroso dos tucanos, apresentando de forma populista um político que sempre foi visto como o contrário disso, para isso até trocando seu nome para Zé, veio só fortalecer a queda de prestígio que vinha se desenvolvendo de forma lenta em razão de erros políticos sucessivos, sendo o pior desses erros o abandono do discurso crítico que sempre foi a marca de Serra.
O marqueteiro dos tucanos é um gênio. Em poucos dias conseguiu fazer de um dos políticos brasileiros de identidade mais firme uma figura indefinida, que num momento ataca de frente a candidata Dilma e logo após afaga até com carinho o criador desta adversária, o presidente Lula.
Serra é vítima de um dos maiores males de marqueteiros. Pode ser chamado de Síndrome do Zé, assim como poderia ter o nome de Síndrome do Geraldo. Mas Síndrome do Zé é bem melhor, pois Alckmin nunca teve personalidade mais firme antes de tentar virar Geraldo. Ou pelo menos nunca soubemos disso.
A Síndrome do Zé acomete aquele político que segue de forma obediente as determinações de seu marqueteiro. Político experiente e de personalidade não faz isso, o que torna ainda mais interessante o fato de Serra atender de modo obediente seu marqueteiro, passando a fazer coisas que nada tem a ver com o que construiu até agora e muito menos com o que as pessoas sempre esperaram dele como líder político.
Não é nova esta técnica de fazer uma mudança abrupta e sem base na personalidade do político. Já teve até marqueteiro que quis raspar o bigode de candidato que por anos nunca teve a cara lisa. O mesmo marqueteiro que convenceu Serra com esta proposta equivocada em que até a figura de Lula é tratada como grande estadista, já fez coisa pareceida com Alckmin, ou o Geraldo, na campanha histórica para a presidência da República em que o candidato tucano teve menos voto no segundo turno do que no primeiro.
O marqueteiro do Serra está fazendo também a campanha tucana em São Paulo para o governo estadual. E por lá ele ainda persegue esta idéia de fazer o povo chamar o Alckmin de Geraldo. É bem curiosa esta mania de trocar nome de candidato. Será uma doença profissional, algo como uma LER que dá em marqueteiro? O fato é que em caminhadas de rua sempre vem alguém da campanha na frente da turma de Alckmin avisando o povo: "Olha o Geraldo aí". Parece piada, mas isso acontece de verdade.
Não sei se fazem isso também com o Serra. Olha o Zé aí, gente! Bem, mas ele que se cuide, pois não é improvável que com esta linha possam até levar a disputa com Dilma para o segundo turno para então quebrar o ineditismo de Alckmin, ou Geraldo. Isso, o Zé pode ter menos votos no segundo turno que o Serra no primeiro. Ou vice versa.
Mas ainda dá para reverter a imagem do candidato para o que havia antes da Síndrome do Zé? É bem difícil, já que os efeitos desta síndrome se dão com uma rapidez danada e muitos desses danos não permitem soluções no curto prazo de uma campanha eleitoral.
E um dos piores efeitos desta síndrome já parece ter se instalado na candidatura tucana. É o que faz o eleitorado não aceitar a nova imagem que o marketing tenta impor e também não ter mais confiança na capacidade do candidato encarnar aquilo que aquilo que até então sua carreira política representava.
Isso parece já estar ocorrendo com a candidatura de Serra. E ele que se cuide, pois se isso estiver de fato acontecendo a derrota é certa. E o pior não é só isso: é o que vem depois. Com a descaracterização, é muito rara a sobrevida de políticos atacados por esta síndrome.
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POR José Pires
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