sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O que pode vir de Minas

Nesta eleição, Minas Gerais pode fazer lembrar dois nomes fortes que o estado legou à história brasileira: Tiradentes e Joaquim Silvério dos Reis. Tiradentes, como todos sabem, acabou enforcado, mas é uma luz significativa na memória dos brasileiros. Já Joaquim Silvério dos Reis, cuja imagem se vê ao lado, se deu bem economicamente com sua traição, mas ficou para sempre com seu nome ligado ao que de pior se pode pensar de alguém. Virou excrescência histórica e como sinônimo de traição só fica abaixo de Judas. No meu tempo de escola, ser chamado de Joaquim Silvério dos Reis dava briga feia na hora do recreio.

Talvez haja quem ache demais trazer a lembrança do Tiradentes numa eleição presidencial numa época de relativa democracia, mas isso se a pessoa acreditar que esta é uma eleição como qualquer outra, o que não é o meu caso. Este ano o Brasil pode ser ver livre do lulo-petismo, o que não é pouco. E a vitória do lulo-petismo também não pode ser subestimada em seu potencial de autoritarismo e controle do Estado, que já vem sendo estabelecido de forma vergonhosa e bastante perigosa nesses quase oito anos do governo Lula.

Não dá para achar que o clima de desesperada luta pelo manutenção do poder que se vê na campanha do PT possa vir de algum sentimento de respeito à democracia e submissão à prática da alternância no poder.

Se tivessem respeito pela democracia, não fariam uso da máquina pública e de sindicatos, da forma escandalosa como vem ocorrendo. Também não haveria toda essa manipulação do processo eleitoral, como a campanha ilegal que Lula vem fazendo há pelo menos dois anos, além da derrubada de candidaturas, como a de Ciro Gomes no plano federal e a de vários outros candidatos nos estados. Tudo isso revela uma disposição que nada tem a ver com o respeito à democracia. São métodos que já revelam bastante o que pode vir pela frente com uma vitória de Dilma com jeito de terceiro mandato.

Não, esta não é uma eleição como qualquer outra, daí a necessidade que nossos políticos sejam mais Tiradentes e bem menos, muito menos mesmo, Joaquim Silvério dos Reis. A escolha é das mais fáceis, afinal é difícil acreditar que alguém queira se emparelhar simbolicamente com o dedo-duro que entregou Tiradentes, mas ainda tem político que parece relutar entre os dois.

Hoje a Folha de S. Paulo conta que surgiu mais uma movimentação ardilosa para dividir o voto dos tucanos em Minas Gerais, o voto “Helécio”, cuja idéia é juntar o voto no ex-governador tucano Aécio Neves para o Senado com o voto em Hélio Costa, do PMDB, para o governo mineiro. Com isso, o candidato Antonio Anastasia perderia votos na dobradinha com Aécio, que o apóia.

Este “Helécio” é uma das várias composições montadas com o nome de Aécio Neves em Minas, onde até Dilma Roussef foi tirar uma casquinha falando do voto “Dilmasia”.

Esta não é a primeira eleição em que Aécio Neves se destaca pela ambigüidade, mas pode ser a última em que ele colhe disso algum benefício. Desde 2002 ele vinha ganhando com o chamado voto Lulécio, pouco se importando com o crescimento nacional do seu partido e até esfaqueando pelas costas antigos companheiros. Nesse ano em que ele saiu como candidato ao governo de Minas, José Serra disputava a presidência com ótimos números nas pesquisas.

O voto Lulécio rendeu para Aécio a eleição no primeiro turno, com 57,68%. Já Serra teve em Minas Gerais Serra 22,86% dos votos contra 53,01% de Lula.

Em 2006, o voto Lulécio continuou rendendo. Candidato à reeleição, Aécio ganhou também no primeiro turno, desta vez com uma vantagem bem maior: 77,03%. A vítima foi Geraldo Alckmin. A votação em Minas do candidato tucano à presidência alcançou 41,60% contra 50,80 de Lula. Foi no segundo turno que a estratégia do voto Lulécio mostrou-se desastrosa para o candidato tucano à presidência: ele teve menos votos que no primeiro turno, com 34,81%. Já Lula subiu para 65,19%. Do primeiro para o segundo turno, Alckmin perdeu meio milhão de votos.

Agora em 2010 não tem Lulécio, porém, entre outros tipos de votação estimulados pela ambigüidade de Aécio Neves surge agora o “Helécio”. É o que parece um sinal vermelho, depois de um sinal amarelo emitido nas eleições de 2008 para a prefeitura de Belo Horizonte.

Naquele ano um Aécio confiante em sua popularidade teve a supresa de ver seu candidato a prefeito, Marcio Lacerda, ir para o segundo turno em disputa apertada (43% a 41%) com o azarão Leonardo Quintão, do PMDB.

Aécio, que já dava como certa a vitória de seu candidato no primeiro turno, teve que apelar até para uma aliança com o PT para derrotar Quintão no segundo turno.

Esta eleição para o governo estadual parece trazer para ele algo parecido. Com a diferença que desta vez o PT está com Hélio Costa. E o "Helécio" que inventaram agora no estado é estratégia que veio só para extrair o que for possível de votos para Hélio Costa, colando o candidato do PMDB ao prestígio da sua candidatura ao Senado.

A balançada do “Helécio” fez o ex-governador mineiro lançar até nota oficial, onde diz o seguinte: “Desautorizo veementemente qualquer tentativa de vincular o meu nome a qualquer candidatura que não seja a do governador Antonio Anastasia”.

Parece que o alarme soou bem alto. Se é que a idéia do "Helécio" vem mesmo da campanha do PMDB e do PT. Em Aécio a dubiedade é tanta que faz até duvidar das origens de uma artimanha como esta.

Mas o certo é que com o sucesso de uma movimentação como esta Aécio Neves pode até ir para o Senado, mas não faz o sucessor em Minas, o que não é nada bom para o seu futuro político. Mas a coisa pode até piorar se, além dele perder o poder em Minas Gerais, Serra também não se eleger para presidente.

E dificilmente uma vitória de Hélio Costa em Minas Gerais ocorreria em conjunto com a eleição de Serra. Parece claro que o fortalecimento de Costa no segundo maior colégio eleitoral do país pode ser determinante para a vitória de Dilma. Daí o esforço de Lula e a direção nacional do PT para apoiar Costa, inclusive derrubando a candidatura própria do partido no estado e fazendo muita pressão para o ex-ministro Patrus Ananias ser o vice na chapa.

Será que alguém com os anos de chão de Aécio pode achar que no final todo esse esforço é para ajeitar o futuro dele? Com Hélio Costa governando Minas Gerais, Alckmin como governador de São Paulo e o PT novamente elegendo um presidente da República é provável que Aécio Neves tenha que ordenar que seus assessores façam uma boa decoração em seu gabinete no Senado. E que a sala seja bem confortável, pois é lá ele deve passar os próximos oito anos, sem chance para sonhos mais altos. E como justa homenagem, o tucano pode também pendurar na entrada do gabinete o retrato de Joaquim Silvério dos Reis.
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POR José Pires

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