quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Janine Ribeiro pede pra deixar pra lá a quebra de sigilo

O professor da USP, Renato Janine Ribeiro, resolveu dar sua opinião sobre a quebra de sigilo de pessoas ligadas ao candidato José Serra. Fez isso na Folha de S. Paulo, em um artigo que já está sendo republicado na blogosfera petista, os blogs e sites governistas, alguns deles com suspeita de seus donos receberem dinheiro do governo ou favorecimentos pessoais. Os dados revelados com a quebra de sigilo eram publicados nestes blogs antes do caso virar um escândalo.

Parece coisa combinada, pois sempre é assim. Basta surgir complicação para o PT que logo são publicados artigos com argumentações em muito parecidas com as dos petistas. Em alguns casos esses textos com ares de imparcialidade até antecipam a linha de defesa que vem depois.

Não estou evidentemente afirmando que Janine Ribeiro esteja metido em uma conspiração contra a oposição, mas é um fato que ele escreveu exatamente o que lideranças petistas vêm afirmando desde que surgiu o escândalo.

Ele repete inclusive argumentos parecidos com os de Lula, ditos ontem no programa eleitoral de Dilma, quando o presidente da República dividiu o país entre os que gostam ou não do Brasil.

É um raciocínio fascista, que não surpreende dentro do interesse marqueteiro de Lula, mas que soa estranho no texto de um “professor titular de Ética e Filosofia Política”, como Janine Ribeiro se identifica no pé do artigo.

O professor traz essa argumentação no final do texto, depois de afirmar que “a exploração política do caso é exagerada” e de colocar a quebra de sigilo da filha de Serra na mesma situação de “centenas de milhares de declarações vendidas na rua 25 de Março, em SP”.

Num trecho do artigo, ele chega ao ponto de dizer que o que está ocorrendo parece uma "birra um com o outro" e que "o povo" não merece isso. Pois é, acontece um atentado contra os direitos de vários contribuintes e um professor da USP vê na reação da oposição "uma birra".

Depois de escrever essas coisas, ele finaliza dessa forma: “Teremos, todos nós, que construir este país, pelo resto de nossas vidas. Melhor evitar paixões e atos que tornem, depois, difícil a colaboração, pelo menos entre quem gosta do Brasil”.

É esquisito um intelectual dividir o debate político entre os que gostam ou não gostam do Brasil. A esquerda tem o hábito de tachar qualquer coisa que a desagrade de “fascista”, mesmo que o caso não se enquadre de fato na definição. Mas essa visão política expressada primeiro por Lula e depois por Janine Ribeiro é, sem dúvida alguma, fascista.

O ponto central do artigo do professor é de que houve uma exploração política da quebra de sigilo. Ainda para justificar formalmente sua tese, ele traz para a discussão a opinião de que a mídia tem falhado na cobertura dessa eleição, centrando a atenção mais no resultado de pesquisas ou em escândalos do que na informação global, inclusive do que acontece nas eleições estaduais.

Nisso, em parte o professor pode até ter razão, mas ele encaixa esta preocupação apenas para fortalecer e até justificar sua tese da inocência do PT e de Dilma em relação ao escândalo. O que ele propõe é que o caso da quebra de sigilo seja deixado pra lá pela imprensa e a oposição. “Melhor seria a oposição e a imprensa que a apoia aceitarem que nas eleições se perde e se ganha “, ele diz.

Janine Ribeiro não está gostando do rigor com que este tema está sendo tratado, o que é surpreendente no professor que levantou uma polêmica danada quando defendeu a pena de morte para o grupo de assassinos que roubou um carro no Rio de Janeiro e levou à morte uma criança que ficou dependurada pelo cinto de segurança à porta do carro, no que ficou conhecido como “Caso João Hélio”, ocorrido em 2007.

Na época, o professor foi além da defesa da pena de morte. “Se não defendo a pena de morte contra os assassinos”, ele escreveu sobre o crime, “é apenas porque acho que é pouco”.

Já quanto à crimes contra a Constituição e o Estado, parece que Janine Ribeiro não vê a necessidade de rigor algum.
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POR José Pires

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