segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O beija-mão toma conta de vez da política



Corre pela internet um daqueles vídeos que, antes do impressionante rebaixamento moral feito pelo lulo-petismo na política, só poderia ser divulgado como forma de ataque de algum adversário. É uma propaganda de apoio do presidente Lula ao candidato petista ao Senado pelo Rio de Janeiro, Lindberg Farias.

Na propaganda veiculada no horário eleitoral, o candidato aparece beijando a mão de Lula. Isso mesmo, beijando as mãos do adorado chefe (veja acima a sequência; para aumentar a imagem, clique em cima dela). Na ânsia de se eleger e para buscar se grudar à suposta carga de popularidade de Lula, já está se fazendo de tudo. Política é apenas uma questão de ganho, onde dignidade pessoal e respeitabilidade política não tem mais importância.

O curioso aqui é um político assumindo como se fosse positiva esta forma de reverência que é pura sabujice. Numa cultura em que não se beija nem a mão de uma dama o caráter bajulatório do gesto é de tal forma degradante que até virou símbolo do que há de pior na relação com o poder.

Independente de quem seja o dono da mão que está sendo beijada, o servilismo é tanto que isso até virou uma simbologia do rebaixamento moral na política.

Mais interessante ainda é o fato desse gesto do mais baixo puxa-saquismo estar sendo feito com muito gosto e alarde por um político que deve sua carreira à atuação na juventude como um dos líderes do movimento dos caras-pintadas, que saiu às ruas na década de 80 contra a corrupção do governo Collor e que aconteceu naquela época exatamente para ir contra a política do beija-mão de poderosos.

E o PT coloca isso como peça de propaganda política, assumindo de vez o gesto desprezível como marca de reverência ao chefe-máximo do petismo, tido como a grande força simbólica da história do partido. O vídeo do beija-mão não tem música, mas o tema do filme "O Poderoso Chefão" viria bem, não?

Oito anos de lulo-petismo no poder fizeram de muitos contrassensos quase que uma normalidade, disparates tornaram-se coisa do cotidiano, de tal forma que não é improvável que logo mais carregar milhares de dólares escondidos da lei na cueca possa ser visto apenas como uma moda a mais.

Despropósitos tomaram conta da vida política brasileira e até tomaram frente às nossas instituições políticas. Basta ver José Sarney como presidente do Senado. A situação é tão bizarra que podemos ver num mesmo dia e no mesmo jornal Sarney sendo denunciado por corrupção no Senado numa página e noutra escrevendo coluna como se fosse um pensador político.

É provável até que o nível de impregnação disso na cultura do país esteja em grau tão alto que possa até fazer as pessoas verem de forma positiva sabujices como a do ex-cara-pintada agora transformado em um reles cara de pau.

De qualquer forma, o vídeo é um sinal dos tempos. Um aviso do que pode vir por aí. No Brasil, onde raras leis pegam, as do estilo de Murphy tem toda validade: aqui, quando a gente acha que as coisas podem piorar, pioram mesmo.

É difícil não temer pelo futuro de um país onde já está sendo usado como propaganda política aquilo deveria ofender a dignidade e o senso de ética. O vídeo que mostra o subalterno de Lula beijando sua mão é só o reforço visual e símbólico do que vem acontecendo em nossa política. Os limites que foram ultrapassados já permitem que transgressões éticas e morais sejam vistas como um conceito positivo.
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POR José Pires

2 comentários:

Newton Moratto disse...

O GESTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

E vale notar: quem se ajoelha para a mão de Lula beijar, é como reverenciar José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, José Dirceu, e outros tantos mais da mesma espécie.

Olho Vivo disse...

Nem era para ter mais isso na política brasileira. E vem o PT e piora tudo.