sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Gal Costa atropelada pelo Twitter

Nem sabia que a cantora Gal Costa tinha Twitter, mas na internet estão noticiando que ela abandonou o dela depois que se meteu numa polêmica em que foi chamada até de racista, por causa de um post que não agradou a ninguém.

Twitter é um perigo. Foi numa tuitada do presidente do PTB, Roberto Jefferson, que começou a que foi talvez a maior crise da candidatura de José Serra e, com certeza, a crise que detonou todas as outras que vieram depois. Jefferson anunciou em primeira mão o nome de senador paranaense Alvaro Dias como vice e veio então toda aquela confusão.

O Twitter também já complicou a vida de outras pessoas. Teve gente que até foi demitida depois de postar alguma bobagem qualquer, porque no Twitter, basicamente é mesmo tudo bobagem, no nível de uma conversação de mesa de bar. No geral, o clima é esse. E aí é que está o problema. As pessoas não atentam para a diferença que a palavra assume na forma escrita. Este é um erro cometido principalmente por quem não é do ramo da escrita.

A cantora escreveu isso no seu Twitter: "Como na Bahia as pessoas são preguiçosas! Técnico do ar-condicionado ñ pode terminar o trabalho pq está com dor de cabeça. Essa é a Bahia!!!" É uma banalidade que provavelmente ela pretendia que fosse entendido como uma brincadeira a mais com a fama de preguiçoso dos baianos, mas deu um bafafá danado.

É o outro grau da palavra quando é escrita. Gal poderia dizer a mesma coisa que saiu no Twitter até para o técnico com dor de cabeça e possivelmente ele até iria rir da frase. Mas um bilhete escrito da mesma forma já poderia ofender bastante. E escrito no Twitter, a coisa piorou. Já tem gente vendo nisso uma manifestação de preconceito contra os baianos. Ah, tenha paciência, não?

Mas acontece isso mesmo. E não é apenas em razão da rapidez da internet e a Gal deveria saber disso. Na época em que o falecido senador Antonio Carlos Magalhães foi flagrado rompendo o sigilo da votação eletrônica no Senado, ela e colegas cantores baianos foram prestar solidariedade a ele.

Pois quando essa solidariedade virou letra de forma nas notícias da imprensa, Gal e os artistas baianos sofreram um violento e justo repúdio de gente de todo o país. Foi justo porque até o senador ACM sabia que tinha cometido uma safadeza, tanto que renunciou para não ser cassado.

Tem várias besteiras, digamos assim, midiáticas, da Gal. Mas vou falar de uma que acompanhei de perto. Nessa ocasião, muitos anos antes, Gal poderia também ter aprendido uma boa lição sobre o efeito do que sai da língua e depois vai para os jornais. Foi no início da década de 80. Depois de chegar para um show na cidade de Londrina, no Paraná, ela falou para os jornalistas que a cidade parecia uma fazenda. Quando isso saiu impresso nos jornais do dia seguinte tinha gente que queria até linchar a cantora.

Escrevo tudo isso porque o compositor Tom Zé quis fazer um comentário sensato (logo ele, não?) sobre o caso e disse o seguinte: "Gal está aprendendo a lidar com os códigos da comunicação de massa, é isso".

Eu penso que o caso dela não tem remédio. Tem mesmo que abandonar o Twitter. A não ser, é claro, que contrate um assessor para Twitter. Artista tem assessor para tudo quanto é coisa que os mortais comuns fazem sózinho, então por que não um assessor para Twitter?


Retoque: Ou um P.S. sobre algo que me deixou encafifado. É a foto que a cantora usa como identificação em seu Twitter. Chega a ser engraçado, pois parece ela antes da invenção da internet, o que é confirmado pelas fotos publicadas nas notícias sobre a polêmica, onde aparece uma senhora gorda. Deve ser aquela coisa do meu melhor lado para fotografia. O melhor lado da Gal é o de vinte anos atrás, é isso?


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POR José Pires





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