sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A hipocrisia de cada um

Só se espanta com a defesa de Delúbio Soares feita pelo deputado André Vargas quem não conhece a história do deputado eleito pelo Paraná. O petista, que foi um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, fez uma apaixonada defesa da volta do ex-tesoureiro que foi expulso do partido. Vargas disse que seria "hipocrisia" não aceitar Delúbio de volta.

Bem, hipocrisia é uma coisa que depende bastante do ângulo de visão. E o que poderia fazer um deputado num governo que frauda até o superávit fiscal? Num ambiente desses evidentemente nenhum conceito pode ser visto com exatidão. E certamente quem defendesse o respeito estrito às regras morais ficaria de fora do círculo íntimo do poder.

Daí a relativização da ética. Outra boa explicação sobre este fenômeno está no convívio natural, que pode moldar comportamentos e até mesmo o olfato. Tem um bom ditado gaúcho para isso: os gambás se cheiram.

E tem também a história pessoal de cada um. Isso conta bastante em qualquer análise moral. Na diferença final entre um Al Capone e um Eliot Ness, é claro que conta muito como foi a construção da vida de cada um. E também é claro que numa hipotética discussão entre os dois não haveria jeito deles se entenderem sobre o conceito de hipocrisia.

Vargas já teve envolvimento com um prefeito que foi cassado por corrupção em Londrina, a cidade onde o petista começou sua carreira. O prefeito era Antonio Belinati, que foi acossado durante meses pela população tendo à frente um movimento político denominado "Pé Vermelho! Mãos Limpas!".

Em junho de 2000, Belinati acabou sendo cassado. Mas antes disso o PT se entendeu muito bem com ele. Fizeram até dobradinha política com seu filho, lançado pelo prefeito como candidato a deputado estadual. E durante a luta empreendida pelos londrinenses para retirar da prefeitura o político acusado de corrupção, líderes do PT local, como Vargas e o agora ministro Paulo Bernardo, estiveram sempre do lado de Belinati.

Numa apreensão feita pelo Ministério Público de uma caderneta onde eram anotadas quantias em dinheiro repassadas a políticos pelo prefeito Belinati apareceu o nome do deputado Vargas, além das iniciais "P.B." atribuídas a Paulo Bernardo. O fato ficou conhecido como "Lista do Zavierucha". Zavierucha era o tesoureiro que fazia as anotações.

Durante o movimento feito pela população contra a corrupção na prefeitura, os membros do movimento "Pé Vermelho! Mãos Limpas" chegaram a ser processados pelo então deputado federal Paulo Bernardo, numa ação que veio evidente para pressionar e dificultar o trabalho político de oposição a Belinati. Na época, Vargas e Bernardo eram aliados do maior apoiador do prefeito londrinense e peça essencial do esquema que dominava a prefeitura, o então deputado José Janene, já falecido e que foi um dos políticos denunciados ao STF pela Procuradoria Geral da República no inquérito do mensalão, que ainda corre naquele tribunal. Não só por coincidência, Janene e Delúbio estão lado a lado, como acusados no inquérito do mensalão.

Quando teve seu nome flagrado em 2000 na caderneta do prefeito cassado por corrupção, o deputado Vargas imediatamente alegou que era dinheiro para campanha política, buscando diminuir o delito como sendo uma questão de, no máximo, um caixa dois.

Como se vê, a solidariedade a Delúbio Soares é um fator natural. Até porque a justificativa que o ex-tesoureiro e outros petistas implicados no mensalão usam para tentar escapar de suas responsabilidades teve origem, de certa forma, na cidade onde o deputado André Vargas começou sua pujante carreira.

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POR José Pires

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