terça-feira, 14 de março de 2017

Leandro Karnal, suas dificuldades de comunicação e os seguidores intratáveis

O desfecho da divulgação do jantar de Leandro Karnal com o juiz federal Sérgio Moro pegou mal para o professor de filosofia. Depois de ter sua página de Facebook invadida por esquerdistas raivosos e ansiosos por uma chance de provar para si mesmos sua utilidade política, ele apagou o post do jantar com Moro. Não sei como Kant explicaria isso, mas, no popular, o cara amarelou. E no texto em que explica o caso, ele ainda fez uma autocrítica que passa também por confissão de incapacidade para compreender que a subjetividade em comunicação pode resultar em encrenca braba. Ainda mais nesses tempos estranhos, em que até quando somos muito claros levamos cacetadas por coisas que nunca chegamos a pensar, quanto mais escrever.

Karnal foi vítima de algo que é muito comum no Facebook, onde pode-se ver o tempo todo muita gente que parece ter algo muito importante para nos dizer, mas que infelizmente não está expresso no texto que sai publicado. Daí, cada um interpreta do seu jeito. É claro que esta é uma dificuldade perdoável numa página pessoal e vindo de quem não é do ramo do pensamento e da escrita. Mas o Karnal é um bamba da filosofia. Tem o aval de colegas importantes quanto a esta qualidade e ele mesmo se esforça na função de mensageiro da inteligência. Corre o país na tarefa de mostrar que podem contar com ele na função de sábio. E tem até a pose.

Faltou também sensibilidade ao professor. É óbvio que Karnal não havia compreendido até agora seu poder de sedução sobre a esquerda. O fuzuê criado pela militância esquerdista tem a inconfundível histeria de amores traídos. É a pura violência da paixão, com o ressentimento de ver no Facebook uma selfie do amado jantando com outra pessoa. Karnal pode até alegar que o que vem falando nos vídeos que estão por aí não justifica essa imposição de fidelidade, mas aí ele terá um problema filosófico sério. A situação será a de casa de ferreiro e espeto de pau. O professor não está se comunicando direito.

Na prática, a compreensão de Karnal sobre o que se passou com ele também não foi lá essas coisas. Parece que só ele não sabia que uma tarefa expressa determinada para a militância azucrinadora é a de infernizar a vida de Sérgio Moro. A ordem vem de cima, dos que discordam absolutamente do hábito de Moro de prender corrupto. São incompatibilidades impossíveis de serem amenizadas por uma ou duas taças de vinho, seja de que marca ou safra. Será que ainda havia alguém no Brasil que não sabia que aparecendo em situação amigável com Moro atrairia sobre si esta reação da esquerda? Não tem mais. Até o Karnal já sabe.

E olha que eu, na abertura de espírito que me faz primeiro ver como é que as coisas se procedem para depois firmar um juízo, tive até a impressão de um ato admirável de coragem quando Karnal postou a foto com Moro. Bem, sejamos ainda tolerantes. Vamos esperar um pouco antes de concluir que na verdade a divulgação do jantar foi apenas uma atitude impensada, apesar de vir de uma sumidade em filosofia, um homem com todo um cabedal kantiano, mas que infelizmente não tem a capacidade de compreender as consequências do mais simples gesto político.
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POR José Pires

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