terça-feira, 14 de março de 2017

O bode na sala abrindo espaço para a esquerda

O presidente Michel Temer foi sempre um político de bastidores, extraindo sua força política do controle interno do partido e do jogo político praticado fora dos olhos do público, entre as paredes no Congresso Nacional e noutras casas legislativas. É nisso que ele prospera, conforme demonstra sua carreira política, incluindo o cargo de presidente da República, conquistado exatamente pela sua habilidade em lidar com a classe política.

A partir dessa experiência em negociar politicamente com os colegas, ele encaixou vários bodes na sala na proposta de reforma da Previdência. Os bodes estão lá para atrair repúdio popular e depois serem eliminados pelos deputados. Dessa forma, a proposta seria aprovada, com os parlamentares podendo fazer uma média com o eleitorado. Tiram os bodes da sala, mas segue adiante o que interessa de fato ser aprovado.

A jogada é velha e qualquer prefeito de cidade pequena sabe como usá-la quando é necessário aprovar medidas amargas. No entanto é preciso ter senso de oportunidade, um cuidado que evidentemente tem relação direta com os espaços que podem ser abertos para a atuação da oposição. E parece que Temer vacilou com seus bodes, faltando ele prever o que poderia ocorrer no período de discussão pública do projeto, antes do bicho fedido ser tirado da sala. Já se nota que com essa reforma foi aceso o fogo de uma militância que já estava quase nas cinzas, com um estímulo também para uma variedade de entidades pelo país afora, com um bom apelo para sindicatos fortes e as centrais sindicais colocarem suas máquinas à frente de protestos populares.

A própria entrada em cena da reforma da Previdência já foi um erro neste momento delicado do país e da própria situação política do governo Temer. Com os bodes, a coisa ficou pior ainda. Na história recente do país este tema da Previdência tem sido um atiçador das emoções mais fortes da população. Por isso mesmo é que, governo após governo, todos foram evitando medidas que caso fossem aplicadas pouco a pouco evitariam a conturbação que pode acontecer agora, com a esquerda se revigorando nas ruas depois da infeliz proposta de Michel Temer.
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POR José Pires

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