sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Bolsonaro reprovado na sabatina de Marine Le Pen

A líder da extrema-direita na França, Marine Le Pen, deu uma boa definição do que é de fato politicamente o candidato Jair Bolsonaro. Nesta quinta-feira, ela criticou Bolsonaro por ele dizer “coisas que são extremamente desagradáveis”. Ela não vê o candidato do PSL como um político de extrema-direita e notem que ela entende bastante o assunto. Foi com uma plataforma de direita que Le Pen foi ao segundo turno, em disputa com o atual presidente da França. Emmanuel Macron.

A presidente da Frente Nacional e deputada do Parlamento Europeu está bem informada sobre o candidato brasileiro, que realmente é barra-pesada. No popular, ela disse que ele é um mero boca-suja. E isso porque certamente viu poucas das besteiras ditas por Bolsonaro. Le Pen deve ter tido conhecimento de um resumo das suas declarações, de modo que não teve que encarar o bruto na sua totalidade. Mesmo quem é bem informado sobre política está sempre se surpreendendo com a descoberta de alguma declaração chocante desencavada de arquivos de sua brutal ignorância. E no caso de Bolsonaro, inexiste o risco de ser material fake. Sua estupidez é sempre de viva voz.

Marine Le Pen falou sobre o candidato a presidente do Brasil em uma entrevista ao Canal France 2. "Ele tem dito coisas que são extremamente desagradáveis, que não podem ser transferidas para nosso país, é uma cultura diferente", ela disse. A líder direitista quer na verdade se livrar de prováveis paralelos entre o nosso boca-suja e o partido dela, na França. O direitismo de Le Pen é ideológico, nada tem a ver com o oportunismo eleitoral de Bolsonaro, cuja conduta grosseira já antiga acabou se encaixando no atual clima político, com ele vestindo com gosto a carapuça lucrativa de direitista, mantendo-se, porém, o mesmo político sem doutrina alguma, de olho apenas no favorecimento pessoal da política para ele e os filhos.

A líder da Frente Nacional tem trabalhado para afastar a imagem de grosseria típica de tipos como Bolsonaro, que atrapalha bastante na disputa de cargo majoritário e afeta a credibilidade política. Em 2015, a deputada francesa teve a coragem de expulsar o pai do partido que ele próprio fundou. Do mesmo modo que Bolsonaro, o velho direitista falou bobagens demais, causando séria rejeição política ao partido direitista junto à opinião pública francesa. Quando na entrevista foi pedido que ela comentasse as polêmicas declarações de Bolsonaro, Le Pen disse que “a partir do momento em que alguém diz coisas desagradáveis, ele passa a ser de extrema direita na imprensa francesa”, certamente apontando a relação que costuma ser feita por adversários dela, porém o candidato brasileiro foi situado apenas como um sujeito desagradável. “Não vejo Bolsonaro como um candidato de extrema-direita", ela disse.

Eis aí a opinião de uma especialista em direita, além de ser também uma famosa praticante da doutrina. Já falei aqui sobre o equívoco de Bolsonaro ser visto como um direitista, quando na verdade o encapetado capitão continua o mesmo oportunista que fez carreira na política e ainda convocou os filhos para faturar junto com ele. Se desse lucro político para ele, Bolsonaro seria capaz até de visitar o Lula na cadeia. E de braços dados com o Fernando Haddad e a Gleisi Hoffmann. Até cair em seu colo a chance de ser presidente da República, seu plano era dar continuidade à carreira de político do baixo clero. Caso seja eleito, estará satisfeito em ser um sub-Sarney. Desde que os ganhos financeiros sejam  parecidos ou até um pouco mais que os do velho salafrário do Maranhão.

Claro que mesmo essa baixa qualidade política não impede que possa surgir um retrocesso em seu governo, mas o risco será menos por sua liderança do que pelo asqueroso caldo de cultura que o trouxe até aqui, que pode até ferver com ele no poder. Longe de ser o condutor de qualquer processo, Bolsonaro vem sendo apenas o beneficiário de um clima político que nem foi criado pela direita. Veio da intolerância do PT no poder, na política de intimidação esquerdista que gerou uma maciça votação de protesto, cujo beneficiário foi Bolsonaro, não por uma qualidade particular sua, mas por causa da falência da classe política no geral, que não teve nenhum líder à altura da tarefa de tirar o Brasil da beira do abismo.
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POR José Pires

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