terça-feira, 16 de outubro de 2018

Cid Gomes e sua autocrítica do PT

Quando eu digo que as coisas andam de um jeito tão torto na campanha de Fernando Haddad que até parece que Jair Bolsonaro infiltrou alguém dele na equipe petista pode parecer exagero, mas como é que se explica esse negócio de chamarem Cid Gomes para discursar em ato público da campanha? Fizeram isso no Ceará e claro que tomaram na cabeça. Foi na noite desta segunda-feira. Cid Gomes discutiu com a platéia petista, gritou que o PT vai “perder feio a eleição”, exigiu mea culpa do partido do Lula e disse que os petistas vão perder “porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram dono de um país, e o Brasil não aceita ter dono, é um país democrático".

Eu sei que esquerdista tem problema com memória de longo prazo — esquecem os crimes de Stalin, pensam que a luta armada era pela democracia, acham que Che Guevara tinha ternura, essas coisas. Mas encrenca com o irmão do Ciro Gomes é memória recente. O atual senador eleito pelo Ceará foi ministro da Educação no segundo governo de Dilma Roussef, interrompido no meio pelo impeachment. Dilma tinha aquele slogan esquisito de “Pátria educadora”, que ela tornou ainda mais bizarro nomeando Cid para o ministério que teria o papel de educar a mãe gentil. Logo quem foram colocar no papel de educador.

Bons modos não é com ele. Do mesmo modo que seu irmão Ciro Gomes, Cid diz umas coisas que às vezes ate dá para concordar. O problema é a hora e o lugar que ele escolhe para dizer algumas verdades. Dilma já estava com a oposição em seus calcanhares. Os ouvidos dela zuniam com panelaços pelo país afora. Foi quando Cid disse numa cerimônia oficial que “a Câmara tem 300 a 400 achacadores” e de imediato recebeu uma convocação oficial para explicar-se perante os deputados. Até a base aliada de Dilma votou a favor. Todo mundo queria a explicação. Ele teve que ir e fez a situação piorar para o governo petista, agravando a crise com o Congresso. Da tribuna, deu de dedo no presidente da Câmara, que era Eduardo Cunha, reafirmou o que havia dito e ainda falou mais algumas coisas. E evidentemente acelerou o processo de impeachment. Isso foi em março de 2015, quando Cid teve que pedir demissão. O boquirroto ficou menos de três meses no cargo.

Este é o cara estourado que resolveram colocar para discursar em evento da campanha do PT, com Haddad já repleto de problemas numa candidatura que vem dando chabu. O PT devia estar satisfeito do Ciro Gomes estar longe no estrangeiro, mas aí alguém teve a ideia de chamar o irmão dele para dar uma força pra campanha. Pode ter outra explicação para o deslize, mas é tão grande a besteira que não se pode descartar a presença de agente bolsonarista infiltrado.
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POR José Pires

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