quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Enfim uma fala honesta sobre a Lei de Anistia

Existem poucas pessoas mais autorizadas que o economista e ex-preso político Paulo de Tarso Venceslau para opinar sobre a punição aos torturadores da Ditadura Militar, assunto que o ministro da Justiça, Tarso Genro, vem colocando em primeiro plano. É uma questão bastante complicada, principalmente pelo fato de isso implicar em uma revisão da Lei de Anistia, de 1979.

Ontem, em entrevista à rádio Eldorado, o ex-preso político se colocou contra a posição de Tarso Genro, que ele acusa inclusive de estar usando o tema para se fortalecer junto a determinadas forças do PT que podem ajudá-lo a ser o candidato do partido à presidência da República em 2010.

Paulo de Tarso foi guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional, a ALN de Carlos Marighela, e participou da ação mais marcante da guerrilha urbana brasileira, o seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick em setembro de 1969.

Ele acabou sendo preso, torturado, sendo depois um dos anistiados. Mais que isso, ele foi também um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e o primeiro militante do partido a perceber os descaminhos que levariam aos vários atos de corrupção de petistas tanto em prefeituras quanto no governo federal.

Venceslau participou das primeiras administrações petistas no final da década de 80 e na primeira metade da década de 90, em cidades expressivas como Campinas e São José dos Campos, e ali percebeu que lideranças tramavam no PT um desvio radical em sua proposta de ser um partido ético.

Na prefeitura de São José dos Campos, da prefeita Angela Guadganin (que depois viria a ficar famosa como a deputada dançarina do mensalão), atuou como Secretário de Finanças por indicação de José Dirceu e Aloizio Mercadante. Foi então que apareceu a Consultoria para Empresas e Municípios, a notória CPEM. À frente da empresa estava o não menos notório compadre de Lula, Roberto Teixeira.

Paulo de Tarso impediu negociatas da CPEM em São José dos Campos e denunciou à Lula e à direção do partido o que andava acontecendo não só naquela cidade, mas também em outras administrações petistas, com um grupo do qual participava também Paulo Okamoto, outro compadre de Lula.

Em 1995 Paulo de Tarso mandou uma carta com as denúncias à Lula, que então era presidente do PT. O partido fez uma comissão interna para a apuração do caso, que acabou concluindo que Paulo de Tarso tinha razão, mas evidentemente nada de prático foi encaminhado, pois ali estava começando a trajetória de enriquecimento ilícito de várias ligadas ao PT e a inserção do partido nas velhas práticas políticas com o objetivo exclusivo de abocanhar o poder.

Essa vivência no PT é um elemento que dá ainda mais autoridade para Paulo de Tarso entrar na discussão sobre a revisão da Lei de Anistia, afinal essa questão inoportuna vem do próprio partido. O ex-guerrilheiro é contra a proposta e até alerta que o ministro da Justiça, Tarso Genro, estimula esse debate visando na verdade se fortalecer internamente junto aos setores mais de esquerda do PT, com o objetivo de ser o candidato à presidente da República pelo partido.

Paulo de Tarso traz também uma importante autocrítica sobre o papel da luta armada, com uma ressalva muito rara em manifestações da esquerda sobre este período da história brasileira. Ele diz que os erros vieram tanto do lado da repressão política quanto da esquerda armada. E que a esquerda lutava, na verdade, para a implantação de outro tipo de ditadura no país.

É algo bastante simples, mas que deve ser sempre reafirmado para deixar bem claro o papel dessas pessoas em nossa história: todas aquelas organizações armadas lutavam contra o regime militar não pela defesa da democracia, mas para a implantação de outro tipo de autoritarismo.

Cada organização tinha sua tendência – maoísta, stalinista, trotsquista, ou qualquer outra −, mas todas com uma meta em comum, que era o estabelecimento no Brasil de algum tipo de ditadura comunista.

Vale à pena ouvir as argumentações de Paulo de Tarso em sua própria voz, no importante depoimento histórico colhido pela rádio Eldorado. Para isso, clique aqui.
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POR José Pires

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