quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Um secretário pra arrumar confusão

A gente pensava que o ex-presidente (oba, até que enfim!) Lula seria um problema para o governo da presidente Dilma Rousseff e criaria ambigüidades políticas com seu estilo falastrão, mas a divisão veio mesmo de dentro. Ainda é cedo para Dilma sossegar em relação ao Lula, mas foi da sala ao lado que veio a confusão.

Governo do PT tem bastante maluquice, mas é esquisito logo em início tão problemático de administração, com divergências com sindicalistas da base aliada, corte de gastos e volta da inflação, o secretário-geral da Presidência dar o pira. Mas foi o que fez Gilberto Carvalho. O homem foi para o Fórum Social Mundial, em Dacar, no Senegal, e passou a opinar de forma determinante sobre assuntos que não são da sua alçada

Esse senhor não é brincadeira. Carvalho não conseguiu até agora sequer dar explicações convincentes para um conflito mais simples onde teve papel central, que é o da morte de seu falecido amigo Celso Daniel, que foi seqüestrado, torturado e assassinado quando era prefeito de Santo André, e vai se meter na confusão dos diabos que é o conflito no Egito. Não dá para evitar o trocadilho: se aquilo já é areia demais para o Brasil, imagine então o excesso que é para o seu caminhãozinho na Secretaria- Geral da Presidência.

Não sei se foi porque estava ao lado do ex-presidente (opa, mas isso é bom mesmo!) Lula, mas Carvalho resolveu também repetir o chefe e pedir desculpas pela escravidão. O ato é uma bobagem, mas, de qualquer forma, um secretário-geral não tem legitimidade para tomar uma atitude dessas em nome do país.

A bem da verdade, nem o presidente a República pode fazer algo assim se não for escorado numa legítima deliberação entre os brasileiros. O que acontece é que para contemplar parte da militância negra pendurada em boquinhas no governo ou com privilégios oferecidos pela máquina pública, o governo Lula veio com suas tolas leituras sobre a questão do negro em nosso país, a começar por este mito maluco da existência de uma africanidade.

Quando alguém vem com essa conversa pra mim, sempre alerto que antes de tentar me convencer é melhor juntar primeiro numa mesa um egípcio, um argelino e um sudanês e mais alguns países que podem ser escolhidos à vontade para ver o que eles pensam dessa idéia de uma África integral.

Zumbi quem mesmo?
Mas o pior é que, neste assunto, até naquilo que toca de fato o Brasil essa esquerda toma o caminho errado. Por falta de conhecimento ou má-fé. Ou mesmo as duas coisas, pois elas costumam caminhar juntas. Na análise do que foi a escravidão no país, esquecem Joaquim Nabuco e enaltecem um tal de Zumbi dos Palmares. Digo “um tal” porque falam de uma figura inventada, porque Zumbi não teve peso algum na libertação dos escravos.

Esquecem Joaquim Nabuco e até aí tudo bem. Se Nabuco tivesse a infelicidade de ver um dirigente petista na sua frente certamente sua reação seria de desprezo. Nabuco foi senador. Já imaginaram essa grande figura brasileira no Senado que Sarney amoldou junto com o governo do PT? Mas, além de esquecer importantes abolicionistas, essa esquerda também despreza de forma equivocada uma liderança importante entre os negros e um dirigente muito mais marcante na história de Palmares, que foi Ganga Zumba.

Mas esse tipo de perspicácia não poderia vir de uma esquerda que idolatra um incompetente político e militar como Che Guevara, em detrimento de tantos outros líderes bem mais capazes (alguns também de esquerda) de vários países da América Latina.


Venham para cá, africanos. Tem Prouni para todos
Mas voltemos ao secretário-geral da Dilma. Além da contrição pessoal em relação à escravidão, ele ainda prometeu curso superior de graça para imigrante africano. Ele quer um Prouni exclusivo para africanos. Será que alguém já explicou para Carvalho a conseqüência que pode ter para o Brasil uma promessa dessas em um continente com tantos países empobrecidos? Se a imigração africana já é um problema na atualidade, com oferta de curso superior de graça onde é que vamos parar?

Mas Carvalho aproveitou também para dar o famoso pitaco na crise política do Egito. Foi imediatamente desautorizado pelo atual ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que parece ter a intenção de tirar o Brasil das frias internacionais em que foi metido nos dois mandatos de Lula.

Em qualquer governo que sucedesse o de Lula alguém teria de fazer isso, pois sua retórica megalomaníaca acabou comprometendo o Brasil com situações muito complexas e que exigem um poder de fogo que o país não tem e provavelmente jamais terá.


Tática petista aérea no Egito
Mas alguém precisa avisar todo o conjunto do governo petista e até explicar detalhadamente para o PT que não somos o rei do mundo. Olha gente, aquele negócio do Obama dizer "Ele é o cara" era só brincadeira. Mas, para petista entender melhor, pode-se usar um outro exemplo simples, utilizando o drama vivido atualmente pelo Egito: como o Brasil tem dificuldade até para distribuir leite no Haiti é melhor ficar de fora da questão do Egito e de outras complicações políticas da região, que junta terroristas islâmicos, o Irã, Israel e todas as ditaduras árabes em torno, a maioria de países endinheirados pelo petróleo.

Mas vamos supor que os brasileiros se metam neste assunto, como o secretário-geral da Dilma expôs em Dacar. Bem, se acontece uma guerra civil no Egito, por exemplo, teremos tropas para mandar para lá para acompanhar o ministro Jobim com sua farda de araque? Ou podemos seguir o estilo da retórica paraquedista que vigora até o momento nas relações externas do governo petista e lançar de paraquedas o Lula para ele mandar ver um olho no olho com a multidão egípcia.

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POR José Pires

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