sábado, 11 de agosto de 2012

As cotas do poder


Uma imagem que ilustra muito bem o sistema de cotas no Brasil é a foto distribuída pelo próprio Senado, onde seu presidente, José Sarney, recebe conselheiros nacionais de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da República (veja abaix o). Ora, os defensores das políticas de cotas afirmam que elas devem ser instituídas como reparação aos negros e aos estudantes de escolas públicas. Na tese desses militantes cotistas elas viriam para estabelecer uma igualdade social.

O senador José Sarney é um apoiador do projeto de cotas e não é difícil entender sua entusiasmada adesão ao projeto. As cotas acabam dando um fecho perfeito ao projeto desenvolvido em uma carreira política de mais de meio século.

O presidente do Senado é o chefe de uma oligarquia política que há pelo menos 50 anos domina o Maranhão, atualmente governado por sua filha. O estado tem um alto percentual de negros entre sua população, estimados em cerca de 70% no último censo. Em qualquer índice social o Maranhão aparece sempre nos níveis mais baixos. Em pobreza só é suplantado pelo Piauí. Saúde e educação no estado são péssimas.

E não existe hoje nenhum brasileiro que tenha tido tanto poder quanto Sarney para mudar este dramático quadro social não só do Maranhão como também também do Brasil por inteiro. Desde a ditadura militar o senador frequenta o poder em nosso país e mesmo hoje, no governo Dilma, ele é uma das figuras mais determinantes, com uma capacidade de mando que exerceu também nos dois governos de Lula e também anteriormente nos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Além disso, Sarney foi presidente da República por cinco anos, antes das eleições diretas.

Ele teve a chance por esse anos todos de mudar o quadro de miserabilidade que aí está e que atinge indistintamente a negros e pobres. Nas suas mãos estiveram também os instrumentos para melhorar a educação pública, de forma que todo estudante pudesse concorrer em igualdade de condições a uma vaga no ensino superior.

Mas Sarney fez exatamente o contrário disso, num processo que não partiu de nenhuma dificuldade pessoal para encaminhar ao menos a criação de um sistema educacional de qualidade e uma realidade com maior justiça social. Sarney não errou de forma alguma. Foi um projeto muito bem executado. A pobreza acompanhada da falta de educação e de cultura são essenciais para manter um eleitorado dócil ao interesse da oligarquia representada por ele.

O fecho que as cotas dão a este projeto político de submissão de todo um povo é o de trazer uma suposta solução para males que Sarney e seus colegas vêm desenvolvendo há tantos anos. É o crime perfeito, de um político que se gaba de um remédio para a doença que ele mesmo criou.
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POR José Pires

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