quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Gilberto Gil acorda para a ameaça ao Xingu

Vá entender um sujeito como o Gilberto Gil. O músico cedeu sua música “Um sonho” para a campanha Xingu +23. Como dá para ver pelo nome, é um movimento em defesa da preservação do Rio Xingu, tendo como centro a oposição à construção da Usina de Belo Monte. A música, que é de 1992, foi uma escolha perfeita e deu um ótimo vídeo. Abaixo passo o link.

Gil conseguiu dar forma poética à discussão sobre a necessidade da sintonia entre desenvolvimento e respeito ao meio ambiente. O tema é cabuloso e poderia resultar num panfleto musical, mas ele fez uma das mais belas canções brasileiras.

Porém, toda a destruição que ocorre hoje em torno do Rio Xingu foi em grande parte tramada e levada à frente pelo governo Lula. A própria construção de Belo Monte é uma de suas idéias fixas. O projeto foi peça de propaganda importante na eleição de Dilma Rousseff. No meio ambiente Lula deixa um legado catastrófico, até com o reforço de um discurso político de desprezo pela ecologia. O ex-presidente petista foi ativo no desmonte das leis ambientais, desmerecendo de forma jocosa a fiscalização e a aplicação das regras legais de defesa ecológica.

E enquanto Lula fazia isso, Gilberto Gil participava de seu governo como ministro da Cultura, com o papel óbvio de contribuir para agregar ao mito do petista a imagem de político aberto e avançado. Exaltava Lula enquanto o então presidente soltava seus papos de que entre uma lavoura de soja e uma perereca ficava com a soja.

E agora Gil põe sua música “Um sonho” numa campanha ecológica. E a coisa acabou ficando boa. Gil é um dos artistas brasilleiros mais antenados. É difícil achar alguém com sua sensibilidade para perceber transformações sociais com antecipação. “Um sonho” é do álbum “Parabolicamará”, de 1992, ainda em vinil. É uma surpreendente antevisão desse mundo que estamos vivendo agora. E ele já vinha falando de várias transformações anos antes, como fez em "Dia Dorim Noite Neon", que é de 1985. A internet começou no Brasil em 1988 e é claro que no período em que o músico acionava sua parabolicamará poucos podiam prever o que viria.

Em 1997 no álbum “Quanta” ele lançou a música “Pela internet” onde falava em "gigabytes" e em “Criar meu web site, fazer minha home-page”. Falava também de "hacker", "promover debate via internet" e em "hot-link". Para dar uma referência de sua antena aguçada, o primeiro provedor brasileiro, que é o UOL, foi colocado no ar em abril de 1996.

Agora ele se junta à luta pelo Rio Xingu. Está com a antena fraca. A preocupação vem com atraso. Pode ser até que não dê mais tempo para salvar integralmente o rio e a vida em volta dele. As plantações de soja de que Lula tanto gosta já avançam sobre o Parque do Xingu. Mas, de qualquer forma, este é o tipo de luta mais importante hoje em dia. Se um rio como o Xingu acabar degradado será um sinal de que terá sobrado pouca coisa para se lutar neste país.
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POR José Pires

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