domingo, 23 de fevereiro de 2014

A bom papo de sempre do Jaguar

O cartunista Jaguar é um dos entrevistados mais engraçados que existe, mesmo que ele repita sempre uma ou outra história — como a da loura de biquini contratada para levar o material do Pasquim para ser censurado, o que fazia o censor (um coronel) dar uma amaciada e liberar muita coisa. Jaguar é um dos grandes jornalistas brasileiros, duma época em que surgiram jornais alternativos fora do esquema tradicional da imprensa, que vieram dar uma motivação de qualidade na vida brasileira. Fez muita coisa no jornalismo, mas seu peso histórico já estaria garantido pela criação do semanário "O Pasquim", que trouxe uma ousada modernização na linguagem não só da imprensa como teve também uma grande influência no comportamento dos brasileiros. O jornal foi fundado em 1969 e de imediato passou a ter censura-prévia da ditadura militar. A censura foi até 1975 e em novembro de 1991 o jornal fechou.

O Globo publica neste domingo uma ótima entrevista com o cartunista, que este mês completa 82 anos. Ele nasceu em um ano bissexto e por isso aniversaria oficialmente só de quatro em quatro anos. Em 2014 fevereiro não tem o dia do seu aniversário. E esta entrevista tem um importância especial: Jaguar garante que é sua última entrevista e até firmou este compromisso com o desenho publicado aqui. Espero que mesmo tendo parado de beber há dois anos ele tenha uma recaída na sua famosa amnésia alcoólica e esqueça a promessa.

O link da entrevista está aí, mas vou publicar um trecho ótimo onde o cartunista mostra sua grande capacidade de observação numa análise que faz dos três últimos presidentes deste tragicômico país. Vejam que belas caricaturas verbais de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff:

"São todos muito fraquinhos. Está faltando um estadista. Dilma é atrozmente medíocre. “Estresse hídrico” é o cacete. Lula eu conheci levado pelo Henfil, camisa de malha, jeans e Conga. Nunca acreditei nele. É um cara rancoroso. Uma vez me entregou um prêmio no Municipal. Olhou com uma raiva que nunca superei. Fernando Henrique eu entrevistei e depois ele me pediu para acompanhá-lo ao aeroporto. Estava orgulhoso de um relógio que tinha tudo. Dava para ver hora em Marte. Ele disse: “Olha, faz cálculos, tábuas, o diabo. Pode perguntar o que quiser.” Aí eu perguntei: “Que horas são?” Ele ficou pasmo. Não respondeu até hoje."
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Por José Pires

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