segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A estrela do clã Bolsonaro

Quando esteve pelejando para encontrar seu vice, Jair Bolsonaro chegou a cogitar de ter um príncipe como parceiro, ideia que acabou não vingando. Mas se vê que o candidato do PSL já tem um príncipe em casa. É o deputado Eduardo Bolsonaro, um dos filhos que pegando a rabeira da popularidade do pai fazem muito sucesso na carreira política. O deputado eleito por São Paulo foi um dos políticos que tiveram uma grande votação nesta eleição, ele ainda mais porque durante a campanha de primeiro turno era presença preferencial ao lado do paizão. Nepotismo é um dos grandes defeitos de Bolsonaro e o interessante é que este assunto não apareceu em entrevistas nem nos poucos debates que enfrentou. E depois das facadas que recebeu em Juiz de Fora, o candidato livrou-se de qualquer questionamento.

O príncipe de Bolsonaro deu trabalho ao pai nesta semana com a estúpida afirmação de que basta “um cabo e um soldado” para fechar o STF. É o tipo de declaração que poderia causar um sério estrago nesta altura da eleição, caso Bolsonaro tivesse outro adversário e não Fernando Haddad e seu partido, do qual nem se pode dizer que tem história: é folha corrida. O PT acabou sendo um meio que adultera o efeito de qualquer mensagem, sempre em favor do adversário. Isso vem facilitando abafar a fala de Eduardo Bolsonaro, que começou com um forte puxão de orelha dado pelo próprio candidato, dizendo que “se alguém falou em fechar o STF precisa consultar o psiquiatra”. Mas a melhor espinafrada foi do vice Hamilton Mourão, que praticamente chamou o deputado de moleque. Ele disse que a fala foi um “arroubo juvenil”. O moleque do Bolsonaro já está com 34 anos.

A fala do deputado boquirroto está em um vídeo de um mês atrás, desencavado por adversários. Mas o processo político é assim mesmo. O estrago só não é grande para Bolsonaro porque a disputa é com o PT. Além disso, se ataques estivessem funcionando bastaria dar uma passadinha no Twitter do deputado para colher muita munição. A página de Eduardo Bolsonaro é um amontoado de sandices, sendo ele próprio um notório arrumador de encrencas. Antes de Bolsonaro tornar-se um presidenciável de peso ficou famosa a fotografia do visor de seu celular, com o pai dando um esporro no filho em uma mensagem de WhatsApp. Eduardo estava em viagem para Miami exatamente no dia em que o pai se candidatava à presidência da Câmara. Só teve o próprio voto. Recentemente apareceram denúncias também do uso de verba da Câmara para viagens de recreio de Eduardo.

O filho do presidenciável é o deputado mais votado na história do país, com 1,75 milhão de votos, mas é quase tudo voto despejado pelo fenômeno eleitoral encarnado em seu pai, de modo que a enormidade de votos não vem de um mérito político próprio. O destaque de Eduardo se deu mais em razão do estilo parecido com o do pai. Segue a mesma linha de ataques moralistas ao PT e às polícias de minorias. Não tem habilidade como articulador e tampouco liderança entre os parlamentares. Ao contrário, sendo um estourado, caso Bolsonaro se eleja presidente outras encrencas políticas podem surgir a depender da personalidade do filho. Só para ter uma ideia de sua idiotice, naquele episódio da cusparada de Jean Wyllys em Bolsonaro, no mesmo vídeo aparece Eduardo correndo e também cuspindo no deputado do Psol.

Se for presidente da República, Bolsonaro terá de resolver esta questão familiar, até pelo fato da bancada de seu partido não ser de fácil manejo. Jornalistas e articulistas andam exaltando demais a quantidade de votos dessa bancada bolsonarista sem sobrepesar na avaliação a baixa qualidade política e moral dos eleitos. Escutem o que digo: nesta bancada, entre o toma-lá-dá-cá pode sobrar até uns tabefes. Isso deve influenciar bastante na imagem do provável governo Bolsonaro, afetando o trânsito político no parlamento federal e entre a sociedade.

Claro que o filho falastrão de Bolsonaro pode ter um papel especial nessa imagem negativa, não só aqui como no exterior. É no estrangeiro, aliás, que um provável governo Bolsonaro terá de empreender um esforço sério de relações públicas. A coisa está feia e o menino de ouro não ajuda. Ele já faz sucesso no exterior, como mostro na imagem desse post. A matéria é do jornal espanhol El Mundo, que publicou um perfil de Eduardo Bolsonaro, no qual traz uma amostra de seu pensamento grosseiro, lembrando inclusive problemas com uma ex-mulher. Falam também do espantoso crescimento do jovem deputado. Na reportagem, Jair Bolsonaro é identificado como político de extrema direita.

Como se costuma dizer, o filho do presidenciável fica mal na foto. Péssimo mesmo. E cabe dizer que El Mundo não é nem um pouco de esquerda. O texto é todo embasado em fatos, com um apanhado aquela porcariada da família Bolsonaro que tomamos conhecimento o tempo todo aqui no Brasil. Na matéria, o arranjo político familiar entre o político eleito e seu pai, provável presidente do Brasil, faz do nosso país um lugar igual a essas pitorescas republiquetas latino-americanas da literatura fantástica. Para bolsonaristas se arrepiarem, é algo como uma Nicarágua de direita. Isso não é nada bom politicamente nem comercialmente, ainda que um ou outro bolsonarista assanhado pelo clima eleitoral ache que a preocupação não é válida. Está aí uma questão problemática que já deve bater nos primeiros dias na mesa de Bolsonaro, caso ele suba a rampa do Palácio do planalto.

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