quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O esporro de Mano Brown e outras tretas do PT

Já rola pela internet um vídeo com uma fala do cantor de rap Mano Brown em um evento da candidatura do candidato petista Fernando Haddad, que sentado no palco junto à sua mulher e companheiros ouve uma violenta espinafrada, com uma avaliação da campanha que prevê uma “queda no precipício”. Segundo Mano Brown, o PT sofre um problema sério de comunicação. Dentro do que dá para interpretar da sua língua de gueto, aparentemente ele está falando de uma dificuldade de comunicação que vai além desse momento eleitoral.

O vídeo já vem sendo compartilhado com referências a outro esporro recente feito em evento do PT, quando Cid Gomes disse a famosa frase “O Lula tá preso, babaca!”. Só faltou Mano Brown repetir o jargão do irmão do Ciro Gomes, mas o cantor disse outras coisas, inclusive tocando na impressionante divisão entre os brasileiros. No entanto, é provável que ele esteja mais incomodado com a conseqüência da candidatura de Bolsonaro e não na origem dessa divisão, que vem do projeto petista de poder que apostou exatamente nesta divisão e levou um truco dos brasileiros.

É interessante observar nos entremeios da própria linguagem de Mano Brown os anseios e as necessidades de um personagem do drama político, que como não podia deixar de acontecer, contamina a própria avaliação do quadro eleitoral e da imagem petista. Como todo indivíduo encerrado num universo cultural muito fechado é com bases muito simples que o cantor de rap traça o diagnóstico negativo da popularidade do PT, certamente projetando para sua solução um caminho que siga no âmbito da cultura representada por gente como ele e apoiada por seus fãs. Fechado nas suas limitadas circunstâncias, ele não se apercebe que embora exista mesmo a dificuldade da penetração do pensamento petista nas periferias dos grandes centros urbanos, a razão do problema é a oposta ao que ele pensa.

É por ter se apoiado culturalmente em gente como Mano Brown que o PT se afastou dos jovens trabalhadores dos bairros das grandes e médias cidades, espezinhados em seu cotidiano pelo clima espalhado pelo que representa o cantor de rap. Pichação, drogas, confrontação com a polícia, apologia da bandidagem e da falta de lei e regras, ódio de classes, desrespeito pela experiência humana e pelos mais velhos, intimidação diária e outras coisas mais, pois tem muito mais nesta cultura da intimidação, que se exerce no cotidiano, repito, com a cara feia dos grupos na esquina, na confrontação nas escolas, na intimidação e no roubo de coisas bacanas compradas a muito custo pelo jovem que estuda e trabalha. A imagem petista está ligada a este clima intranqüilo, um caldo cultural de estímulo à desinteligência e à desarmonia, com a violência estampada na própria linguagem e cara feia, que se intromete desequilibrando a vida familiar, dificultando o convívio entre pais e filhos, desunindo irmãos, destruindo amizades, influenciando negativamente nos deveres do estudo e do trabalho, com sérias complicações para famílias mais pobres e da classe média.

Só gente como Mano Brown não percebeu que é daí que vem em grande parte o fenômeno político que beneficiou Jair Bolsonaro e deve prosperar no estímulo ao conservadorismo na sociedade brasileira, independente da vontade do candidato direitista. A origem está na cultura política do PT, com o peso exercido pelo partido do Lula na cultura brasileira, no aparelhamento de instituições e na carga de ressentimento e de divisão entre as pessoas, num processo esquerdista que já vem de um legado histórico de desapreço pela democracia, de uma esquerda que nos 13 anos em que ficou no poder governou apenas no interesse de um projeto partidário, que no final mostra-se incompetente até no seu próprio propósito.
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POR José Pires


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Imagem: Mano Brown posa com colegas e o candidato Fernando Haddad; a cara feia faz parte
do modelito, mas a realidade política de fato não está fácil. Quase como uma metalinguagem,
a foto foi feita por Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do chefão do PT, preso por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro.

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