domingo, 21 de outubro de 2018

Antipetismo e Bolsonaro, nascidos um para o outro

Embora tenha usado durante muito tempo a propaganda e a desinformação, parece que o PT não pegou muito bem uma máxima indiscutível da comunicação política que afirma que o efeito da mensagem se dá mais pela percepção emocional do que pela lógica do conteúdo. Os petistas estão tendo disso um conhecimento prático muito interessante, numa situação até engraçada. Pegando aquela descoberta de Marshal Mcluhan, de que “o meio é a mensagem”, pode-se ver que neste segundo turno o partido esquerdista vem funcionando como um meio que adultera qualquer mensagem, sempre em benefício de Bolsonaro.

Torturador, homofóbico, racista, misógino, antidemocrático, até fascista, não importa: o meio usado para difundir os ataques é o partido que enfiou o Brasil num buraco de fundura até agora inesgotável. Todo ataque petista ao candidato do PSL estimula no eleitor a compreensão (falsa ou genuína, não importa; com a percepção alheia não se brinca) de que ele é o homem certo para combater um mal, gerado pelo próprio PT. O meio é a mensagem, repito. Quanto mais forte a cacetada petista, maior identificação do eleitor. O sucesso de Jair Bolsonaro, caros — ou melhor, caríssimos — companheiros, nasce dessa simples percepção e não de uma conspiração de direita, de cunho fascista, como vocês vivem falando, plano que constaria de um retrocesso político depois de alcançado o poder.

Bem, a regressão a uma ditadura infelizmente não está fora de cogitação num país abalado moralmente e arruinado em sua economia, como acontece atualmente com o Brasil. No entanto, esta regressão não está na dependência da vontade de Bolsonaro ou de qualquer outro político. A bem da verdade, colocando aqui uma opinião minha, Bolsonaro se bastaria em ser um sub-Sarney, mas nada impede que ele seja influenciado pela ilusão de que pode conduzir um poder autocrático em um projeto revestido da falsa ideia de redenção nacional. Mas até aqui, ele segue a onda, como vinha fazendo nesses quase trinta anos de carreira. Ocorre que a fragilidade da democracia brasileira se deve ao mau estado das instituições, precariedade de lideranças, educação de péssima qualidade, da corrupção e até da falta de dinheiro, que vem impondo aos brasileiros uma vida cada vez mais miserável e violenta, da qual evidentemente não pode nascer coisa boa.

Nesta lista da tragédia institucional brasileira creio que se tiver vergonha na cara até um esquerdista poderia reconhecer a responsabilidade do ciclo de governos do PT, partido que pode até não ser o autor exclusivo desta realidade dramática, mas é responsável pelo brutal agravamento da maioria dos problemas e também pela sistematização de alguns deles, como a corrupção, para qual o partido do Lula deu até um status ideológico. Mas o efeito negativo para o PT independe do ponto de vista esquerdista. Vibra no ar uma consciência coletiva de parte decisiva dos brasileiros, na maior parte motivados a votar em Bolsonaro apenas pela circunstância e não por serem pessoas do mal. Nesta consciência está a forte rejeição, que criou um voto de protesto ao partido que deu origem à sérias complicações que não exige conhecimento sócio-econômico para compreender.

Eu sei que o materialismo histórico marxista é um vício, porém aplicado em ações com objetivo de prazo muito curto, como é o caso de um segundo turno, esse vício pode virar um veneno que anula qualquer mensagem, por mais inteligente e até justo que seja seu conteúdo. A percepção óbvia do eleitor brasileiro é de que é preciso encontrar um caminho para que o Brasil possa ao menos levantar e sacudir a poeira, reação sem a qual nem dá para começar a pensar no que fazer para o futuro. Só os petistas não vêem que nesta percepção está muito claro que o PT só cabe como  uma opção desastrosa. Pode-se chamar isso de “antipetismo”, mas na verdade a repulsa política é nada mais nada menos que a atuação plena do instinto de sobrevivência de quem tem o bom senso de lembrar como foi a entrada do Brasil nesta pirambeira econômica, com tamanho desgaste moral e político.

Portanto, petista batendo no adversário tem o efeito já bastante conhecido do jargão do padeiro fazendo o mesmo literalmente com a mão na massa, que como todos sabem, tende a crescer. Não vou tratar aqui da forma que o PT teria de usar para resolver esta complicação. Não existe pulo do gato em política. É um trabalho de longo prazo, que no caso do PT teria de incluir atitudes decisivas que exigiriam a confrontação com simbologias essenciais do partido, além, é claro, de encarar negócios e alianças escusas que deixaram os petistas com o rabo preso aqui e no exterior.
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POR José Pires

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