sábado, 13 de outubro de 2018

O senador petista derrotado e as "coisas bonitas" do PT

O senador petista Jorge Viana está desesperado com a possibilidade do PT perder a disputa presidencial. Ele já foi derrotado no Acre. Não conseguiu se reeleger e o candidato de seu grupo político ao governo estadual também perdeu no primeiro turno. Jair Bolsonaro teve 62% no Acre e Fernando Haddad ficou com apenas 18%. A vitória de Gladson Cameli (PP) para governador quebrou a hegemonia de 20 anos de Viana e o irmão Tião Viana no estado. Tião Viana é o atual governador. Os irmãos Viana começaram muito pobres na política e hoje são riquíssimos. Mas estão fora do poder. A derrota faz parte da limpeza feita pelos eleitores em vários estados, que compensa em parte esta eleição muito difícil para o país.

Viana disse em entrevista à Folha de S. Paulo que o PT errou em não reconhecer que membros do partido praticaram corrupção. O político petista acredita que se não houver autocrítica o PT corre o risco de perder a disputa presidencial, mas fez uma ressalva, dizendo que “isso não justifica o que estão fazendo nem com o presidente Lula nem com outros líderes”. Para o senador, isso “também não diminui as coisas bonitas que nós fizemos”.

Ao ler essa comovente declaração quem não recorda de uma porção de “coisas bonitas” feitas pelo PT? São tantas, mas vou destacar apenas uma delas, que teve a participação do senador petista derrotado. Lula sempre foi muito próximo de Jorge Viana, que esteve ativo nas maquinações promovidas em 2016 para evitar que o ex-presidente fosse preso. Foi nessa época que o PT planejou a nomeação de Lula para a Casa Civil do governo Dilma Rousseff. No ministério, o chefão petista estaria fora do alcance do juiz federal Sérgio Moro.

Naquele ano, veio a público um áudio onde em conversa com Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula, o senador Viana sugeria que Lula desacatasse Moro. A conversa com Teixeira foi em 4 de março, dia em que Lula foi levado em condução coercitiva para prestar depoimento à Polícia Federal. A intenção de Viana com o desacato era causar a prisão de Lula, para criar uma situação que o PT pudesse tornar o ex-presidente um “preso político”.

Em uma ligação que durou pouco mais de sete minutos, entre outras coisas, Jorge Viana propôs que o ex-presidente fizesse o seguinte: "Chamar uma coletiva, dizendo que ele [Lula] não aceita mais que ele [Moro] persiga a família dele, porque ele tá agindo fora da lei. Se ele [Lula] quiser agora vim prendê-lo, que venha. Se ele [Moro] prender, o LULA vira um preso político e vira uma vítima, se não prender, ele também se desmoraliza. Tem que virar o jogo agora (sic)".

Vem a calhar a lembrança dessa beleza feita pelo PT. Em uma eleição tão importante, vale como demonstração do respeito do partido do Lula pelas autoridades, pela Justiça, as instituições e a ordem jurídica. Um senador da República fazendo uma coisa bonita dessas é uma das marcas históricas do partido do derrotado Jorge Viana.
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POR José Pires


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Imagem: Reunião de senadores na residência oficial do presidente do Senado
em junho de 2015, numa das tentativas de salvar o governo Dilma Rousseff e
livrar Lula da Justiça; Viana é o último à direita

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