quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Bolsonaro com medo de terrorismo e a língua defeituosa da política

Apareceu mais uma justificativa para Jair Bolsonaro não comparecer ao debate da Rede Globo. Segundo o general da reserva Augusto Heleno, existe uma ameaça do candidato ser alvo de um “atentado terrorista”. E quem repassou a informação foi o vice general Hamilton Mourão, em seu Twitter. Eu até me impressionaria com o alarmismo da campanha de Bolsonaro se não soubesse que tudo não passa de jogada eleitoral. A alegação de fraude nas urnas e agora essa “ameaça terrorista”, tudo é para reforçar a empatia pelo candidato e estimular o empenho de seus seguidores neste final de campanha.

O general Heleno diz que a ausência de Bolsonaro não é "pelo medo" de debater com Fernando Haddad. Bem, ninguém havia perguntado, mas eu não tenho dúvida nenhuma que debates no segundo turno com Haddad terminariam mal para Bolsonaro. E não é só pelo fato do candidato do PSL ser péssimo para se expressar, se enrolando com os questionamentos mais simples, além de ter pavio curtíssimo, o que permite boas provocações para um adversário.

O candidato do PT também é bem preparado para debater com qualquer um. Haddad enrola bem. Poucos políticos têm sua capacidade de expressão, além de que ele sabe mentir como ninguém. Sei que não faz nada bem para o fanatismo bolsonarista, mas a verdade é que se não tivesse uma boa desculpa para escapar de debates e sabatinas neste segundo turno, a eleição ficaria muito difícil para Bolsonaro, mesmo com toda a carga negativa do antipetismo contra seu adversário.

Na minha visão, o ferimento à faca preservou Bolsonaro de questionamentos e da discussão frente a frente com adversários. Todos os candidatos sofreram desgaste, enquanto ele fazia campanha da cama do hospital e depois em casa. Mas tudo bem, não existe regra legal que exija o comparecimento a debates nem a obrigação de dar entrevistas para jornalistas que estão fora do controle do candidato. E todos já haviam aceitado a justificativa médica para a negativa em participar de debates. O brasileiro tornou-se um conhecedor dos incômodos da colostomia. Mas agora vem essa novidade da ameaça de “atentado terrorista”. Isso não parece cuidado com segurança. Dá mais a impressão de sugestão de marqueteiro, depois da equipe de campanha estudar com atenção os percentuais da opinião dos eleitores sobre políticos que fogem de debates.

Mas ficou até engraçado uma candidatura barra-pesada e cercada de milicos, com dois generais reformados fazendo um anúncio público, avisando que o candidato não vai a um debate porque está com medo de atentado terrorista. A situação é ainda mais grotescamente cômica porque esse cuidado vem exatamente de um candidato que tem como bandeira de campanha a proposta de liberar armas para a população, porque segundo ele o cidadão comum pode muito bem cuidar de sua própria segurança com uma arma de fogo na mão. Bolsonaro não podia levar um cabo e um soldado armados? E a própria arma, claro.

Mas a coisa é ainda mais engraçada porque em seu Twitter o general Mourão veio reforçar a fama de analfabetismo funcional dos políticos brasileiros. Já tivemos o “evangélio”, em vez de evangelho, de Manuela D’Ávila, depois veio o “posso”, no lugar de poço, do filho de Bolsonaro. Pois agora temos o verbo “traz” grafado como “trás”. Veja na imagem do Twitter de Mourão. E este sujeito além de ser general da reserva tem uma boa chance de ser o próximo vice-presidente do Brasil. Caso isso ocorra, tomara que não maltratem a democracia como fazem com a língua portuguesa.

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