Jair Bolsonaro precisou de pouco tempo para obter os resultados da sua tresloucada política de relações exteriores, que tem seu filho Eduardo como ousado articulador, com poder que parece acima do próprio ministro das Relações Exteriores, o inacreditável Ernesto Araújo. Logo depois de botar na cabeça o boné de campanha da reeleição de Donald Trump para o ano que vem, o filho que Bolsonaro pretende nomear como embaixador nos Estados Unidos fez várias preleções sobre a política internacional. Em poucos meses, movimentações em vários lugares mostram que todas eram furadas.
Os problemas começam com o ídolo máximo da família Bolsonaro, o presidente Donald Trump, que ao contrário do que se pensava não tem uma reeleição garantida. O presidente americano já está tendo que lidar com graves questões econômicas causadas por equívocos de seu governo. Especialistas em economia alertam até para uma recessão nos Estados Unidos, que pode pegar Trump no meio da campanha.
E mesmo um ignorante total em economia como Bolsonaro, conforme ele próprio confessou, já deve estar sabendo do panorama perigoso na economia mundial, causado em grande parte pelos conflitos desastrados e desnecessários que foram sendo armados por seu ídolo americano. Com quem Trump não brigou até agora? Ah, sim: ele mantém uma amizade sólida com Kim Jong-um, da Coréia do Norte. As complicações externas dos Estados Unidos já afetam os negócios de uma parcela importante do eleitorado de Trump, com a queda da exportação agrícola para a China deixando enfezados seus simpatizantes no meio rural americano.
Bolsonaro também acenou com bravatas arriscadas, onde até então o Brasil não entrava em encrencas desnecessárias, como a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e a perigosa hostilidade com o governo da Venezuela. O conflito militar que o filho dele e o chanceler Araújo queriam com Nicolás Maduro felizmente foi barrado pelos militares brasileiros, que sabem melhor do custo inclusive em vidas que pode ter uma coisa dessas. Quase o Brasil vira joguete de Trump na América Latina. Mas o moço não se emenda. Há alguns dias o poderoso estrategista dizia que "diplomacia sem armas é como música sem instrumentos".
No Oriente Médio também ficou configurado um cenário que coloca no ridículo as opiniões de Eduardo Bolsonaro, com a desatinada estratégia dele e do pai para a região. Quando foi questionado sobre os problemas que inevitavelmente seriam criados com a mudança da embaixada brasileira em Israel, o deputado do PSL disse que bastava o governo brasileiro aproveitar-se de desavenças antigas entre os países árabes e o Irã, buscando dessa forma amenizar o problema. Com uma dica muito simples, o gênio deu uma destravada numa questão que é mais antiga que o Brasil.
Na verdade, a base da proposta da mudança vinha da confusa preocupação de políticos evangélicos com a cidade bíblica, além de ter uma forte relação da admiração irrestrita de Eduardo e seu pai pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o Bibi. A tentativa do alinhamento do Brasil de forma praticamente incondicional com este político direitista se deu pela tola convicção de uma política de relações externas tendo como base relações pessoais, quando se sabe que isso ocorre entre Estados. Governos passam, sem falar que “amizades” entre governantes também.
No Oriente Médio em menos de três meses a tese bolsonarista já furou. Havia uma admiração pelo pretenso poder político e eleitoral de Netanyahu, que aos olhos de Bolsonaro era um eterno vitorioso. Pois depois da última eleição em Israel é difícil que o ídolo do governo Bolsonaro se mantenha como premier. E com o ataque com drones em postos petrolíferos da Arábia Saudita, pode-se inclusive fazer um teste mais rigoroso da tese de Eduardo do aproveitamento da inimizade entre os países árabes e o Irã. Porém, acho muito difícil que o filho de Bolsonaro encontre um cabo e um soldado do Exército Brasileiro para irem com ele dar um jeito nesta situação no Oriente Médio.
Bolsonaro não colheu nenhum resultado positivo na reviravolta cretina que deu nas relações externas do nosso país. Com a Argentina possivelmente ele terá más notícias em breve, tendo que se acertar com um presidente que ele chamou de “bandido”. Nosso presidente tem dificuldade até de viajar para o exterior, pois onde colocar os pés, seja na Europa ou nos Estados Unidos, poderá encontrar manifestações de protesto.
Entre os europeus nem é preciso falar das encrencas com o ambientalismo, que na atualidade não tem lado político naquele continente. Depois do insulto à Brigitte Macron, Bolsonaro comprou briga com todo o mulherio daquele continente, também independente de posição política. Só falta Donald Trump não ser reeleito. E não é pequena esta possibilidade.
É difícil saber o que Bolsonaro e seu filho pretendiam lucrar ao comprar brigas com a União Européia, a China, a Argentina e posicionar o Brasil de forma nada diplomática em uma região explosiva, hostilizando o Irã e os países árabes. Mas já dá para ter um conhecimento perfeito sobre as perdas e danos que a dupla de trapalhões criou para o nosso país.
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POR José Pires
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