domingo, 8 de setembro de 2019

Chico César, caça-fascistas de araque brincando com o perigo

O cantor Chico César lançou nesses dias uma música que vai criar polêmica, até porque foi para isso mesmo que ela foi feita. A intenção é claramente de provocação. E ele foi cutucar exatamente no clima de violência do debate político, que pelo menos até agora se mantém nos bate-bocas das redes sociais, em manipulações de fatos e da informação, além de ameaças de todo tipo, contando com a animada e costumeira verborragia irresponsável do boquirroto presidente Jair Bolsonaro. Já é duro de aguentar, mas pelo menos não temos violência física generalizada nas ruas.

Todo mundo sabe que Bolsonaro vive desse clima ruim que tomou conta do país. Ganhou a eleição exatamente por conta disso e segue sendo uma figura desagradável, até porque politicamente não sabe ser outra coisa. Não há surpresa em suas grosserias. O que não faz sentido é que um artista venha se contrapor a Bolsonaro, fazendo exatamente seu jogo sujo, que tem a desarmonia, a exaltação da violência e a crueldade como a base do discurso. É isso que Chico César faz com a música que está lançando, que já começa a percorrer o circuito esquerdista nas redes sociais, pregando que se vá para o pau contra Bolsonaro e seus seguidores.

O baixinho quer arrumar briga. Ele fez um reggae com o título é “Fogo jáhhh”, trocadilho bobinho com Jah Rastafári, a divindade da religião rastafári, que tem a crença de que esse deus encarnou em Haile Selassié, ditador da Etiópia até 1974, um dos tiranos mais cruéis do sofrido continente africano. Outro símbolo do rastafári, também muito ligado ao reggae é a maconha, com certeza a razão mais importante desse ritmo musical ter se entranhado na cultura musical brasileira.

Musicalmente “Fogo jáhhh” é uma diluição do reggae, já de origem uma música muito simples. No caso desta música encrenqueira ficou bastante simplório. Tem cara de jingle comercial. A pegada forte da composição de Chico César é a provocação de conflito, o chamado para a reação violenta a algo que ele chama de “fascista”.

O cantor avança para um terreno perigoso. Atiça a massa para dar “pedrada” no governo. No refrão, ele canta “Fogo nos fascistas; Fogo, Jah!” e claro que este “fogo” soa como o ato de dar um tiro com uma arma. Bolsonaro faz gesto de arminha com as mãos. Chico César manda seus companheiros atirar de volta. Quando cantado o efeito é exatamente este, de mandar fogo neles. Vejam o refrão, que é repetido várias vezes:

“Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar (vai voar)
Fogo nos fascistas
Fogo, Jah!”

O efeito é bastante pesado na música. O refrão evidentemente foi criado para envolver a platéia e ser gritado em coro por todos. Este apelo à violência é espantoso, não só porque espera-se de um artista a compreensão da necessidade do cuidado para não empestear ainda mais esta atmosfera terrível da política brasileira. É também uma surpresa que venha de Chico César, que sempre me pareceu um sujeito pacífico. Nesta música lamentável sua mensagem é do ataque, de mandar fogo nos que ele estigmatiza tolamente como “fascistas”.

De qualquer jeito seria uma reação despropositada, mas o apelo é ainda pior porque não se deu de fato nenhuma agressão que justifique mandar “fogo” no adversário, mesmo que na cabeça de Chico César eles sejam “fascistas”, na justificação ridícula de bravateiro que não enfrenta de verdade nenhum perigo. As instituições ainda permanecem vivas, mesmo algumas estando alquebradas, de modo que não temos bandos políticos violentos se enfrentando nas ruas. No popular, Chico César está viajando. Mas é uma viagem perigosa, que pelo caminho pode estimular a violência.
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POR José Pires



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Imagem- Post do Facebook de Chico César como fã apaixonado, em visita a um ídolo
político na véspera dele ir cumprir pena na cadeia por corrupção

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