quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Um candidato a embaixador de pouca diplomacia

Jair Bolsonaro já deve estar procurando um jeito de recuar da indicação de seu filho Eduardo Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos. O presidente terá que mudar de ideia ou encarar uma derrota quase certa no Senado, onde vai ser muito difícil emplacar Eduardo como embaixador. Os encargos assumidos ao avalizar a ida do filho do presidente para Washington são muito pesados, mesmo para uma instituição que tem grande parte de seus membros à disposição para uma barganha de vantagens pessoais.

Como grave risco político para os senadores já bastaria o nepotismo e a falta de qualificação para ser um embaixador e ainda mais em um lugar de tal importância, mas a personalidade de Eduardo pode trazer problemas sérios na própria função. O filho de Bolsonaro tem pretensão de ser uma liderança internacional da direita organizada. Esse grupo é chamado de “O Movimento” e tem por detrás a Cambridge Analytica, de Steve Bannon, que foi um dos articuladores da candidatura de Donald Trump, mas teve que sair do governo em agosto de 2017 rompido com o presidente eleito.

Eduardo Bolsonaro é o homem deste movimento direitista comandado por Bannon na América Latina, estabelecendo linhas de atuação continente a partir do Brasil. Agora pretendem fortalecer sua imagem com este cargo nos Estados Unidos, onde como embaixador evidentemente ele pretende dar continuidade à militância política de direita. É óbvio que uma embaixada não é o lugar adequado para esta atividade política, mas Eduardo não tem compromisso algum com qualquer forma de sensatez.

Falta-lhe senso estratégico mesmo no próprio interesse. No popular, o sujeito é mesmo doidão. Bem, parece que isso está no DNA da família. Próximo da análise de seu nome pelo Senado, ele resolveu dar um apoio ao desastrado ataque de seu pai a Michelle Bachelet, feitos pelo Twitter e no Facebook. Ela foi presidente do Chile e atualmente é comissária da ONU para os Direitos Humanos.

Bolsonaro postou uma foto da posse de Bachelet como presidente, acompanhada de Cristina Kirchner e Dilma Rousseff, na época presidentes da Argentina e do Brasil. Ele também ataca o pai da ex-presidente chilena, preso durante a ditadura de Agusto Pinochet. No post, Bolsonaro afirma que na ONU a agenda dela de direitos humanos é “de bandidos”. A truculência do presidente já provocou forte reação no Chile. A rejeição geral vem criando um clima internacional de solidariedade a Bachelet.

Com a mesma dificuldade tática do pai, Eduardo deu continuidade aos ataques. Claro que na embaixada brasileira em Washington ele vai continuar agindo do mesmo modo, o que prenuncia problemas sérios nas relações externas do Brasil. Será que o Senado encara assumir mais este desgaste? Eu acho bastante complicado para uma instituição que já tem problemas de sobra em sua imagem. É mais provável que numa negociação de bastidores Bolsonaro seja convencido a desistir do presente prometido ao filhão.
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POR José Pires

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