sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Ciro o que é de Ciro

Ciro Gomes apareceu finalmente para falar sobre o processo de fritura de sua candidatura a presidente da República. O lulo-petismo fez um serviço perfeito, faltando apenas a parte mais difícil: acalmar o deputado neopaulista. Agora tem que assoprar o bempassado companheiro.

Mas me chamou a atenção nas declarações à imprensa feitas hoje pelo deputado outra questão que parece explicar bastante as frias em que o presidente da República se meteu no primeiro mandato.

Hoje, em entrevista publicada no site IG, Ciro soltou os cachorros. Ele está bem zangado com Lula. Para ele, o presidente está “navegando na maionese” e “não é Deus”. Disse que Lula “está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República”.

Até aí, nenhuma novidade. Na situação em que foi colocado pelo lulo-petismo, é natural que ele fale coisas bem pesadas. Não é todo dia que alguém sofre humilhação parecida. Na realidade, com a personalidade que ele tem nem seria preciso tanto, mas o serviço de esmagamento de sua pretensões políticas foi muito bem feito.

Mas está certo que ele ajudou bastante. Ciro Gomes não gosta de ser chamado de doido. Ninguém gosta. Mas nos últimos meses ele se esforçou bastante para nos convencer a todos de que o hospício é seu lugar, pelo menos até que ele se cure desta extrema confiança recente em Lula e no PT. Ele colocou sua carreira política nas mãos de Lula. Praticamente se humilhou com alguém que notoriamente não é leal nem com parceiros históricos. E para o lulo-petismo Ciro nada representa. Nem o serviço sujo que fez este tempo todo, sei lá se voluntário ou não, quando fez parte da tropa de ataques aos adversários de Lula e seus companheiros, serve para grande coisa. Lula já largou para trás gente que se expôs muito mais.

O cearense chegou a mudar de domicílio eleitoral, atendendo a um pedido de Lula, uma atitude que colocou sua carreira numa situação até cômica. Até sua mãe viu que seria besteira virar paulista depois de velho. Hoje ele é deputado com um domicílio eleitoral num lugar onde só consegue se locomover de táxi senão acaba se perdendo na cidade.

Mas quando Ciro desanda a falar, acaba soltando muita coisa. É disso que Lula tem medo. E já no início desse desafogo do deputado cearense que virou paulista, encontrei uma declaração que pode explicar muita coisa sobre o que Lula e seus companheiros aprontaram este tempo todo. Em um trecho da entrevista, Ciro diz que o que falta hoje para Lula é gente ao seu lado com capacidade e coragem para influenciá-lo por meio do debate interno das decisões de governo.

Até aí tudo bem. É assim mesmo que funciona a coisa e também é evidente que Lula foi contagiado já há muito tempo por uma doença muito comum do Poder que atinge os ouvidos, fazendo o governante ouvir apenas elogios. Até publicamente, Lula fica contrariado com qualquer contraposição ao que pensa e está fazendo.

Mas Ciro conta é que no primeiro mandato não foi assim. Lula ouvia e acatava até opiniões contrárias. E uma dessas pessoas que cumpria esse papel de conselheiro era ele, Ciro Gomes.

É uma informação espantosa. Lula é um político com evidentes dificuldades de equilíbrio e sensatez e também no aprofundamento técnico de qualquer questão. E no primeiro mandato Ciro Gomes foi uma peça importante para suprir estas deficiências. Isso explica muita coisa.

É uma confissão de Ciro de que que ele ajudou a bater a maionese. O ressentimento é porque Lula, como sempre, quer tudo para si. A revelação é bastante esclarecedora. Todos nos lembramos bem como foi o primeiro mandato, período em que Ciro foi essencial dando seus pitacos ao presidente, como ele conta agora. Que grande ajuda. Foi desse jeito então que saiu aquela beleza de projeto basicamente clientelista, de uso do Estado para fins particulares, sem nenhuma atenção aos interesses da Nação e que é muito bem simbolizado pelo mensalão.
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POR José Pires

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