Lula fala e a gente escuta, é claro, afinal o cara é o presidente da República. Mas que dá até vergonha, ah, muitas vezes isso dá.
Ontem o tema mais forte das falas do petista foi sua revolucionária política externa. Lula falou de uma tática inovadora nas relações entre os países, uma coisa que ele já insinuava em conversas informais sobre o assunto, mas que agora ela traz de forma explícita: é a tática do olho no olho.
Não deixa de ser uma sensacional inovação. Imaginem uma assembléia geral das Nações Unidas com os líderes mundiais negociando com o olho no olho. Pode sair até casamento entre as nações.
Falando nisso, muitos dos problemas que o mundo enfrenta atualmente até podem ter origem na falta deste olho no olho que o presidente brasileiro traz para a cena mundial. Vocês podem até rir pensando que é ironia minha, mas será que Hitler não poderia ter voltado atrás em seus planos se alguém, talvez Churchill, ou mesmo Roosevelt, tivesse tido um olho no olho com o alemão?
Charles Chaplin, que sempre foi um genial precursor, até antecipa esta sacada de Lula. No filme O Grande Ditador, na cena do encontro entre Hitler e Mussolini, os dois fazem um olho no olho. E eles afinal se entenderam , não é?
Falta isso no diálogo entre as nações. E o emblema dessa ausência é Nikita Kruschev batendo com o sapato na mesa para obter atenção ao que falava durante sessões do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Isso foi na década de 50 e desde então o que tem mudado são só os sapatos. O pessoal não se entende. Quem sabe, talvez falte um olho no olho para que se crie, enfim, uma harmonia entre os poderosos.
Este jeito novo de fazer política internacional pode ser meio complicado com líderes como Barack Obama, pelo menos para baixinhos como Lula. E não estou falando da altura política dos dois países. Nicolas Sarkozy, da poderosa França, enfrentaria a mesma dificuldade de Lula para ter um olho no olho com Obama. O francês e o brasileiro teriam inevitavelmente que olhar para cima.
E a conversa olho no olho também exige um certo tempo. Não bastam quinze minutos divididos ao meio, o tempo concedido a Lula e ao primeiro-ministro da Turquia, para os dois defenderem o Irã de Ahmadinejad. Obama ouviu o pedido — sete e meio minutos para cada dirigente — e depois foi informar a imprensa que as sanções contra o Irã devem avançar. E se o presidente dos Estados Unidos já conseguiu o apoio até da China, que diferença faz um olho no olho com o Brasil?
Mas Lula não esmorece. Não deu certo com os Estados Unidos, mas ele vai ter uma conversa olho no olho com Ahmadinejad, no Irã. Bem, tem gosto pra tudo.
Mas vejamos ver literalmente a fala de Lula: “O Brasil é contra qualquer arma nuclear, aliás, não é o Brasil, é a nossa Constituição que proíbe a construção de arma nuclear. Portanto, eu acho que o que o Brasil pode, o Irã deve poder. Mais do que o Brasil pode, eu acho que o Irã não deve querer”, ele disse.
Mas foi apenas o começo, para encaixara a explicação de como pretende convencer Ahmadinejad de que ele não deve desenvolver armas nucleares: “Eu vou conversar isso assim, como eu estou conversando com vocês, olho no olho. Se ele disser ‘eu vou construir’, ele vai arcar com as consequências do seu gesto”.
Bem, tomara que o presidente iraniano não diga a Lula que pretende, sim, construir armas nucleares. O final de um namoro, mesmo que seja apenas político como este de Lula com Ahmadinejad, é sempre chato. Seria decepcionante ver uma relação tão bacana acabar. Ainda mais assim, no olho no olho.
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POR José Pires
Ontem o tema mais forte das falas do petista foi sua revolucionária política externa. Lula falou de uma tática inovadora nas relações entre os países, uma coisa que ele já insinuava em conversas informais sobre o assunto, mas que agora ela traz de forma explícita: é a tática do olho no olho.
Não deixa de ser uma sensacional inovação. Imaginem uma assembléia geral das Nações Unidas com os líderes mundiais negociando com o olho no olho. Pode sair até casamento entre as nações.
Falando nisso, muitos dos problemas que o mundo enfrenta atualmente até podem ter origem na falta deste olho no olho que o presidente brasileiro traz para a cena mundial. Vocês podem até rir pensando que é ironia minha, mas será que Hitler não poderia ter voltado atrás em seus planos se alguém, talvez Churchill, ou mesmo Roosevelt, tivesse tido um olho no olho com o alemão?
Charles Chaplin, que sempre foi um genial precursor, até antecipa esta sacada de Lula. No filme O Grande Ditador, na cena do encontro entre Hitler e Mussolini, os dois fazem um olho no olho. E eles afinal se entenderam , não é?
Falta isso no diálogo entre as nações. E o emblema dessa ausência é Nikita Kruschev batendo com o sapato na mesa para obter atenção ao que falava durante sessões do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Isso foi na década de 50 e desde então o que tem mudado são só os sapatos. O pessoal não se entende. Quem sabe, talvez falte um olho no olho para que se crie, enfim, uma harmonia entre os poderosos.
Este jeito novo de fazer política internacional pode ser meio complicado com líderes como Barack Obama, pelo menos para baixinhos como Lula. E não estou falando da altura política dos dois países. Nicolas Sarkozy, da poderosa França, enfrentaria a mesma dificuldade de Lula para ter um olho no olho com Obama. O francês e o brasileiro teriam inevitavelmente que olhar para cima.
E a conversa olho no olho também exige um certo tempo. Não bastam quinze minutos divididos ao meio, o tempo concedido a Lula e ao primeiro-ministro da Turquia, para os dois defenderem o Irã de Ahmadinejad. Obama ouviu o pedido — sete e meio minutos para cada dirigente — e depois foi informar a imprensa que as sanções contra o Irã devem avançar. E se o presidente dos Estados Unidos já conseguiu o apoio até da China, que diferença faz um olho no olho com o Brasil?
Mas Lula não esmorece. Não deu certo com os Estados Unidos, mas ele vai ter uma conversa olho no olho com Ahmadinejad, no Irã. Bem, tem gosto pra tudo.
Mas vejamos ver literalmente a fala de Lula: “O Brasil é contra qualquer arma nuclear, aliás, não é o Brasil, é a nossa Constituição que proíbe a construção de arma nuclear. Portanto, eu acho que o que o Brasil pode, o Irã deve poder. Mais do que o Brasil pode, eu acho que o Irã não deve querer”, ele disse.
Mas foi apenas o começo, para encaixara a explicação de como pretende convencer Ahmadinejad de que ele não deve desenvolver armas nucleares: “Eu vou conversar isso assim, como eu estou conversando com vocês, olho no olho. Se ele disser ‘eu vou construir’, ele vai arcar com as consequências do seu gesto”.
Bem, tomara que o presidente iraniano não diga a Lula que pretende, sim, construir armas nucleares. O final de um namoro, mesmo que seja apenas político como este de Lula com Ahmadinejad, é sempre chato. Seria decepcionante ver uma relação tão bacana acabar. Ainda mais assim, no olho no olho.
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POR José Pires
Um comentário:
Amor não correspondido
Esse namoro de Lula por Ahmadinejad não é uma amor correspondido. Só ele e o Marco Aurélio Garcia é que não viram ou não entenderam isso. O que os cegam é que eu gostaria de saber.
Dizem que entre o céu e a terra há mais coisas do que a nossa vã imaginação possa conceber. E entre o Brasil de Lula e o Irã de Ahmadinejad há o quê?
Não entendo a razão pela qual Lula se apaixona tanto por ditadores. Talvez a psicanálise explique. Na política é difícil encontrar uma compreensão lógica para a postura que assume no plano internacional, nesse e em outros casos.
Lula é contraditório, pois se diz um homem de diálogo, e assim quer ser reconhecido, o que só é possível dentro de um contexto democrático. Contudo não se cansa de pedir em casamento ditadores, em cuja essência viceja exatamente a imposição de posturas unilaterais, que não admite ponderações e interação entre as partes.
Nesse drama, sem excluir outros, sua postura está mais para um monólogo do que para um diálogo. Ninguém o ouve. Quando o ouve, coitado!, é protocolar o encontro e ainda assim tem que dividir o tempo com o primeiro-ministro da Turquia.
Fico envergonhado. Sério mesmo. Por mim e por todos os brasileiros. Só não pelo Marco Aurélio Garcia.
Lula que gosta tanto de frases de efeito e populares deveria saber ou ter apreendido que “quando um não quer dois não brigam”. E, nem conversam.
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