Marina Silva é a candidata com o modelo de governo mais inovador que já apareceu neste país. Ela diz que vai fazer "um governo dos melhores". É o que o Brasil sempre precisou. Resolveria os nossos problemas de tal forma e a ideia é tão simples que é até espantoso que nenhum político tenha pensado nisso antes. O marqueteiro do Bill Clinton, que era um especialista em apontar obviedades, mas usando para isso um estilo único, seria ainda mais imperativo que a candidata do PSB: É o governo dos melhores, estúpido!
É lamentável que não tenhamos partidos melhores e ainda menos eleitores melhores, pois se fosse assim a candidata Marina Silva teria um espaço da atenção política dos brasileiros um pouco atrás da Luciana Genro, do Psol. Ideias como esta do "governo dos melhores" servem para demonstrar o nível baixo do debate político no Brasil, no qual a imprensa se conduz aceitando qualquer assunto que apareça para encher espaço. E Marina sabe manipular bem este clima, com sua retórica vazia de conteúdo, com as frases sem sentido que se entrechocam na própria gramática.
Mas o que é um governo dos melhores? Ora, é muito fácil, cara: é só juntar os melhores em cada área e montar um super governo. Ah, entendi. Então, no Brasil um dos melhores na economia é sem dúvida o ex-ministro Armínio Fraga. Ele tem inclusive uma boa experiência no mercado financeiro, sem o qual hoje em dia não se realiza nada na economia de um país. Ele estará no governo dos melhores? Eu sei que Aécio Neves já tem o plano de nomeá-lo ministro da Economia, mas creio que com Marina presidente o candidato tucano não se negará a cedê-lo para um governo dos melhores.
A não ser que a Marina ache o Fraga competente para um governo dos melhores, mas só se for do Aécio, não é mesmo? Ora, não existe esse negócio que a Marina inventou para chamar a atenção. O que existe é um governo composto a partir da capacidade na articulação e no convencimento da classe política e da sociedade civil. E no Brasil do desmantelamento social que aí está o poder dos primeiros é quase absoluto. A sociedade civil tem cada vez menos influência na formação de qualquer governo.
Então, qualquer um que vença esta eleição terá de entrar em acordo com os partidos para a formação de um governo. Existe outra maneira, mas isso já foi experimentado no Brasil e não deu certo. Em 1964 os militares se cansaram do caos político e deram um golpe para fazer um governo dos melhores, nomeando quem eles queriam e do jeito que eles queriam. Ou seja, na marra. Foi o método de onde surgiram administradores públicos como Paulo Maluf e José Sarney.
Será na negociação com os partidos que uma Marina eleita presidente terá de montar seu governo. Não se monta governo em país algum do mundo simplesmente buscando na sociedade seus melhores quadros. Isso é lorota que pode encantar grupelhos sem noção política, mas não tem resultado prático na hora de fazer a coisa. Numa democracia os partidos são a ligação entre a sociedade e o governo. E se não temos partidos decentes para isso, azar o do país. Qualquer presidente terá de se virar com esses que aí estão.
Antes de fazer um governo dos melhores, Marina poderia ajudar bastante o país finalizando outro serviço que não fez direito. Nossos partidos não são grande coisa, mas ela não tem nem o dela. Na sua carreira política, a candidata não conseguiu realizar nem o que já foi feito por Luciana Genro, o Pastor Everaldo e até mesmo o candidato Levy Fidelix, que é juntar assinaturas num papel, cumprindo um requisito básico para montar um partido, instituições essenciais em qualquer governo, principalmente se for dos melhores. A não ser que esta proposta da Marina seja tão revolucionária que ela esteja pensando em eliminar esta etapa.
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POR José Pires
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