O Ministério da Educação é uma terra desolada, como dizia o bom e velho T. S. Eliot, que também afirmava que abril é o mais cruel dos meses, mas é improvável que o ministro Vélez Rodríguez chegue até lá para conferir se em Brasília a coisa também é assim. Mas nem precisa. Ele passou todo esse primeiro trimestre amargando os dias de uma forma que, pelo que lembro, nunca aconteceu desse jeito com outro ministro na história deste país.
Foi intensa a boataria de que o ministro cairia nesta sexta-feira, logo que se soube que ele estava no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro. De imediato, o ministro da Casa Civil, Ônyx Lorenzoni, correu para garantir à imprensa que Bolsonaro “vai demitir coisa nenhuma”. “O presidente confia nele”, garantiu. Mas o que sabe Lorenzoni sobre firmeza no cargo?
Mas deveria ao menos saber que é péssima a situação de um ministro quando a informação de que ele está em reunião com o presidente causa um alvoroço na imprensa. É quando despachar com o chefe passa a ter outro sentido. E olha que assunto de trabalho é o que não falta para um tetê-à-tête de Vélez Rodríguez com Bolsonaro. O serviço está empacado desde que ele assumiu o cargo.
O ministro está com dificuldade até para nomear secretário-executivo, cargo que até o momento está em “stand by” — como se diz hoje em dia —, talvez à espera de sinais telepáticos vindos da Virgínia, numa terceira tentativa, agora de um nome que já é bastante refutado desde que apareceu no noticiário.
Mesmo o corriqueiro dentro de um ministério não vem sendo desenvolvido na Educação, onde não se deu andamento nem às avaliações básicas em um novo governo e até a essencial compra de livros didáticos ficou embolada, enquanto Vélez Rodríguez virou um gestor de crises, uma atrás da outra, depois de várias propostas extravagantes, com uma encrenca atrás da outra, além das polêmicas que aparecem toda vez que o ministro resolve falar alguma coisa.
O drama teve seu enredo piorado com a confusão em torno de discípulos de Olavo de Carvalho, o velho professor de filosofia que teve um papel importante na criação do clima político que facilitou a eleição de Bolsonaro. Vélez Rodríguez foi indicado por ele, sendo mais uma vítima da predileção de alguém com a fama de ser capaz de promover a mudança do amor para o ódio com uma velocidade e agressividade surpreendentes. Quem se espanta com o que Olavo vem fazendo em público com Vélez Rodríguez é porque desconhece o que já aconteceu no COF, seu curso de filosofia, com histórias lamentáveis de agressão política e intelectual feitas pelo mestre a seus alunos, sob o pretexto de qualquer divergência.
É claro que este comportamento foi levando ao afastamento das melhores cabeças, formadas sob a influência de Olavo de Carvalho, com uma perda de vigor exatamente na base de sustentação de qualquer filosofia, que é a discussão crítica. Se Sócrates tinha a síntese esclarecedora do “só sei que nada sei”, com Olavo é na base do “só sei que você não sabe nada, sua besta”. Parece piada, mas pode ser considerado como, digamos, um “sistema filosófico” que ele segue estritamente.
Com todo o respeito, mas não resistindo a parafrasear o próprio ministro, o professor da Virgínia é um canibal. Vélez, coitado, sucumbiu a um desarranjo que inclusive serve como demonstração de sua dificuldade intelectual ou mesmo de experiência de vida, porque pela convivência, ainda que distante fisicamente, ele tinha a obrigação de saber dos maus bofes de Olavo.
A permanência de Vélez Rodríguez está em uma condição arrasadora, que é aquela do ministro que é preciso que alguém do governo esteja sempre garantindo que ele está firme no cargo. E é ainda pior quando este aval vem de Ônyx Lorenzoni, que sequer desconfia que a frase garantidora já virou uma piada pronta na política brasileira.
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POR José Pires
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