terça-feira, 5 de março de 2019

Olavo de Carvalho e Bolsonaro: parceiros na falta de ânimo da direita

Na página de Facebook de Olavo de Carvalho pode ser visto um sinal interessante da dificuldade que a direita vem tendo para o debate produtivo e a troca de ideias. É um silêncio total nas áreas de comentários. Antes era diferente. Existia entusiasmo. Mesmo com as dezenas de comentários em sua maioria convergindo ao entendimento de que Olavo é o gênio da raça, havia algo para aproveitar da conversação debaixo dos posts.

Com número de amigos sempre no limite da contagem de cinco mil e quase 600 mil seguidores, hoje em dia a página do professor da Virgínia tem pouquíssimos comentários embaixo dos posts sempre furibundos. É sempre abaixo de dez comentários, muitas vezes apenas um ou dois, o que é estranho na página de um professor de filosofia que segundo consta tem milhares de alunos e cuja proposta filosófica resultou na eleição de um presidente.

Além disso, Olavo se elevou ao que se pode chamar de “crista da onda”, a partir do sucesso conquistado com a eleição de Jair Bolsonaro e a influência junto ao presidente na nomeação de dois ministro importantes, na Educação e nas Relações Exteriores. A ministra Damares Alves tem também a ver com seu perfil, digamos, intelectual, nos temas de comportamento, como o do chamado “kit-gay”, que teve no professor um importante propagador antes da onda bolsonarista começar a levantar.

Tendo sido um difusor importante dos conceitos que criaram o clima para a eleição deste governo, a página de Olavo deveria ser o centro de uma animada discussão, além da exaltação desse momento que o país vive. Mas não é isso o que acontece. Como se dizia antigamente, o clima é borocoxô. Sei que o professor é de maus bofes e intimda a classe, mas o número baixíssimo de comentários na sua página pode ter também uma relação com a desânimo que se abateu sobre a maioria dos eleitores deste governo.

A verdade é que Bolsonaro não teve capacidade de capitalizar o movimento de massas que o levou ao Palácio do Planalto. O sujeito é totalmente sem noção. Falta também inteligência e capacidade de articulação no padrão político em seu entorno, que tem extrema dificuldade de encaminhar pautas que elevem o espírito dos que depositaram votos e esperança em uma transformação sem precedentes no país. Ao contrário disso, nesse governo todo dia é uma agonia.

Temos aqui o caso interessante de uma frustração popular na mesma medida do excesso de expectativas, que eram falsas, mas isso não importa. Quando isso ocorre, a consequência só pode ser esta que o governo Bolsonaro já vem sentindo, de uma decepção que se não for contida com urgência por medidas animadoras, seguirá a tendência de virar um desprezo que arrasará com sua governabilidade. No poder, o PT levou mais de dez anos para sentir este efeito demolidor. Bolsonaro colheu com mais rapidez esta rejeição, queimando seu filme de forma inédita já nos primeiros dois meses.
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POR José Pires

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