sexta-feira, 1 de março de 2019

Com a grita da direita nas redes sociais, Moro recua e revoga nomeação de Ilana Szabó,

O ministro Sérgio Moro recuou na nomeação de Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. A revogação da nomeação foi anunciada no início da noite desta quinta-feira. Embora o organismo não seja determinante na política do Ministério da Justiça, conforme ele mesmo já havia explicado ontem em resposta aos ataques nas redes sociais logo que foi anunciado o nome da cientista política do Instituto Igarapé, o recuo de Moro é um erro grave.

Como se costuma dizer, no popular, o corajoso ex-juiz da Lava Jato piscou e fez isso no momento errado. Notei que assim que divulgaram a notícia da nomeação de Ilona, de imediato começou a aparecer farto material nas redes sociais. No Youtube já haviam postado vídeos com ataques agressivos. Pesquisando-se o nome da nomeada apareciam à frente materiais de críticas, sempre naquele nível barra-pesada do bolsonarismo.

O Ministério da Justiça perde uma colaboração importante. Em muitas notícias sobre a nomeação de Ilana Szabó ela era identificada como “ativista”, o que pode causar uma lamentável confusão sobre suas qualidades, já que hoje em dia parece que basta imprimir uma camiseta com uma frase marcante e sair com ela em imagens nas redes sociais para ser visto como um ativista. Na verdade, Ilana tem grande conhecimento sobre segurança pública e a questão das drogas no mundo, com uma participação intensa em entrevistas, debates, palestras e assessorias sobre esses temas, interagindo com estudantes, empresários e várias instituições da sociedade civil, inclusive organismos representativos do empresariado.

É claro que ela pensa de forma diferente do bolsonarismo não só sobre segurança pública como em outras questões muito discutidas hoje em dia, mas é exatamente por isso que sua presença seria de ampla utilidade para o Governo Federal. Procuro acompanhar as opiniões de Ilana já há algum tempo e deixo claro que em muitas coisas penso completamente diferente dela, mas acontece que sua opinião é bem fundamentada. Como costumo ampliar meu conhecimento na divergência bem fundamentada, para mim tem tido um bom efeito.

Claro que seria de grande utilidade para o trabalho do ministro Moro uma voz crítica em um conselho ligado diretamente aos sérios problemas que ele enfrenta. Foi por isso evidentemente que ele fez a nomeação, revogada agora depois de uma agitação histérica da direita nas redes sociais. Com este recuo, Moro deu um mau sinal para esses bandos de arruaceiros digitais, que nada têm de espontâneos.

A grita é organizada por um esquema subterrâneo altamente profissional e muito bem equipado. Ao ceder na primeira onda de ataques que recebeu, o ministro da Justiça estimula um controle sobre as ações de seu ministério. De agora em diante, cada passo seu terá a exigência da aceitação dessa rede subterrânea montada durante a campanha de Bolsonaro, que segue no monitoramento e nos ataques digitais com o objetivo de manipulação da opinião pública  e o controle de tudo que é feito no governo.
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POR José Pires


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Imagem- Ilona Szabó e Sérgio Moro participam de debate
no Fórum Econômico Mundial, em janeiro, em Davos

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