quarta-feira, 27 de março de 2019

Negócios, negócios, política à parte

O entendimento do governo Bolsonaro com o Congresso Nacional se complica até por falas do presidente que vêm a público com certo atraso. A Folha de S. Paulo publica nesta quarta-feira algo dito por ele a empresários que o visitaram. “Não vou jogar dominó com o Lula e o Temer no xadrez”, ele disse, referindo-se às negociações com políticos e seus partidos.

A referência a Temer faz crer que foi um encontro quando o ex-presidente ainda estava preso. De efeito retardado, a batida é feito um tapa na cara do Congresso Nacional.

Não deixa de ser significativa essa interpretação absoluta de uma negociação política como sendo chave de cadeia. Não ajuda muito, especialmente em um governo que só está patinando, sem falar nas recuadas, uma atrás da outra.

É interessante como é marcante sua fixação na conceituação da essência da política — que está no convencimento, na negociação — como um mero artifício para faturar em interesse próprio. Eu diria que é uma questão de ponto de vista.

Mas Bolsonaro deveria guardar para suas memórias essa forma de ver a atividade na qual passou a maior parte da sua vida. Pode ser interessante, no futuro, saber das falcatruas que ele parece conhecer a fundo e sobre as quais ficou calado durante três décadas como parlamentar.

Alguém devia dizer-lhe que agora, enquanto está no cargo mais importante de sua carreira, sua responsabilidade é pela criação do conteúdo dessas memórias. E pelo que foi visto até aqui, nesses poucos meses de governo, que podem ser lidos como um preâmbulo, pode-se prever páginas amargas pela frente.
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POR José Pires

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