quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

De olho em Cuba pelo Granmma

Como a internet permite e aqui ela é livre, tenho acompanhado pelo Granmma a visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba. E nem vou chamá-lo de órgão oficial do governo cubano, pois lá toda a imprensa é órgão oficial. O Granma é o sonho de consumo do poder petista: controle de mídia é isso. No site não sai nem uma palavra que não seja do interesse do governo.

É claro que isso cria problemas graves na qualidade jornalística. Veja na imagem a chamada da primeira página, que vou repetir aqui. Vai em espanhol mesmo: “El General de Ejército Raúl Castro Ruz, Presidente de los Consejos de Estado y de Ministros, recibió en la mañana de este martes a la excelentísima señora Dilma Rousseff, Presidenta de la República Federativa del Brasil, quien realiza una visita oficial a Cuba”.

Com a breca: uma autoridade em visita é chamada de "excelentíssima senhora". Em texto este formalismo não é usado hoje em dia nem em repartições públicas e muito menos por qualquer publicação, mesmo que seja oficial. No Brasil, os jornais tratavam autoridade como excelência apenas dos anos 50 para trás. Ou seja: na primeira metade do século passado. O Granmma foi fundado en 1965, mas ainda hoje segue a forma dos jornais sul-americanos dos anos 50. O site vai na mesma linha.

A revolução cubana é de 1959. Por um breve período, jornalistas e intelectuais mas criativos foram sendo afastados de qualquer atividade ligada à comunicação. E estou falando de gente que participou da revolução. Quem não concordava com o estilo de linguagem do poder caía fora. E depois disso nenhuma inovação de linguagem penetrou em qualquer publicação cubana. Na ilha tudo o que é impresso é do governo. Rádio e televisão também são estatais e a internet é controlada.

Isso deu a ilha uma comunicação de péssima qualidade, na qual o Granmma é um exemplo de produto mal feito desde antes da internet. Me lembro que uma das minhas primeiras decepções com o regime cubano foi quando peguei pela primeira vez nas mãos uma exemplar do Granmma. E era um perigo naqueles anos 70 ser visto lendo o jornal cubano.

Me espantei como o jornal era mal escrito e graficamente horrível. Estávamos numa ditadura no Brasil, mas tínhamos acesso a bons autores e já criávamos por aqui uma boa qualidade gráfica em revistas e jornais. Na literatura, excluindo os nossos, entre os latinos americanos tínhamos Juan Rulfo, Julio Cortázar, Vargas Llosa, Manuel Scorza, e tantos outros, bastante mesmo, incluindo escritores amigos de Fidel Castro, como o colombiano Gabriel García Márquez.

Então como era possível um país revolucionário fazer um treco feio como o Granmma? Devo ter brincado com a situação: mas foi para isso que fizemos a revolução? Hoje na internet o Granma continua muito ruim. O texto é uma tristeza de tão mal escrito, a qualidade gráfica do site fica lá embaixo e não se percebe nenhum interesse em procurar usar a criatividade para dar algo melhor ao leitor.

Mesmo quem não tem o interesse em se aprofundar na discussão ideológica da questão cubana pode fazer a comparação disso com o que vem sendo produzido em todo o mundo com a tecnologia gerada pela internet. Vai perceber que Cuba está atrasada em inovação. E a criatividade é zero.

E nem dá para botar a culpa em embargo ou usar qualquer outra desculpa que sempre aparece para tentar amenizar os atrasos da ilha e até o desrespeito aos direitos humanos. O que embota a criatividade em Cuba é um veneno interno que impede a liberdade. E sem liberdade é impossível o ser humano fazer qualquer coisa de qualidade.
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POR José Pires

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Imagem: o site do Granmma revela um defeito grave do socialismo cubano: falta de inovação e qualidade.
Para acessar: http://www.granma.cu/

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