quinta-feira, 11 de julho de 2019

A reforma da Previdência e o destino de uma esquerda sem rumo

A esquerda conseguiu ficar com a fama de derrotada na reforma da Previdência. Tentando como sempre se alinhar no perfil de combatente, não trouxe contribuição para a pauta mais importante do Congresso neste primeiro semestre. Não conseguiu colocar sua posição crítica junto à população nem elaborou propostas para melhorar ainda mais uma reforma inevitável. Não trouxe ao debate argumentação ponderada, no convencimento e na articulação inclusive com os contrários, como deve ser o debate político. O placar acachapante de 379 a 131 traz uma pista da razão da falta de rumo dessa esquerda.

Este número palíndromo (quando pode-se ler algo de trás pra frente) do 131 parece ironia do destino. Serve como simbologia para o atolamento esquerdista em batalhas vazias, confrontos que não trazem resultado prático para um país que vive em uma crise inédita, que toma conta de tudo. E para o combate a este desastre resta pouquíssima estrutura, existe a tarefa de resolver questões morais e de corrupção, pesa também a brutal violência e o crescimento do poder do crime, enfim temos uma série de empecilhos que tornam ainda mais difícil criar soluções práticas, alguma delas de necessidade urgentíssima.

É preciso reconstruir quase tudo e neste trabalho vai-se enfrentar também transformações globais com a mudança brutal forçada no campo do trabalho pelas novas tecnologias, o agravamento da questão ambiental, o realinhamento político mundial em blocos comerciais poderosos e, claro, a falência de sistemas de amparo social, como em parte é o caso da Previdência, que por variadas causas atualmente passa por um processo de discussão e reestruturação em todo o mundo.

Enquanto vive-se nesta aflição, com a maioria da população já sabendo que é preciso construir ao menos uma base mais ou menos sólida para repor forças necessárias para enfrentar os problemas, a esquerda tenta envolver o país em pautas vazias que faz sentido apenas em um círculo restrito da militância, além de servir, claro, para uma parcela igualmente restrita, no entanto muito poderosa, de salafrários que não querem ver o país com leis e regras mais sérias no combate à corrupção e aos criminosos no geral.

Enquanto os brasileiros se mantinham de olhos grudados na discussão da proposta do governo Bolsonaro para a previdência, a esquerda se ocupava com os vazamentos explorados por Glenn Greenwald, no site do qual ele é dono. O alvo, como sempre, é Sérgio Moro. Esse tempo todo foi perdido com a questão exclusivamente partidária do Lula Livre. E o pior é que não percebem que esses assuntos não pegam e até causam alta rejeição. Além disso, falta massa de manobra para a esquerda nativa, como um Maduro tem na Venezuela e como dispõe também outro companheiro criminoso, o ditador Ortega, da Nicarágua.

Que a esquerda não se engane. É a perdedora na reforma da Previdência e pode continuar nesta posição com as futuras mudanças que virão. Mesmo quem não dá uma atenção especial para a política já percebe a falta de efetividade das propostas esquerdistas, além de ter ficado muito claro que seus parlamentares atuam só no ataque, na tentativa da desmoralização do que é apresentado pelos adversários. Em uma democracia não se elege um parlamentar apenas para o ataque a um governo, qualquer que seja sua linha política.

Isso é ainda mais claro na atual condição do país, até desesperadora. Nesta circunstância é preciso ajudar a construir, às vezes até se compondo em soluções mais amplas, fora de doutrinas partidárias. Acabou o tempo de malhar pesado um governo para depois ocupar o poder, como o PT vem fazendo desde que o partido foi criado. Esta lição se apresentou com esta reforma. Ou a esquerda aprende isso ou se manterá no papel de derrotada.
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POR José Pires


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Imagem- Sessão da Câmara de votação da reforma da Previdência.

Foto de Fabio Rodrigues Pozzebom, Agência Brasil

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