Ciro Gomes defendeu a saída da deputada Tabata Amaral do PDT por ela ter votado a favor da reforma da Previdência e cita Djavan para definir a divergência com a jovem deputada: “Desgosto de filha”, ele disse para explicar sua sensação com a polêmica.
Como se sabe, o cantor Djavan é conhecido por suas composições abstratas, com letras em que ele junta frases de sentido vago. Estilisticamente são devaneios que se encaixam com precisão na música. Funcionou muito bem em várias canções de sucesso, até porque ele é um excelente cantor, de estilo próprio e interpretações muito marcantes. É um autor de músicas realmente muito boas e se impôs em uma época em que a MPB estava coalhada de grandes artistas.
Mas acontece que Ciro foi citar exatamente um trecho da canção “Faltando um pedaço”, que tem um sentido mais claro: “desgosto de filha” é uma expressão antiga, coisa mais do interior, que toca numa questão de comportamento, que certamente deve ter um expressivo peso moral no sertão nordestino. Djavan é de Alagoas. O desgosto é pela gravidez indesejada de uma filha. Não é o caso do problema entre Tabata e Ciro.
Além disso, Ciro não é exatamente um exemplo de boa relação de um homem mais maduro com os jovens. Reparem que boa parte de suas encrencas públicas vem da intervenção de jovens da platéia, que o deixam muito irritado. Ele não sabe lidar e muito menos compreende a ousadia da juventude, muito menos sua impertinência natural. E não foram poucas vezes que sua resposta a um questionamento de alguém mais jovem é o famoso “Vá estudar, garoto!”, próprio de quem não respeita divergência, ainda mais vindo de alguém mais jovem.
E quanto à citação de Djavan em um debate sobre posicionamento político, chega a ser um despropósito, por causa da total falta de lógica que intencionalmente o compositor aplica nas letras de suas canções, um resultado trabalhado por ele com a técnica de quem cria um estilo. Acaba sendo muito bom, afloram ótimos achados poéticos que encaixam na voz de forma muito bonita. Porém, como filosofia política só pode servir para Ciro Gomes. Não pela beleza artística, mas pela falta de lógica, que embaralha a compreensão e nada tem a ver com um pensamento objetivo. Tem muito a ver com o Ciro, na sua confusa personalidade. Enfim revela-se que sua filosofia é simplesmente o djavanês.
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POR José Pires
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