segunda-feira, 19 de julho de 2010

FARC, uma discussão que só não interessa a quem tem rabo preso

O PT e a campanha de Dilma Roussef fingem que irão em cima deste assunto da opinião do vice de Serra sobre a relação do PT com as FARC, o grupo armado colombiano, mas garanto que eles recuam logo. Eles pretendiam esticar este assunto como um factóide, para desviar de denúncias que pesam sobre eles, com o dossiê contra Serra e a recente quebra de sigilo fiscal e vazamento de informações sobre vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, que ocorreu na Receita Federal.

Logo que Índio da Costa fez a declaração, dirigente petistas ameaçaram processá-lo. Mas já estão recuando e duvido que façam isso. Uma medida dessas colocaria em pauta um assunto que, de forma alguma os petistas querem ver sendo aprofundado.

Mas chega a ser engraçado ver o PT e a campanha da Dilma exercitando a manjada artimanha petista de se vitimizar em público. Fazem isso quando estão encalacrados com alguma maracutaia, o que já virou uma normalidade para eles. Sempre estão tendo que explicar em alguma treta, de tal forma que poderia até mudar o nome do partido sem perder a sigla: PT, partido das tretas.

O presidente do partido, José Eduardo Dutra, já está mudando de opinião, quando à idéia inicial de colocar o assunto na esfera do judiciário, o que significaria mantê-lo em pauta até o fim desta campanha. É um personagem tão medíocre que não sei se vale a pena lhe garantir mais publicidade", disse, engatando uma marcha à ré.

Acho esse vice do Serra preocupante, mas não por trazer este assunto das FARC para a eleição presidencial. O problema é a gente ter que passar quatro anos rezando pela saúde do Serra se ele se eleger presidente. Ora, mas a discussão que ele traz interessa, sim: se vamos eleger um presidente da República, qual é o problema em saber qual é a posição dos partidos nesta questão das FARC?

O próprio PT poderia explicar com clareza se pretendem prosseguir com a posição mantida nesses quase oito anos de governo Lula, para que pudéssemos entender inclusive o motivo de eles se sentirem ofendidos com a declaração de Índio da Costa.

Ora, o PT não fez parte do Foro São Paulo durante anos junto com as FARC? Se isso não é manter relações, então que expliquem melhor o que fazem de fato nesta entidade. E até o momento o partido não rompeu nem com o Foro e nem com as FARC.

A revista Veja publicou uma reportagem recente sopre este tema. Tem os equívocos de linguagem próprios daquela revista, mas é uma matéria recheada de fatos. Entre as informações factuais que interessam nesta caso está a do status de refugiado concedido a Olivério Medina, representante das FARC no Brasil. Medina chegou a ficar preso por mais de seis meses e sua extradição foi pedia pela Colômbia. Mas o governo Lula concedeu a ele o status de refugiado. E tem também o emprego dado à sua mulher no Ministério da Pesca, em Brasília. A mulher do representante das FARC foi para o Governo Federal a pedido da então ministra Dilma Rousseff.

Mas os petistas podem dizer que a Veja faz oposição ao governo Lula. Pois tem também a revista colombiana Câmbio que já fez matéria de capa sobre o comportamento do governo petista em relação às FARC. Este é um problema sério para a imagem do Brasil na Colômbia. É claro que não nos vêem com simpatia por lá. A não ser o pessoal das FARC, é claro.

E como Câmbio não pode ser tachada de ser "da direita" colombiana, isso não facilita o debate para o PT. A revista é do escritor Gabriel García Márquez. A reportagem foi assunto de capa, como pode-se ver lá em cima, e pode ser acessada aqui. É uma matéria muito bem fundamentada, em que afirmam que as FARC tiveram contato com dirigentes do PT e autoridades do governo Lula, inclusive do círculo íntimo do presidente. A revista teve acesso a e-mails do computador do líder das FARC, Raúl Reyes, morto em território do Equador. Câmbio disse que esses e-mails revelaram vínculos das FARC com altos funcionarios do governo Lula, entre eles cinco ministros, em relações que chegaram a "níveis escandalosos".

As FARC são extremamente impopulares entre os colombianos. Por isso o Brasil não deve ser bem visto por lá. É que existe uma diferença enorme entre fazer cena usando chapelão panamá, como fez Marco Aurélio Garcia recentemente na Colômbia, e viver num país em guerra entre terroristas de esquerda e de direita, com o exército nacional no meio.

A reportagem de Câmbio é bem longa. Quem não quiser encarar o espanhol pode clicar aqui para ler uma boa matéria sobre o caso publicada no jornal O Globo.

Este assunto poderia ir longe, mas deve parar por aqui. Gente de cima já deve ter mandado o PT parar com o furdunço, o que não é nada bom para os eleitores e também para nós, blogueiros.

É preciso parar com este comportamento partidário que contaminou a nossa imprensa e a internet. Não dá para seguir tratando os assuntos como se tivéssemos que zelar por esta ou aquela campanha. Isso é tarefa de quem faz blogs e sites para o PT e para o governo, a maioria recebendo dinheiro ou vantagens pelo serviço.

As campanhas têm gente paga para se preocupar com questões políticas e até melindres que fatalmente surgem em qualquer eleição. Daí a minha opinião de que o PT tem que processar, sim, o vice do Serra. Vamos esclarecer definitivamente este assunto das FARC. Taí um tipo de ação petista que poderia ajudar bastante a nossa democracia.
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POR José Pires

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